JANDEK
Há um pouco mais de três décadas, em Houston, no estado norte-americano do Texas, uma editora, a Corwood Industries, produzia o seu primeiro álbum, 'Ready For The House', atribuído ao grupo The Units. Na capa, uma sala daltónica e a janela selada por uma cortina amarela; no disco, uma guitarra acústica afinada para lá de qualquer normalidade, uma voz como uma aparição, desolada e inatingível. Poucas palavras, esparsas, brutalmente exactas e simples.
Foram necessários três anos para que a Corwood voltasse a lançar outro registo, mas em 1981, com 'Six on Six', surge pela primeira vez o nome Jandek (em substituição, por razões legais, de The Units). No quarto de século que se seguiu, mais de meia centena de álbuns viriam a ser editados por esta entidade, que escolheu nunca conceder uma entrevista sobre o seu trabalho, nunca ser fotografada para o público a não ser através do artwork dos seus discos, e nunca se apresentar num concerto, até 17 de Outubro de 2004. Essa tarde em Glasgow, no âmbito do Instal Festival, um “representante da Corwood Industries” subiu ao palco para cerca de duas horas de música. Para muitos, foi como se célebres reclusos como Pynchon ou Salinger estivessem pela primeira vez aos olhos do mundo. Desde então, Jandek tem-se vindo a apresentar ao vivo, com formações variáveis constituídas maioritariamente por músicos locais às cidades em que toca, com uma regularidade assinalável (mesmo que nunca excedendo a dezena de espectáculos por ano).
A sua música, como talvez nenhuma outra, não é comparável com exactidão a nada. Herda, de uma forma muito primordial em algumas canções, uma métrica dos blues primitivos; lida com um atonalismo que lhe é exclusivo, com completa soltura harmónica, estrutural, emocional. Canta-nos a partir de um sítio onde olha todas as coisas com clareza e poesia, aterrorizante como só um ser humano a mostrar-se ao universo no seu estado mais despido, pujante e trémulo o pode ser. Será, porventura, essa a única maneira desta expressão total sobreviver - num sítio onde o mundano não a consiga tocar. Explosões, momentos de quietude absoluta, meditações e ruminações, momentos de difusão e revelação, impolutos de justificações.
Este conjunto de factores fizeram de Jandek um dos criadores mais debatidos do séc. XX por parte de todos os que tomaram conhecimento da sua obra; todas as incógnitas à sua volta, e o facto de os seus discos só poderem ser adquiridos através da fonte, continuam a contribuir para que o mito e a ignorância acerca do mesmo persistam, e que essa discussão não se alastre para um maior número de pessoas.
Contudo, não existe nada de escondido na sua música, nada para explicar - tudo o que há para perceber reside lá, e é nessa totalidade, da oferenda e do silêncio, que vive um dos grandes corpos de trabalho em música deste e do último século. Canções, spoken-word, peças e improvisações de pura e angular energia, pianos massacrados, rockers sorridentes, lamentos espíritas.
Jandek personifica a música num estado de que esta se tem vindo a afastar, o de uma existência verdadeiramente individual, incólume, desconectada de qualquer convenção espiritual, intelectual, social. A brutal transparência dos honestos, de um artista que unicamente nos apresenta a sua arte, onde todas as respostas oferecidas dispensam qualquer pergunta.
site oficial http://tisue.net/jandek/
myspace http://www.myspace.com/jandek
documentário http://www.jandekoncorwood.com/trailers/Trailer%20Final%20Large.mov
uma co-produção com a Fundação Serralves
SIR RICHARD BISHOP + TÓ TRIPS + GABRIEL ABRANTES
Elemento fundador dos históricos Sun City Girls, iniciou publicamente o seu trabalho a solo em guitarra acústica de cordas de aço, guitarra clássica e guitarra cigana aquando do lançamento de «Salvador Kali Inc.», álbum editado pela Revenant de John Fahey (à época ainda entre os vivos). Tem vindo a lançar vários álbuns em selos como a Locust, a Latitudes, ou, mais recentemente, a Drag City, em registos que vão do improviso à composição, reunindo influências da escola Fahey/Basho/Bull de «fingerpicking», flamenco e De Lucia, rembetika, Chet Atkins, Django Reinhardt, música tradicional cigana, indiana e norte-africana, informado por décadas de profundíssimo conhecimento de manifestações musicais marginais e libertações de forma e espírito várias.
