The Hospitals e Lobster
Imparável formação de rock'n'roll absolutamente explosivo e ruidoso (agora em quarteto), os Hospitals lançaram em 2005 o delirante «I've Visited The Land of Jocks and Jazz», na Load Records (Lightning Bolt, Sightings, Arab On Radar), após a edição do seu primeiro disco ter ocorrido na emblemática In The Red. Descendentes directos do rock mais estrambólico e avariado, seja o dos Monks, Electric Eels, The Homosexuals, Harry Pussy ou dos Comets On Fire do primeiro álbum, são guitarra, voz e bateria que transcendem as muralhas habituais desta música, com exploração de ruído dentro de estruturas composicionais igualmente fragmentadas e hiperactivas, em tensão constante. Não interferindo guturalmente na matriz do rock mais transviado e mutante, mas na do rock mais puro, os Hospitals parecem prometer um novo tipo de suor para o novo século. Quem os viu no final de 2005 na ZDB de certeza que não se esqueceu do escavaco completo que tomou lugar. O moshpit mais violento da história recente da casa, no dia em que parecia que o tecto ia cair a qualquer momento.
myspace www.myspace.com/hospitals
video www.youtube.com/watch?v=8ZSveJ3NTAw
video www.youtube.com/watch?v=8ZSveJ3NTAw
editora www.loadrecords.com/bands/hospitals.html
Duo nacional que já se afirmou como uma das mais intensas festas rock do país. Com uma parede amplificadores imponente, lançam-se com guitarra e bateria em composições e improvisações de caleidoscopia matemática, onde o fulgor hiperactivo da bateria é contraposto por seis cordas electrificadas no limite da concentração. A quem procurar paralelos pode-os encontrar na histeria espasmódica dos Lightning Bolt ou Hella, com semelhante virtuosismo e fulgor, só que muito mais stage diving. Depois de lançarem «Fast Seafood» pela Merzbau já tiveram um split celebrado com os Veados Com Fome na Lovers & Lollypops, e andarem em tour pela europa com os franceses Gatechien. Do melhor headbacking oblíquo que este país já conheceu.
myspace www.myspace.com/wearelobsters
video www.youtube.com/watch?v=UXgFrZLTgWQ
video www.youtube.com/watch?v=IbT3TW7LK9U
editora www.loversandlollypops.cjb.net
JOSEPHINE FOSTER + WARMER MILKS
Já com vários discos editados regularmente na Locust, a solo, em duo com o contrabaixista de «free jazz» Jason Ajemian no duo Born Heller, em trio de rock despido com os Supposed e acabada de organizar uma compilação na fulcral revista de pensamento contemporâneo Arthur contra a guerra no Iraque (que conta com Devendra Banhart, os Angels of Light de Michael Gira ou os Cherry Blossoms), Josephine Foster tem-se tornado das vozes mais activas e carismáticas em obra e gesto dos escritores de canção norte-americanos da sua geração. Guitarrista e harpista extremamente segura e inventiva, dona de uma voz riquíssima, de capacidades virtuosas mas sabiamente geridas, inspira-se numa série de influências. Da música da América antiga, dos espirituais e dos pré-blues em geral, das canções de bandidos e perdição da América esquecida do interior e do sul, da excentricidade e luz de Tiny Tim à placidez de uma Joan Baez em início de carreira. Ao mesmo tempo, o seu mais recente registo, «A Wolf In Sheep's Clothing», é uma contemporaneização muito simples e natural do cancioneiro clássico europeu ( de Schumann, a Brahms ou Schubert), muitas vezes esquecido por este círculo musical mais ligados às músicas independentes. Junte-se isto a um apego muito particular pela marginália dos livres, dos perditos e dos malditos da canção anglo-saxónica, como Michael Hurley ou Cherry Blossoms e deparamo-nos com uma figura de casta rara, espontânea e leve e aberta a todo o tipo de manifestações, artísticas no particular e humanas no geral. Uma das jóias da coroa do «songbook» dos Estados Unidos desta década.
Myspace http://www.myspace.com/josephinefoster
Editora http://www.firerecords.com/site/index.php?page=artists&artistid=00000000285
youtube https://www.youtube.com/watch?v=WygGRK3D3wE
youtube https://www.youtube.com/watch?v=vZBwNy0Cg4w
Da prosa, ainda não tão habitual quanto isso, que vai saindo sobre os Warmer Milks, das poucas coisas em que se vai concordando em todos os textos, é que não há definição possível encapsule todos os tipos de manifestação criativa que vão edificando. A primeira vez que os ouvimos, no final de 2005 no cd-r «Penetration Initials», mostrava-nos uma obra-prima em forma de uma canção de 20 e tal minutos, sem paragens, tipo Galaxie 500 e Savage Republic a fazerem uma jam épica de meia hora sem qualquer tipo de melodrama - só vozes lindíssimas a flutuar, encaixes de guitarra e percussão entre Grateful Dead, Pentangle ou Royal Trux. Após digressões com Six Organs of Admittance, Bonnie Prince Billy ou Howlin' Rain, foram editando em 2006 uma catrefada de CD-Rs e outros lançamentos caseiros, bem como um LP de estreia na Troubleman Unlimited, «Radish On Light». Uma espécie de princípio de versão concretizada extremada do que é querer sempre fazer diferente, sem ter obrigatoriamente que enveredar por um idioma ou encontro de idiomas de improvisação - faz-se diferente, não se perde é o feeling e a atitude. «Radish On Light» anda do freakout de free-rock, até explorações de ruído, até secções de berros aterrorizados que parece que saíram de um pesadelo garage, até momentos de canção obtusa à la Wyatt/Mayo Thompson, tudo com propriedade, abertura e concisão. Criados por Michael Turner, que inicialmente convidava gente daqui e dali para tocar com ele, foi evoluindo nos últimos tempos para um trio sediado em Lexington, Kentucky, uma das capitais do underground norte-americano hoje em dia, os Warmer Milks passam pela ZDB na primeira vez que fazem umas datas na Europa.