Pivotal explorador do instrumento, ao lado de contemporâneos como Steffen Basho-Junghans, Jack Rose ou Tetuzi Akiyama, regressa este ano depois de um par de concertos em Lisboa que ficaram a ressoar na cabeça de todos os que tiveram o privilégio de assistir.
Tem partilhado palcos com Animal Collective, Earth, Smog, Devendra Banhart ou Will Oldham. Colabora, com o seu irmão Alan Bishop no leme, com a fabulosa Sublime Frequencies, editora dedicada a gravações de campo, intercepções radiofónicas e demais ilegalidades altruístas, captadas em ruas e estúdios de Níger, ao Cambodja à Síria. É também, de há muito tempo para cá, um tratante independente de literatura mística, mágica e esotérica, portanto quem se quiser orientar de umas raridades do género diga-lhe qualquer coisa antes dele viajar para cá (nós não ganhamos comissão nem ele nos pediu para escrever isto).
Merece todas as salas cheias do mundo, porque existirão poucos músicos tão generosos, virtuosos, livres e universalizantes a pisar palcos hoje em dia. Um verdadeiro mestre contemporâneo para mais um recital de humanidade.
site oficial http://www.sirrichardbishop.net/
video http://www.youtube.com/watch?v=rdeMupD7RXU ao vivo em Oakland
Incontornável rockeiro das últimas duas décadas deste país, de Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre, a Lulu Blind até aos Dead Combo, numa nova fase de um trabalho a solo que nos últimos meses chegou a sítio muito particular.
Pegando num lirismo que é lisboeta até à medula (não tem que ser fado para se soar daqui), Trips pega na guitarra clássica com a maior das simplicidades, objectividade melódica e alto entendimento harmónico da escuridão que viver neste país consegue ser em alguns dias. A perpassar por todos os temas deste registo, está, contudo, uma luz tão honesta que só os corações que são bons de verdade conseguem mandar. A eterna história da esperança nas trevas e quê, aqui posta em prática por gente que já aí anda há tempo e canta com propriedade.
Sem qualquer demérito para o trabalho anterior do Tó, parece-nos que aqui, nesta nova etapa, encontrou uma voz realmente sua e ímpar, uma voz realmente daqui. Música para partir corações e iluminar dias, nesta noite com cenário condigno.
myspace http://www.myspace.com/totripsguitar
video http://www.youtube.com/watch?v=uCP4QeRUTKk ao vivo no Musicbox
Artista visual e criador livre de productividade miraculosa apresenta algo como 'violino místico guitarra arqueada com vocalizações pan-harmónicas religiosamente reverberantes em quatro canções sobre amizade, Oprah Winfrey, Martha Stewart, viagem transcontinental e cocó." Mais um capítulo, agora em performance e música, na história de uma das cabeças a pensar melhor e mais depressa em Lisboa.
galeria http://www.111.pt/
GAVIN RUSSOM + AQUAPARQUE
Uma sala, um P.A., um público, um sinal – som e espaço. Dois universos intrinsecamente ligados à música, raras vezes interiorizados e manuseados com tanta ciência e carinho como por Gavin Russom. Construtor de sintetizadores e parafernália electrónica, escultor, profeta do cósmico e do estelar, focado em desenhar aquilo a que soam “as sensações (...) quando estados psicológicos e espaços físicos interagem”.
O mundo começa a dar pela sua presença com o primeiro lançamento para uma DFA que, à época, acabava de se mostrar ao mundo com singles clássicos de LCD Soundsystem, The Rapture e a obra-prima de uma coisa ainda hoje sem nome que é ‘Beaches & Canyons’, dos Black Dice. “El Monte”, esse primeiro 12” de Delia Gonzalez (sua colaboradora de longa data) & Gavin Russom, bem como o LP que se seguiu, ‘Days of Mars’, tornaram-se de imediato dois marcos da electrónica e psicadélia desta década. Ajudaram de forma fundamental a influenciar e afirmar o ideário cósmico no panorama da produção de música de dança actual, trabalhando os ensinamentos dos mestres do kraut de Manuel Göttsching, Tangerine Dream e Klaus Schulze de como alcançar as estrelas através do som. Se hoje o cosmic disco, a op art imprópria para epilépticos ou o ideário new age são enormes espaços de criação artística em vários domínios, responsabilidade devida a Russom.