info http://www.warmermilks.com
youtube http://www.youtube.com/watch?v=inIoap5EzkA
BORBETOMAGUS + LOOSERS
A intersecção entre o jazz, os vocabulários do rock, da improvisação contemporânea paraidiomática e a expressão sonora livre em geral, vê, nos tempos correntes, um período de fenomenal reinvenção. À medida que os documentos e manifestações mais obscuras em música vão estando tão facilmente acessíveis como o álbum que mais vende no mundo inteiro, a assimilação de informação, a construção de ideias e a reconstrução dos géneros e das intenções artísticas criam brainstorms ligados nos conceitos, mesmo que deprovidos de comunicação entre quem chega às mesmas conclusões. Desta forma, o free jazz nado dos anos 60 e 70, a música psicadélica, o free e o rock mais angulares do Japão das mesmas décadas ou os anos de experimentação com ruído, de Stockhausen aos Wolf Eyes, passam a gerar corpos que confluem de forma indivisível. O tempo trata que o género se mutile e transforme, informado pela diferença e pela novidade; os léxicos alteram-se, e pela indistinção chega-se à revelação.
Semelhante resolução e epifania tomou lugar no final dos anos 70 nos Estados Unidos. Jim Sauter (saxofone), Donald Dietrich (saxofone) e Donald Miller (guitarra) formavam os Borbetomagus, tentanto levar as liberdades formais e espirituais concedidas pela expressão completa de John Coltrane ou Albert Ayler, a partir dos desenvolvimentos e desconstruções geradas por Xenakis e Kagel, passando pelos catálogos de improvisação da Incus, FMP ou America, casas de artistas como Peter Brötzmann, Derek Bailey, Al Shorter ou Peter Kowald. Nascia então, paralelamente à revolução novaiorquina da no wave, um novo organismo que aglutinava todos estes verbos, e disparava novas formas para as mesmas preocupações de sempre nestas andanças espirituais do rebentamento dos sentidos: liberdade e expressão totais, êxtase decibélico, performance gutural.
O impacto do trabalho que os Borbetomagus têm efectuado nos últimos 28 anos espalhou-se das mais variadas formas. Abriu terreno lado a lado com a guitarra de Rudolph Gray nos Blue Humans, informando viajantes intrépidos de semelhante alinhamento de intenções de gerações subsequentes - caso da música mais ruidosa vinda do Japão nas décadas de 80 e 90, viu a banda em colaborações com gente como Thurston Moore, Voice Crack, Hugh Davies ou Toshinori Kondo, influenciando exploradores contemporâneos como os Pelt de início de carreira ou Kevin Drumm. Mas principalmente gerou mais formas expressão sem uma escola de idioma, sem uma casa estilística que a consiga conter, nem uma cedência que abrande o turbilhão que cria e que parece só ficar maior a cada ano que passa. Primeira actuação em Portugal.
site oficial http://www.borbetomagus.com/
myspace http://www.myspace.com/borbetomagus
youtube (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=g6N8C6A6fcg
À medida que os tempos vão avançando, com eles a expressão, a acção e os vocabulários que em tempos se pautaram por marginais, extremos, progressivos e originais, vêem-se assimilados por cada vez mais pessoas. Através da integração de ideias que um dia ocuparam a periferia, por vezes deparamo-nos com situações em que tribos se formam, encontrando formas gerais repetíveis, ideias importáveis, transformando o carisma em tique grupal, o que foi originalidade um bem mais facilmente consumível e colectivamente assimilável.
Os Loosers, particularmente dos últimos três anos a esta parte, mesmo que sempre influenciados pelas movimentações contemporâneas de numerosas vanguardas, têm vindo a trilhar sempre um caminho que assenta primordialmente na criação contínua de novas ideias, acção que vive em contradição com a tribalização das pessoas e com a uniformização das formas. É também por isso que é tão difícil escrever sobre eles. A cada disco e a cada concerto temos a sensação distinta que não fazemos a mínima ideia daquilo que nos espera. Comotal, numa época em que mais uma vez a história da música independente dá por ela, em parte, a celebrar uma maneira (re)descoberta de se ser livre, a acção e o trabalho dos Loosers é prova viva que o afastamento de uma receita é, na verdade, das únicas liberdades que realmente existem na criação artística, depois de todo o dito e feito. Une-os o ritual, as novas maneiras de chegar a novas coisas, o feeling, a sensação de descobrimento, o transe, a invocação, o encantamento, o rompimento sagrado e o alinhamento ao desconhecido.
Tornaram-se num dos grandes estandartes do underground actual europeu, com lançamentos em breve na japonesa Headz, no centrão psicadélico norte-americano Eclipse, um 10\" na Not Not Fun/Fuckit Tapes e uma nova edição em vinil na italiana Qbico, que já publicou o seu «Bully Bones of Belgie» em 2006. Este é o seu primeiro concerto em Lisboa deste Setembro, altura em que partilharam o palco com os Sunburned Hand of the Man. Mais uma oportunidade para presenciar o que existe de mais aliciante - o verdadeiramente irrepetível.
youtube (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=gipospha8T4
Ruby Red Editora http://www.myspace.com/rubyrededitora
Ruby Red Editora Site http://www.freewebs.com/rubyredlabel/
BONNIE "PRINCE" BILLY + FAUN FABLES
Do momento em que imortalizou numa fotografia os Slint, na capa do clássico «Spiderland» de 1991, até ao seu mais recente longa-duração, «The Letting Go» enquanto Bonnie 'Prince' Billy, Will Oldham tem produzido detonações de explosão discreta mas profundo impacto na cronologia do que é contar uma história em palavras e canção nos Estados Unidos da América. A sua carreira subdivide-se entre a de «songwriter», a de realizador, a de autor, a de escritor, e recentemente até fez o artwork para a nova edição da Zoetroepe, publicação de Francis Ford Coppola. É hoje um dos maiores símbolos da cultura de margens, do independente, um «maverick» que, pelo calibre do produto artístico que conseguiu erguer, goza de um respeito raro nestes circuitos da periferia, que no seu caso, estão muito alargados a uma audiência de maior dimensão.
Sempre nos foi falando sobre si, mas nunca soubemos bem quando é que ele era quem. Sob as designações de Palace, Palace Music, Palace Brothers, Palace Songs, Will Oldham ou Bonnie 'Prince' Billy, sempre nos falou de si, mas sempre nos coube a nós tentar perceber quem falava, se ele, se uma fractalização de si mesmo. Sempre se dedicou inteiramente às coisas maiores da vida. Aos amores, aos amigos e aos seus, mas nunca falou de nomes, pelo que nunca soubemos de quem falava (nem com que voz).
O que vamos mantendo presente é que, sempre que precisávamos, íamos ter com ele para canções de agora, dos nossos tempos, que falavam para nós, e que possuiam a grandeza - rara hoje em dia, na canção branca anglo-saxónica - de falarem para nós, com uma maturidade, lucidez intelectual e emocional e arte, quer as tenhamos ouvido há dez anos ou as estejamos a escutar agora. E vamos precisando. Sob o signo do country, do soul, da literatura e, principalmente, das coisas grandes de todos os dias e de todos os anos, que nunca deixam de se tornar menos que basilares.
A voz foi ficando melhor e mais clara, à medida que a música foi ficando mais crua e «The Letting Go», pela enésima vez, é mais um daqueles discos que parece ficar cada vez maior a cada audição, sempre com riquezas por desvendar na forma, na estrutura, no coração, no lirismo, na discrição, na astúcia. Como um dia Cohen, Dylan, Van Zandt ou Neil Young, hoje vão sendo Bill Callahan, Chan Marshall ou Oldham que vão sendo sempre amigos em todas as horas, todos os anos, há muito tempo, que nos vão salvando, quando o que precisamos são palavras.
Depois dos concertos - sempre míticos, pelo que este será mais um desses - do Ritz, da ZDB e do Blá Blá, Bonnie 'Prince' Billy, ao vivo em Portugal, no Maxime.
Palace Records (facebook) http://www.facebook.com/pages/Palace-Records/172362162787220
entrevista (dusted magazine) http://www.dustedmagazine.com/reviews/6730
youtube http://www.youtube.com/watch?v=Oel8HNaX8Po
youtube http://www.youtube.com/watch?v=UBJ4ekzclPk
Duo de Dawn McCarthy e Nils Frykdahl, lançaram no ano passado o seu segundo longa-duração com selo Drag City, «The Transit Rider». Mescla delirante de mil tradições, de Weill/Brecht a Buffy Sainte-Marie, de Marlene Dietriech a Heidegger, de Tom Waits a Andrew Lloyd Webber, os Faun Fables encontram ainda espaço ainda no «american gothic» para criarem o seu libreto de uma Broadway psicadélica, para produzirem, mais que um relato despido do agora, uma encarnação de um circo de referências numa vasta gama de melodramas e intensificações que conseguem materializar. Levam a ficção extremada e teatralizada a cena, trazem o burlesco antiquado para o tempo actual, uma grande propriedade no conhecimento da história da canção a toda boémia e tragédia que encarnam. Parece que foram feitos de encomenda para o veludo vermelho das curtinas do Maxime, e é por lá que vão estar a abrir a noite.
Site oficial http://www.faunfables.com/
youtube http://www.youtube.com/watch?v=Wnk9q4QUeE0
PANDA BEAR + MAIO COOPÉ
Todos os concertos que pudemos ver em Lisboa de Noah Lennox, Panda Bear, no último par de anos, têm sido uma benção exclusiva a quem viveu neste espaço temporal em Lisboa. Logo na primeira vez que cá pôs os pés com os Animal Collective, um par de semanas após a gravação de «Sung Tongs», aquando da edição de 2003 do Festival da Número, tornou-se claro para todos os presentes que estávamos perante gente verdadeiramente maior a trabalhar - daqueles momentos epifânicos em que percebemos com toda a transparência que estamos a ver a coisa certa na altura certa.
Tempos volvidos, antes e depois do mítico concerto do colectivo num armazém meio abandonado no Ginjal, houve uma mão cheia de actuações que tiveram lugar, particularmente pela Zé dos Bois, onde fomos tomando contacto com o trabalho de Panda Bear, que, logo na primeira actuação em Lisboa já aí vão uns 2 anos e muito, estava já muito demarcado do anterior registo, «Young Prayer». O que vimos nascer, devagar, sempre com labor e já com o traço inteiramente definido, foi «Person Pitch», provavelmente o álbum mais unânime a ser recebido este ano pela crítica da música independente (da Pitchfork à Playboy à Uncut, todos se curvem) e dos discos mais celebrados pelo público do underground (e um pouco mais acima dele, também, e tanto melhor por isso, claro) em 2007.