Construindo o seu vocabulário através de máquinas que ele mesmo fabrica, pode moldar o som desde o primeiro momento até à arquitectura final das suas peças com controlo absoluto em todos os processos. Génio do impacto acústico no corpo e no espaço, ajudou a montar o estúdio Plantain da DFA, para além de ter construído uma parte fundamental do arsenal sónico utilizado pelos Black Dice. Para os seus registos, a definição, textura e poder sonoros são avassaladores. Camadas e camadas de sintetizadores como fractais a aparecerem, a sobreporem-se, a desaparecerem, em constantes fugas e aproximações ao infinito, num corpo acústico indomável, de graves imponentes e leads radiantes.
É música para a pista de dança que pode existir na cabeça de cada um de nós, se para aí estivermos virados e para aí quisermos viajar. Contudo, terá havido sempre uma curiosidade de provavelmente todos os que alguma vez escutaram estas faixas, de como seria se houvesse um kick e um beat a comandá-las a pulso para o céu.
Num movimento oposto ao que Omar S fez com o já clássico do techno cósmico do ano passado “Psychotic Photosynthesis”, Russom, depois de anos sem dar o 4/4 que põe o universo a rodopiar, acaba de o deixar cair com a maior autoridade e feeling. Caso em questão a recente remistura para “Oasis” de Petar Dundov, um exercício monumental em progressivo e ascese através de sintetizadores modulares, para quem sempre quis que o trance tivesse bom gosto e que o techno tivesse nascido de uma explosão meteórica.
Após alguns anos discretos no campo da edição, 2009 prevê-se um ano com elevado ritmo de produção para Russom (e com kick drums). Está planeado um lançamento em nome próprio, bem como o primeiro de uma série de três 12”s enquanto Black Meteoric Star, tudo sempre na DFA. Este último nome um projecto seu a solo inteiramente dedicado a uma revisitação, actualização e progressão do acid house, género com o qual contacta desde os primeiros anos da TRAX (mais especificamente desde que escutou em 1988 “The Groove”, do maxi ‘Jack The Beat’ de Lidell Townsell), cujas faixas começam a aparecer aqui e ali em sets. “Death Tunnel”, uma delas, é hino instantâneo, acid de 2009 para 2009 voar como ninguém voou antes, enquanto outra, “World Eater”, é puro jack para astronautas sem truques. Os três maxis terão artwork do próprio Gavin, cada um acompanhado com posters que fazem parte de uma série de objectos que quer para efeitos sinestésicos – o som são as imagens são o som.
Seja a nossa pista de dança uma da mente ou a do beat marcado, este será o ano em que Gavin Russom traz o espaço para a sala de concertos e para a pista para nos levar para o espaço outra vez. Armado com um arsenal de sintetizadores, guitarra e voz para este concerto no Museu do Chiado, é um privilégio poder vê-lo descolar.
myspace http://www.myspace.com/gavinrussom
editora http://www.myspace.com/dfarecords
video http://www.youtube.com/watch?v=dAmgmgPwLb8 ao vivo em Paris, parte 1
video http://www.youtube.com/watch?v=fVTpTH-holA ao vivo em Paris, parte 2
video http://www.youtube.com/watch?v=VHhrXUJLHak "Relevee"
Tenho 25 anos e nunca tive quem cantasse como eu sentia, de onde eu sou, como eu vivo, quando eu vivo. As canções em português que valiam a pena que a minha geração passou o tempo a ouvir sempre foram de gente que já partiu deste mundo ou com um trabalho longínquo no tempo.
Tentamos (por vezes conseguimos, profundamente) ligar-nos à vida e compreensão das coisas em histórias de outros sítios, a partir de outras vidas, outras realidades. É essa qualidade universal que as maiores canções têm, das indecifráveis às completamente claras, que os Aquaparque, banda que hoje se divide entre o Porto e Lisboa, possuem também. Contudo, fazem, dizem e sentem as coisas como só nós cá personificamos e sabemos expressar. Afinal de contas esta língua é a nossa, e a vivência de quem cá anda nisto; tudo o resto tornam-se aproximações, por mais gloriosas que sejam, por mais que nos ensinem.