Como todos os clássicos, «Person Pitch» é um aglomerado de demasiadas referências encapsuláveis numa frase discernível, tornando-se imediatamente numa referência tão ímpar quanto os nomes mais nobres que Lennox lista nas influências para o disco (de Basic Channell a Brian Wilson, de Black Dice a Phil Collins, de Arthur Russell a António Variações). Como alguns outros álbuns, raros, de «Loveless» dos My Bloody Valentine ou qualquer trabalho de Arthur Russell, parece ser daquelas obras que inspiraram a visão de David Toop de um «ocean of sound», uma existência sonora de moldes aquáticos e área aparentemente infinita em possibilidades, passível de absorver a história total das músicas, enviando uma emissão única, invariavelmente contemporânea, obrigatoriamente do agora, completamente intemporal, demasiado rica para ser totalmente assimilável de forma racional, demasiado universal para não ser recebida de braços abertos.
Nas entrevistas que antecederam e se seguiram ao lançamento de «Person Pitch» são-nos tornados claros quais os intuitos de Panda Bear com este trabalho. Coisas extremamente eruditas, tipo fazer as pessoas sentirem-se bem, criar emoções positivas nos manos e nas manas que oiçam o som, reverter tristeza para sorrisos. O nascimento da sua filha parece também transparecer, e muito, para o disco - o toque da pureza está presente do primeiro ao último segundo, concretização de todas as coisas maiores e luminosas veiculadas em total glória através do gesto, das palavras, do som e do indizível.
É então um privilégio termos um dos primeiros concertos de Panda Bear após o lançamento deste marco da música da década do século XXI, na cidade em que este objecto verdadeiramente maravilhoso nasceu, num sítio que também só poderia originar um espaço como o B.Leza, inquestionavelmente dos locais mais especiais para se estar em Lisboa a beber um pouquinho e dançar. Que venha a magia e que fique para sempre.
Página Facebook http://www.facebook.com/PandaBearMusic
Paw Tracks http://www.paw-tracks.com/
Entrevista http://www.tinymixtapes.com/features/panda-bear
youtube http://www.youtube.com/watch?v=jwwlCSHo50o
MAIO COOPÉ
Na segunda parte da noite, o «dançarino-cantor» Maio Coopé, líder dos Djumbai Jazz, vai fazer um muito raro solo para voz, cabaça e kalimba. Dos grandes embaixadores da cultura mandinga no nosso país já há vários anos, é das figuras mais carismáticas e com trabalho mais conseguido (mesmo que pouco ou nada documentado) nas culturas tradicionais da música da Guiné Bissau por cá. É uma pena que não toque todos os dias para milhares de pessoas, sempre. Festa roots, roots, roots, de arte e sorriso rasgado a entrar logo a seguir ao concerto de Panda Bear.
SKREAM + HATCHA & CRAZY D
Na sua explosão mediática de 2006, o dubstep teve três caras maiores para o público mais amplo. O buzz começava oficialmente com a saída do álbum homónimo de Burial, expandia-se com as visões apocalípticas de \'Memories of the Future\' de Kode 9 & Spaceape, e fechava o ano, no que a edições mais fáceis de obter concerne, com o lançamento do disco homónimo de Skream na Tempa. Ollie Jones, nome que está no B.I. de Skream, é, ao lado de pessoas como os Digital Mystikz, Loefah, Benga ou Mala, parte do grupo de criadores que originaram um som com parametros muito particulares. Total e completa ciência de graves, a sua definição, o seu impacto; ritmos lentos e pesadíssimos, descendentes do jungle, do UK Garage, do 2step e do dub. Através de inúmeros 12\"s e dubplates, dos vários volumes de \'Dubstep Allstars\' e de festas como a Forward>> ou a DMZ londrinas, o buzz tornou-se confirmação. E se de 2006 foi o ano em que a imprensa tomou nota, é realmente em 2007 que o resto do mundo exterior ao Reino Unido pode tomar maior contacto com as caras principais do dubstep, à medida que os seus criadores trilham também novos caminhos. Skream, com 20 anos, é habitualmente descrito como o wunderkind do dubstep, e com razão. Há já vários anos dedicado a produção, conseguiu amassar um portfolio de mais 1500 temas, o que é mais ou menos ridículo (ainda mais é que a grande maioria dos que saem cá para fora são mesmo bons...). Cresceu a ver o irmão Hijak a trabalhar na Big Apple, onde ele mais tarde viria também a ser empregado e onde viria a conhecer, no início do seu percurso, Benga. Foi absorvendo toda a música que por lá passava a uma velocidade enorme e hoje em dia passa os dias no estúdio em Croydon, no Sul de Londres, a fazer beats.Numa altura em que é possível começar a encontrar inúmeros produtores de dubstep a trabalhar o que foi, recentemente, a inovação, e a tornar as traves mestras criadas um cliché, Skream é daqueles que se vê como um produtor para lá dos tramites do género. Só quer avançar a forma, continuar a pensar, continuar a encontrar novas maneiras de chegar a sítio diferentes com a cabeça à frente, e com os beats a funcionar em galáxias fora da rota, nunca esquecendo que os puristas não são mais do que os novos conservadores. E ao vermos nomes como N-Type, Peverelist ou Headhunter a despontar, não restam dúvidas que os neurónios andam a funcionar e bem por aquelas paragens.Depois das festas com Digital Mystikz e Loefah, Kode 9 & Spaceape, é Skream a arrancar a primeira noite dubstep de 2007 em Lisboa.
myspace http://www.myspace.com/skreamuk
tempa http://www.tempa.co.uk/
youtube (Documentário sobre dubstep do BBC Collective) http://www.youtube.com/watch?v=VHaCSMJfGUA&NR=1
Criador das noites Forward>>, iniciadas nos Velvet Rooms e mantidas hoje no Plastic People em Londres, que se tornaram efectivamente nas primeiras noites dubstep regulares em Londres, Hatcha tem sido dos maiores dinamizadores do dubstep na capital inglesa. Reconhecido de forma quase unânime como o melhor DJ do género, misturou o primeiro volume das compilações «Dubstep Allstars» na Tempa, foi A&R na seminal Big Apple Records londrina e é residente na Rinse (a frequência londrina em FM mais vital para a batida de rua, do ragga, ao desi, ao hip hop). O aglutinador por excelência do dubstep, vai estar na pista do Lux a rebentar os novos dubplates (numa comunidade que vive tanto deles), whitelabels e 12\"s que fazem Londres render-se à lei do subwoofer.Reza a lenda que em 2001, quando o 2step e o garage controlavam as noites da cidade, que o Forward>> foi a casa para onde todos os que procuravam novos beats, novos sons e novas atitudes foram. Todos, de Benga, a Skream, a Kode 9, aos Digital Mystikz a Loefah, a Geenius, a Youngsta passaram e passam por lá regularmente, e foi no Forward>> que, num público de produtores e beatheads, se foi gerando a busca e o achamento do que se desencadeou no dubstep. Em 2007, a política mantém-se no forward titular, com primazia dada nas sextas-feiras organizados por Hatcha, em dar voz a quem mantêm as ideias frescas a funcionar acima da repetição de formas e o movimento a encadear-se para sítios novos.
Crazy D é o MC residente do Forward>> no Plastic People, parceiro de Hatcha no programa que os dois fazem na Kiss FM, e, a par com Sgt. Pokes, dos poucos senhores do microfone cimentados no dubstep.
myspace (Hatcha) http://www.myspace.com/djhatcha
myspace (Crazy D) http://www.myspace.com/crazydubstep
FWD http://www.ilovefwd.com/
GHOST + CAVEIRA
"Feiticeiros psicadélicos, sincretistas do rock ou apenas adeptos incondicionais de certas histórias da música popular, os Ghost são, sobretudo, uma das mais singulares bandas rock da contemporaneidade. Nascidos na cidade de Tóquio, em 1984, e liderados pelo omnipresente e desconcertante Masaki Natoh construíram um legado onde se sintetizam, enquanto linguagens vivas, o psicadelismo, o krautrock, a folk e a música oriental. Não por acaso foram, nos anos 90, “descobertos” por Damon & Naomi e de forma improvável, anteciparam todas as “novas folks”. Delicada e seriamente construída, a música deste colectivo japonês fascina pela sua naturalidade, como se vivesse num outro tempo, separado das expectativas, ansiedade ou certezas da nossa pop (a ocidental). Pode ser bela, serena, agressiva, complexa. Citar os Faust, o free-jazz, o imaginário da música clássica, monges tibetanos, o nevoeiro que cai sobre as ilhas japonesas ou o rock mais irascível. Em suma, é tudo isto, mas sem exotismos e com intuição, panache e invenção. A título de exemplo colem os ouvidos a “Hemycicle Anthelina”, de “Stormy Nights, último disco deste colectivo nipónico que, vale a pena lembrar, entre outras coisas já editou pela Sub Pop e juntou a música à intervenção política, quando em 1999 lançou, pela Drag City, Tune In, Turn On, Free Tibet.
Mas esqueçamos, por ora, quaisquer dados históricos. Afinal a música dos Ghost quer-se ouvida para lá de contextos, lugares ou datas. Para exercer o seu poder de ilusão, só precisa de estar sozinha diante de nós, num palco. “ José Marmeleira in Lux flyer
myspace http://www.myspace.com/ghostjapanpsych
entrevista (Bodyspace) http://bodyspace.net/entrevistas.php?ent_id=176
youtube http://www.youtube.com/watch?v=GO-o8dstJ80
youtube http://www.youtube.com/watch?v=1kyMaR8Kk9Y
“Querem saber quem são os CAVEIRA? Os Caveira são groove metálico, são rock de dança, são música para o corpo bailar entre os amplificadores e o riffs. Desde 2003 que, por onde passam, deixam rastos de electricidade, combustão e improviso. Tocaram na Caixa Económica Operária, na Galeria ZDB e na Aula Magna. Hoje tocam no Lux. O Devendra Banhart, a Josephine Foster e o Damo Suzuki gostam dos CAVEIRA. Mas há quem não goste. Os CAVEIRA já lançaram vários trabalhos. O cd-r África foi uma aparição, os discos seguintes, Cena Espírita e Quebranto, duas explosões. Os CAVEIRA são hard-rock partido. São Blue Cheer, Black Sabbath, Melvins, são Sonic Youth, são Keiji Haino, são free-jazz. Os CAVEIRA dão-nos silêncio, ruído, distorção, ritmo e melodias que brilham escondidas. Dão-nos música bonita. Com desbunda na cabeça e nos ouvidos. São, à falta de melhor termo, música portuguesa, mas podiam viver nos Estados Unidos. E têm um tema chamado “Fui a Sacavém” onde a bateria suga os outros instrumentos e o chão treme.