Até à primeira vez que ouvi uma canção dos Aquaparque nunca tinha sentido que alguém, cá, cantava a minha geração, ou cantava como alguém da minha geração, realmente; tão visceral e simples quanto isto. É complicado cantar em português. Tem uma métrica lixada de musicar, palavras com toneladas de peso fonético e dramático difíceis de carregar na dicção, um fraseado que pede uma secura que poucos têm bagagem suficiente para produzir. As bandas portuguesas das últimas duas décadas, quando não estavam ocupadas a cantar em inglês, pareciam desconfortáveis com o que diziam, falavam e sentiam quando o cantavam. As palavras não lhes saíam com propriedade, com a naturalidade do discurso, com a honestidade emocional do princípio ao fim.
Os Aquaparque não fazem "canção portuguesa" (daquela que cheira obviamente a rio, saudade e outras coisas de postal), não fazem rock (aprenderam que era possível esquecê-lo para soarmos a nós, mesmo que tenham crescido com guitarras); talvez o que façam seja pop, mas que pop soa assim? Fazem, isso sim, e pela primeira vez desde os melhores Heróis do Mar, António Variações, GNR e Pop Dell'Arte, verdadeira canção de formas contemporâneas, cantada em português.
'É Isso Aí', o seu disco de estreia é cantado como André Ferreira (letras, programações, vozes) e Pedro Magina (voz principal, teclado), os dois membros, falam na rua, cá, um para o outro, para os amigos, para a família, para desconhecidos, mas também é mais que isso. É uma poética que por vezes soa a calão espiritual, por outras à mais fluente e simples das canções de amor, escárnio e rodopio. As melodias de voz e métricas de Magina uma espécie de Luís Portugal baleárico, uivos de peito aberto, pontuados por indicações vocais de Ferreira, algures entre um gingar pugilista e uma briga de rua transcendental.
As canções, colagens de samples tratados que dinamitam qualquer noção de género e vocabulário musical prévio. Batidas cortadas, guitarras acústicas retiradas do contexto, percussões tribais suburbanizadas, linhas de baixo fora de qualquer cartilha, sintetizadores de marinheiro perdido. Canções sem A>B, com várias secções, micro-universos, fontes sonoras, segmentos mixados, coisas que só podem ser contadas desta (outra) forma, que não soam a absolutamente mais nada que não isto, mesmo que informadas por pop, techno, hip hop, funk ou folk.
Para além de nos deixarem com um oceano de concretizações inauditas, os Aquaparque deixam-nos com outro de possibilidades. No meio de hinos que soam a ancestral, bombas cáusticas a destilar humor e um domínio supremo do absurdo, à grande canção portuguesa de amor desta década, reside toda uma prova de como sermos enormes e autênticos, como mais ninguém o pode ser, e como tantos, pelo resto do mundo, se têm tornado em canção - originais, pioneiros, singulares. A maior das admirações a quem pensou e sentiu tanto que ousou fazer este disco, um marco da história da música nacional.
myspace http://www.myspace.com/aquaparque
video http://www.youtube.com/watch?v=Th_9cBSDo4U ao vivo
video http://www.youtube.com/watch?v=sxOaxBEfg80 video promocional
Apoio da
RHYS CHATHAM 'Guitar Trio'
Eventualmente a obra-prima de Rhys Chatham, 'Guitar Trio', composição de 1977 para guitarras eléctricas, baixo eléctrico e bateria, foi editada em 2008 pela Table of the Elements, reinterpretada por alguns dos mais relevantes músicos de rock de vanguarda das últimas décadas. 'Guitar Trio' será, ao lado de 'Ascension' de Glenn Branca, o momento chave de influência na estética instrumental da no-wave novaiorquina.
Constituída por um único acordo de Mi, 'Guitar Trio' é o âmago do rock no seu mais reducionista e simultaneamente mais maximalista. Rock enquanto libertação, êxtase e explosão; rock enquanto ritual, linguagem, vocabulário. Vive tanto no mundo da arte conceptual, como na vanguarda da música contemporânea académica do séc. XX, como num clube de rock.
Chatham, responsável por uma vasta obra de procura e descoberta de novos sons e expressões, passou, de forma mediática, por Portugal, aquando da apresentação da sua peça para 100 guitarras (gerida por Rafael Toral, à época), 'An Angel Moves Too Fast To See', no Coliseu de Lisboa.
Desde o ano passado que Chatham irá estar a tocar este 'Guitar Trio' por todo o mundo e com uma multitude de luminário do rock das últimas décadas - de Thurston Moore a Kim Gordon, John McEntire, Keith Fullerton Whitman a C Spencer Yeh -, convidando sempre músicos locais, e que resultou já no lançamento do celebrado disco triplo 'Guitar Trio Is My Life'.