Os CAVEIRA vêm de Lisboa e eram três, mas com a saída de Rita Vozone (guitarra), agora são dois, Pedro Gomes (guitarra) e Joaquim Albergaria (bateria). E ninguém sabe para onde vão. Talvez nos digam esta noite.”
José Marmeleira in Lux flyer
myspace http://www.myspace.com/caveiracaveira
youtube http://www.youtube.com/watch?v=8muImvSsroM
WHITE MAGIC
Figura constante da Nova Iorque underground da última década, Mira Billote tem vindo a desenvolver o seu trabalho primeiro nas Quixotic e, de há alguns anos para cá, com os White Magic, onde se tem afirmado como uma voz única das novas canções norte-americanas.
«In Through The Sun Door», EP editado pela Drag City há mais de dois anos, mereceu comparações a Nina Simone, Nico, Grace Slick ou Kate Bush, com uns Bad Seeds crus e psicadélicos como banda. «Dat Rosa Mel Apibus», registo lançado na recta final de 2006, guarda a qualidade concisa do EP de estreia, e aperfeiçoa os moldes mais abertos e cerimoniosos primeiro mostrados a público num split realizado a meias com os American Analog Set, no início de 2005. Contando com Doug Shaw, Tim deWitt (Gang Gang Dance), Jim White (Dirty Three, Cat Power) e Samara Lubelski (MV & EE w/ the Bummer Road) na banda de estúdio, «Dat Rosa» é uma notável colecção de canções, pensadas a partir das espirais curtas e secas em piano e voz de Billote. A voz viaja, sem nunca perder o balanço e o peso das músicas que carrega, o piano fixa e direcciona a secção rítmica, que tanto varia entre o mais impressionista e solto (com White atrás da tarola) e o mais polirrítmico, preciso mas não menos aberto (com DeWitt nas mesmas funções), enquanto a guitarra serve como uma segunda âncora harmónica.
Uma obra entre a bruxaria e a canção eruditas, que destila classe e carisma, enviando raios de luz por detrás de um enorme manto negro, que vem a Portugal no encalce da ida da banda ao festival All Tomorrows Parties no Reino Unido, comissionado nesta edição pelos australianos Dirty Three.
myspace http://www.myspace.com/whitemagicmusic
drag city http://www.dragcity.com/artists/white-magic
youtube http://www.youtube.com/watch?v=B3-qOJhOJLA
youtube http://www.youtube.com/watch?v=qukd9e6oXXY
CHARALAMBIDES + MANUEL MOTA + OKKYUNG LEE
Banda nascida em Houston, Texas, no início dos anos 90, os Charalambides têm vindo a revelar-se como figuras fundamentais nas recuperações dos idiomas psicadélicos, na reestruturação da improvisação próxima das formas da canção, no regresso das músicas primitivas e telúricas como base de navegação para uma miríade já densíssima de artistas, tanto pelos que foram influenciando na década de 90 nos Estados Unidos, como hoje em dia já pelo mundo fora.
Progredindo das canções partidas dos Dead C e restantes conterrâneos dos anos 80 na Nova Zelândia que ajudaram a desconstruir várias caras dessa forma de expressão, e possuidores de um tremendo conhecimentos das músicas psicadélicas e marginais, Tom Carter (guitarra) e Christina Carter (voz, guitarra), começaram de tiragens mínimas - das dezenas às poucas centenas - até, em tempos recentes, passarem a editar regularmente na celebrada Kranky Records, com edições na Wholly Other de Tom Carter e na mítica Siltbreeze pelo meio. O seu trabalho mais recente, num percurso que começou a ficar mais claro e límpido em «Unknown Spin» de 2003, passando por «Joy Shapes» e «A Vintage Burden», do ano passado, são um fundamental documento do que pode ser feito com a quietude, harmonia, dissonância, exploração de texturas, cismo, interrogação, e alinhamento com as inefabilidades das transcedências que carregamos dentro de nós, procurando até elas um trilho em cerimónia, para que o íntimo regresse à superfície. É esse trabalho de emoções epidérmicas avançadas, e de desnudamento espiritual que praticam em som há anos, de que se tornaram mestres. Um avatar das vanguardas mundiais, em busca contínua, como todos os grandes de sempre. Estreia nacional.
site oficial http://www.wholly-other.com/artist.html
editora kranky http://www.kranky.net/artists/charalambides.html
entrevista para a Stylus http://www.stylusmagazine.com/articles/weekly_article/voice-for-you-an-interview-with-charalambides.htm
youtube http://www.youtube.com/watch?v=LHNcdyX43wc&mode=related&search= (ao vivo)
MANUEL MOTA/OKKYUNG LEE
Primeiro reencontro destes dois músicos depois da colaboração que tiveram em quarteto com Chris Corsano e Toshio Kajiwara, na edição de 2005 do Festival Atlantic Waves.
Incontornável guitarrista das últimas gerações de improvisadores livres, tem vindo a desenvolver há mais de uma década uma densa, fluída e idiossincrática expressão sonora e física para o instrumento, através do seu ataque «fingerstyle» à coisa. Partindo dos trabalhos avançados de uma panóplia de executantes da guitarra eléctrica, de Donald Miller a Derek Bailey, ou de Charlie Christian a Stevie Ray Vaughn, é hoje em dia um mestre do timbre, espaço e manifestação genuína num verbo amplo e aberto unicamente habitado por si. Lançou no final do ano passado o notável registo duplo «Outubro» pela sua editora Headlights, estando para sair em breve um registo em duo com Margarida Garcia pela Audiobot.
myspace http://www.myspace.com/manuelmota
entrevista para o Bodyspace http://bodyspace.net/entrevistas.php?ent_id=172
youtube (ao vivo na zdb) http://www.youtube.com/watch?v=A2iCe7q-muI
Das figuras actualmente mais proeminentes da improvisação novaiorquina, Okkyung Lee tem-se afirmado muito rapidamente dentro dos milieus da música livre, da música experimental, do jazz e da improv mundial. Virtuosa de violoncelo, tanto trabalha performance feérica devedora da «fire music» dos anos 60, como é capaz de encontrar voz em trabalhos de colagem e gravações de campo, ou em lânguidas explorações harmónicas no seu instrumento. A sua lista de colaborações vai desde Derek Bailey a Mike Ladd, de John Zorn (que editou o seu registo de estreia na Tzadik) a Fred Frith, ou de Jim O\'Rourke a Christian Marclay.
info http://okkyung.wordpress.com/
myspace http://www.myspace.com/okkyunglee
youtube (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=fR9ycY1IscI
DIRTY THREE
Vai para cima de uma dúzia de anos que o trio australiano de Warren Ellis, Mick Turner e Jim White vai lançando discos cá para fora. De digressões nos meados dos anos 90 com Sonic Youth e Pavement, até Turner e White se terem tornado (para «Moon Pix») a banda de Chan Marshall, até às colaborações de Turner com Will Oldham, até Ellis se alistar a tempo inteiro nos Bad Seeds de Nick Cave e, agora, nos Grinderman.
Os Dirty Three estreiam-se em Portugal, no Lux pouco tempo depois de serem convidados a comissariar uma das edições do festival britânico All Tomorrow’s Parties a ter lugar este ano. São dos poucos estandartes do que foi mais marcante da música independente dos anos 90 e dos poucos que se souberam aguentar até ao último quarto da primeira década do século XXI com o mesmo porte, o mesmo rasgo, a mesma importância, e um trabalho sempre coeso e inquisitivo.
Formação invulgar - violino amplificado, guitarra eléctrica e bateria, e para quem não os conhece, saiba-se que há largo tempo vão salvando muito coração perdido. Travam uma batalha de outros tempos, mais clássicos, de encontrar o belo e o sublime, mas levam com eles toda a sujidade e lirismo gutural que lhes oferece a elevação. Parecem trabalhar por índices de beleza, mas nunca a tratam de forma óbvia. Parecem conseguir erguer estruturas de harmonia, textura e ritmo sem nunca lhes dar formas demasiado concretas, laborando e edificando sempre a partir do sensorial, do abstracto, das estruturas fantasmas dos sentimentos, porque sempre souberam que, quanto mais óbvio o sentimento e a forma como se o toca, menor a experiência, menor o impacto. O sensorial no seu melodicamente mais puro, o transcendente no seu mais harmoniosamente catártico.
Jim White e Mick Turner, na bateria e guitarra, respectivamente, autênticos impressionistas livres, num universo cada vez mais cadenciado em empatia e liberdade. Warren Ellis, violino, parece em palco ser o último dos românticos e o mais intenso de todos, todo ele catarse e salvação pelo rebentamento. Com clássicos no seu catálogo como «Horse Stories», «Ocean Songs», «Whatever You Love, You Are», lançaram em 2005 - «Cinder», o seu registo mais recente com participações de Sally Timms e Chan Marshall. É só mais um disco dos Dirty Three - mais um disco diferente dos outros todos que vieram antes.
site oficial http://www.anchorandhope.com/
myspace http://www.myspace.com/dirtythree
video http://www.youtube.com/watch?v=EHEkzLQyG48
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=NEERfJDBZqA
JACK ROSE + DAVID MARANHA
Das referências principais do que é tocar guitarra acústica hoje em dia, Jack Rose tem-se vindo a afirmar com a maior solidez como um virtuoso das seis e doze cordas de aço, bem como dos poucos que prossegue para novos territórios a partir do legado deixado ao instrumento pela escola da Takoma de John Fahey, por Robbie Basho, Sandy Bull, Peter Wright ou Charley Patton.
Partindo do vocabulário dos delta blues, da raga indiana, e de uma mescla de vários dialectos da guitarra e outros instrumentos irmãos, Rose é dos raros criadores que inova a partir das músicas tradicionais telúricas, em direcção a resultados, formas e direcções contemporâneas. Passou por cá há já quase três anos, quando tinha acabado de lançar ‘Two Originals Of...’ (compilação de dois discos de tiragem mais limitada), sendo que entretanto editou dois imaculados registos - ‘Kensington Blues’, bem celebrado pela crítica, e recentemente um álbum homónimo pela aRCHIVE.
myspacehttp://www.myspace.com/jackrosekensington
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=7i1vHAKL0rQ
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=_qYhZlpotDs&mode=related&search=
editora http://www.vhfrecords.com/jackrose/
Co-fundador da lendária instituição que são os Osso Exótico, David Maranha produz, há praticamente duas décadas, um trabalho de enorme cuidado e critério, desenhado à volta de pesquisas e realizações sobre as formas do drone, do estudo das ressonâncias, do minimalismo e de várias escolas de música repetitiva, bem como da desconstrução de idiomas e verbos musicais.