No caso particular de Lisboa, a banda será constituída por uma série de músicos notáveis do aqui e agora local. Nas guitarras eléctricas estarão, para além de Chatham, Norberto Lobo, Guilherme Gonçalves (Gala Drop, Cóclea), Guilherme Canhão (Lobster), Rui Dâmaso (Frango, PCF Moya) e Manuel Gião; no baixo eléctrico outro Rui Dâmaso (Loosers, Time Machine), e, na bateria, Afonso Simões (Phoebus, Gala Drop, Fish & Sheep R.I.P., etc).
Esta actuação, que precede a apresentação do 'Guitar Trio' no Metropolitan em Nova Iorque, conta também com filmagens do final dos anos 70 do artista visual Robert Longo.
site oficial http://www.rhyschatham.net/
myspace http://www.myspace.com/rhyschatham
video http://www.youtube.com/watch?v=6C3f39jteh0 G3 ao vivo em NYC com: Lee Ranaldo, Alan Licht, Thurston Moore and Kim Gordon. Jonathan Kane
AARON DILLOWAY e NATE YOUNG (Wolf Eyes)
Trazer o trabalho sobre o ruído e o som em estado bruto para uma cultura de skaters e putos de concertos de hardcore e rock pesado gerou um dos fenómenos colectivos mais interessantes na música nos últimos anos largos. Algures no final dos 90s, à volta de e em Ann Arbour, no estado norte-americano de Michigan, nascia das cinzas da pós-no wave dos Couch e no início da vida adulta de Nate Young, Aaron Dilloway, John Olson ou Andrew W.K., uma escola em que miúdos de rua de uma das áreas mais desoladas da América do Norte pegavam tradições e meios previamente exclusivos a estudiosos académicos, e começavam a tornar essas técnicas e ciência numa expressão independente, auto-didacta.
Ler uns livros de electrónica, ir ao equivalente local da Dimofel e não ter qualquer medo de choques eléctricos, foi a base prática para, desde o momento em que os Wolf Eyes deram o salto de fenómeno underground para lançamentos na Sub Pop (Nirvana, Comets On Fire, Mudhoney, etc), milhares e milhares de miúdos, dos Estados Unidos à Europa, descobrirem uma forma crua, fácil e barata para a expressão e catarse da solidão suburbana. Um circuito com quase tantas editoras de CD-Rs e cassetes como artistas, de gente a chegar à conclusão que a música que os espelhava e libertava mais residia em discos de ruídos abstractos com capas estranhas e em bandas sonoras filmes de terror da série B à série Z.
Nate Young e Aaron Dilloway, o primeiro ainda frontman dos Wolf Eyes, o segundo um antigo membro da banda que saiu em 2005 para ir viver durante praticamente um ano com a sua mulher para o Nepal, são dois dos grandes padrinhos de toda esta movimentação, cultura e estética. Ambos são criativos da electrónica caseira, construindo osciladores, filtros e manietando gravadores de oito pistas, donos de editoras que vão definindo estas manifestações sonoras (Dilloway com a Hanson Records, Young com a AA) e ilustradores de algumas das capas (verdadeiras obras de arte, em vários casos) mais fascinantes e marcantes da criação visual desta década.
site oficial http://www.wolfeyes.net/
myspace http://www.myspace.com/aryanahole
video http://www.youtube.com/watch?v=hJGddFGnCaE Aaron Dilloway ao vivo em Detroit
video http://www.youtube.com/watch?v=hJGddFGnCaE Nate Young ao vivo
STEPHEN O'MALLEY (SunnO)))
Este é o primeiro concerto de uma série de cinco que a Culturgest apresenta este ano na sua Galeria de exposições da Avenida dos Aliados no Porto. Reinventando os vocabulários do rock, da música contínua e do metal contemporâneo num percurso iniciado há década e meia, Stephen O’Malley, guitarrista americano actualmente a viver em Paris, é dos artistas destes campos estilísticos que maior detalhe e invenção aplica no desenho, na arquitectura acústica e no impacto físico-psíquico do som.