Vem nesta ocasião apresentar-se no dobro, instrumento onde tem explorado ‘clusters’ harmónicos inusitados, espaço, timbre e textura, com réstias espectrais de algum blues de tradição delta. Tem aumentado recentemente no que diz respeito a actividade ao vivo, com vários concertos enquanto Curia (com Manuel Mota, Margarida Garcia e Afonso Simões), em duo com Margarida Garcia, mantendo sempre a sua actividade com Patrícia Machás, André Maranha e Francisco Tropa nos Osso Exótico. Das figuras maiores da música livre nacional, em constante estado de graça.
myspacehttp://www.myspace.com/ossoexotico
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=Wjz1NQM5HVg
OUT.FEST 2007
Foi com prazer que aceitámos o convite do Out.Fest para programar os primeiros concertos estrangeiros da história deste festival, que irá decorrer, na sua quarta edição, entre 16 a 23 de Junho. Focando-se principalmente nas novas músicas experimentais, livres e urbanas produzidas em terreno nacional, a programação este ano investe na política de dar espaço a quem vai explorando em som e forma em Portugal, mas convidando também alguns nomes estrangeiros de relevância maior no campo das músicas periféricas.
Site Oficial http://outfest.no.sapo.pt/
myspace http://www.myspace.com/outfestbarreiro
WOLF EYES
Figuras de proa indisputadas da revolução do ruído a ter lugar nos últimos anos, os Wolf Eyes são os reis contemporâneos no campo do trabalho textural sobre ruído em formas novas (Anthony Braxton, bastião do free jazz reconheceu-o; Thurston Moore dos Sonic Youth prestou vassalagem), partindo tanto de explorações de formas abertas, como trazendo o noise para o formato, muito distorcido e actualizado, de canção rock. Editaram em 2006 ‘Human Animal’, segundo registo lançado pelos Wolf Eyes na Sub Pop, testamento maior a todo turbilhão de criatividade que têm vindo a gerar, influenciando centenas de criativos e miúdos a pegar num microfone, nuns pedais de efeitos e a berrar mais um bocado de verdade.
myspace http://www.myspace.com/therealwolfeyes
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=SMssiOp9bbA
editora (American Tapes) http://americantapes.us/
editora (AA Records) http://www.wolfeyes.net/aarecords/
entrevista http://www.dustedmagazine.com/features/238
John Olson aconselha http://www.dustedmagazine.com/features/203
ORTHODOX
Banda oriunda de Sevilha, editaram recentemente ‘Gran Poder’ pela Southern Lord/Alone, alto tratado de doom metal andaluz. Afirmando que têm como influências maiores Black Sabbath e John Coltrane, pegam no cerimonialismo doom, na parafernália pagã que lhes é local, conseguindo trabalhar formas abertas e invulgares nos canones do metal. Um exemplo ímpar de música fresca a sair de Espanha, que se apresenta em estreia nacional no Out.Fest.
editora http://www.southernlord.com/band_ORT.php
myspace http://www.myspace.com/orthodoxband
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=e0vwghRBAPQ
OUT.FEST 2007 - SAMARA LUBELSKI + AKI ONDA
Fundadora dos Hall of Fame, membro da Bummer Road/Medicine Show de Matt Valentine, e produtora para registos maiores de artistas como os Sightings ou Mouthus, Samara Lubelski está prestes a lançar o seu segundo disco de canções pela novaiorquina Social Registry. Violinista e compositora, trabalha o formato canção com uma visão harmónica e orquestral muito própria, pertencente a uma linhagem que une Kevin Ayers, a Robert Wyatt ao próprio Matt Valentine. Recentemente fez também parte da banda para o próximo registo a solo de Thurston Moore, a sair em breve. Apresenta-se ao vivo com dois membros do colectivo/comuna germânico Metabolismus, com quem tem vindo a colaborar de há mais de uma década para cá.
site oficial http://samaralubelski.com/
myspace http://www.myspace.com/samaralubelski
video http://www.youtube.com/watch?v=Hr2uHf7YBXQ
Artista de destaque nas músicas experimentais japonesas da última década, Aki Onda é um improvisador, arquivista e crítico de reputação nos meios da música exploratória. Seja através dos seus quatro “radio dramas” já editados, como através da maravilhosa série ‘cassette memories’, em que trabalha gravações de campo antigas e actuais, tratando-as como um diário constante. Tem vindo a colaborar com artistas como Loren Connors, Jac Berrocal, Michael Snow, Oren Ambarchi, Otomo Yoshihide ou Linda Sharrock em variados contextos de criação ou improvisação. Para além de um currículo já longo também enquanto crítico, Onda tem ainda um percurso nas artes visuais, tendo exposto por duas ocasiões nos Anthology Film Archives novaiorquinos. Estreia nacional.
site oficial http://www.japanimprov.com/aonda/
video (ao vivo) http://www.youtube.com/watch?v=4ruypH6wsjU
entrevista http://www.japanimprov.com/aonda/interview05.html
Calendário de concertos do Out.Fest:
16 de Junho - AMAC
Variable Geometry Orchestra (VGO)
Tsuki
17 de Junho - AMAC
Wolf Eyes
Orthodox
Tropa Macaca
22 de Junho - AMAC
Samara Lubelelski
Curia
Aki Onda
Manuel Gião
23 de Junho - Avenida da Praia
CAVEIRA
Josué O Salvador