O’Malley trabalha métricas pentatónicas lentíssimas e emprega níveis decibélicos extraordinariamente elevados, num processo minucioso de inscrição e armação sonora no espaço em que explora a acústica do local e os limites da tolerância humana à vibração acústica através do uso da guitarra eléctrica ligada a um massivo muro de amplificadores a válvulas, oferecendo espaço de respiração à saturação do som e a uma densa teia de sobreposições microtonais. O seu ritmo é o do vocabulário do doom metal, informado pela amplitude de dinâmica e pelo léxico herdados de uma pluralidade de exploradores e transgressores de várias áreas, de Hendrix a Coltrane, Keiji Haino, Pandit Pran Nath ou Sonny Sharrock.
Para além do projecto que fundou, os SunnO))), uma das bandas fundamentais drone/doom metal, tem trabalhado com outros artistas que possuem igualmente uma relação plástica e extrema com o som, de Peter Rehberg a Lasse Marhaug, Oren Ambarchi ou Attila Csihar.
O’Malley é tido como uma das principais figuras da última década na afirmação estética do metal enquanto género de vanguarda e espaço artístico aberto à liberdade e expansão criativas.
site oficial http://www.ideologic.org/
myspace http://www.myspace.com/stephenomalley
BLACK DICE
Uma possível leitura para, ainda a quente, destacar aqueles que sonharam, viram e concretizaram um sítio e um objecto mais longe nesta década, poderá ter que ser diferente daquela com que nos habituámos a decifrar o que fica para trás e a tentar perceber o que o presente nos coloca na frente. Alguns - poucos - artistas cujo trabalha circula de uma forma minimamente divulgada e mediatizada, edificaram corpos de trabalho que fogem aos cânones que vemos nas revoluções passadas da música. Mais do que um avanço, drástico ou relativo, de um vocabulário ou de um género (os Ramones a acelerarem os Beach Boys; os Stones a tornarem o R&B grito branco; etc), gente como os Animal Collective, Ariel Pink ou os Excepter, a título de exemplo, criaram um outro tipo de fenómeno. Cultivaram a ideia e produziram uma obra que existe para lá de um género - talvez dentro de uma cultura -, para lá de uma tradição, mas criando um universo seu próprio, longe de qualquer léxico (mesmo que advenha de uma multitude de estilos). Ainda que seja um vasto algo que permanece copiável, a marca deles é tão sua, que todos os que já vêm depois de si e virão ainda serão sempre subjugados à sua posição seguidista. Será então essa a premissa para a genialidade nesta década, a insularidade criativa? Uma espécie de primeiro ponto final na cultura popular moderna em que para um trabalho ser verdadeiramente revolucionário, tem que ser ímpar e intocável, tanto estética quanto espiritualmente, radicalmente distante de tudo o resto? Se sim, os Black Dice serão dos grandes protagonistas nos avanços artísticos no campo do som e da música neste arranque de século. Guiando-se unicamente pela procura de novos sons, novas emoções (novos sentidos? o acordar de partes do cérebro adormecidas?), criam música que transcende ritmo linear, estruturas narrativas (e mesmo as escolas de não-narrativa nas músicas experimentais), fraseado, melodia e harmonia como olhamos para elas (mesmo no campo das várias vanguardas ocidentais). Utilizam instrumentação que nunca tinha sido utilizada assim, processada de maneiras também elas completamente longe de qualquer normalidade. 'REPO', o seu mais recente álbum e segundo pela Paw Tracks (dos Animal Collective), é um outro passo em frente na gloriosa confusão que criam a partir de todas estas procuras simultâneas, intersectadas e sobrepostas. Um som cada vez mais estilhaçado (e que reflecte) do caos do ideário colectivo de hoje em dia, que o torna transcendência e indizibilidades. Um concerto, segundo em Lisboa, que será, concerteza, mais uma poderosíssima aceleração do amanhã para o dia de hoje.
site oficial http://blackdice.net/
myspace http://www.myspace.com/blackdicemyspace
video http://www.youtube.com/watch?v=_WNHS-mjrP0 concerto de lançamento de "Repo" em NYC
vimeo https://vimeo.com/2567153 "Kokomo"
AQUAPARQUE + FILHO ÚNICO DJ SET
Tenho 25 anos e nunca tive quem cantasse como eu sentia, de onde eu sou, como eu vivo, quando eu vivo. As canções em português que valiam a pena que a minha geração passou o tempo a ouvir sempre foram de gente que já partiu deste mundo ou com um trabalho longínquo no tempo.
Tentamos (por vezes conseguimos, profundamente) ligar-nos à vida e compreensão das coisas em histórias de outros sítios, a partir de outras vidas, outras realidades. É essa qualidade universal que as maiores canções têm, das indecifráveis às completamente claras, que os Aquaparque, banda que hoje se divide entre o Porto e Lisboa, possuem também. Contudo, fazem, dizem e sentem as coisas como só nós cá personificamos e sabemos expressar. Afinal de contas esta língua é a nossa, e a vivência de quem cá anda nisto; tudo o resto tornam-se aproximações, por mais gloriosas que sejam, por mais que nos ensinem.
Até à primeira vez que ouvi uma canção dos Aquaparque nunca tinha sentido que alguém, cá, cantava a minha geração, ou cantava como alguém da minha geração, realmente; tão visceral e simples quanto isto. É complicado cantar em português. Tem uma métrica lixada de musicar, palavras com toneladas de peso fonético e dramático difíceis de carregar na dicção, um fraseado que pede uma secura que poucos têm bagagem suficiente para produzir. As bandas portuguesas das últimas duas décadas, quando não estavam ocupadas a cantar em inglês, pareciam desconfortáveis com o que diziam, falavam e sentiam quando o cantavam. As palavras não lhes saíam com propriedade, com a naturalidade do discurso, com a honestidade emocional do princípio ao fim.
Os Aquaparque não fazem "canção portuguesa" (daquela que cheira obviamente a rio, saudade e outras coisas de postal), não fazem rock (aprenderam que era possível esquecê-lo para soarmos a nós, mesmo que tenham crescido com guitarras); talvez o que façam seja pop, mas que pop soa assim? Fazem, isso sim, e pela primeira vez desde os melhores Heróis do Mar, António Variações, GNR e Pop Dell'Arte, verdadeira canção de formas contemporâneas, cantada em português.
'É Isso Aí', o seu disco de estreia é cantado como André Ferreira (letras, programações, vozes) e Pedro Magina (voz principal, teclado), os dois membros, falam na rua, cá, um para o outro, para os amigos, para a família, para desconhecidos, mas também é mais que isso. É uma poética que por vezes soa a calão espiritual, por outras à mais fluente e simples das canções de amor, escárnio e rodopio. As melodias de voz e métricas de Magina uma espécie de Luís Portugal baleárico, uivos de peito aberto, pontuados por indicações vocais de Ferreira, algures entre um gingar pugilista e uma briga de rua transcendental.
As canções, colagens de samples tratados que dinamitam qualquer noção de género e vocabulário musical prévio. Batidas cortadas, guitarras acústicas retiradas do contexto, percussões tribais suburbanizadas, linhas de baixo fora de qualquer cartilha, sintetizadores de marinheiro perdido. Canções sem A>B, com várias secções, micro-universos, fontes sonoras, segmentos mixados, coisas que só podem ser contadas desta (outra) forma, que não soam a absolutamente mais nada que não isto, mesmo que informadas por pop, techno, hip hop, funk ou folk.
Para além de nos deixarem com um oceano de concretizações inauditas, os Aquaparque deixam-nos com outro de possibilidades. No meio de hinos que soam a ancestral, bombas cáusticas a destilar humor e um domínio supremo do absurdo, à grande canção portuguesa de amor desta década, reside toda uma prova de como sermos enormes e autênticos, como mais ninguém o pode ser, e como tantos, pelo resto do mundo, se têm tornado em canção - originais, pioneiros, singulares. A maior das admirações a quem pensou e sentiu tanto que ousou fazer este disco, um marco da história da música nacional.
myspace http://www.myspace.com/aquaparque
video http://www.youtube.com/watch?v=Th_9cBSDo4U
Filho Único: Duo variável de entre os quatro que hoje trabalham na Filho Único, a passar literalmente o que bem nos apetece, sempre numa óptica positiva, comunal e inclusiva. Esperamos que vos apeteça também.
Out.Fest
WILLIAM BASINSKI
Músico e compositor novaiorquino, possui um percurso extremamente atípico nos meandros criação e da edição. No tempo que separa as peças que servem como bases para os seus discos como no seu próprio trabalho, William Basinski vive num outro espaço temporal, onde o antes, o agora e o depois se confundem, cruzam, e nesse movimento abrem outras dimensões e possibilidades.
Com um longo percurso na produção artística, a sua música vê maior reconhecimento aquando do lançamento da sua obra-prima, 'The Disintegration Loops', série constituída por quatro volumes, que começam a ser lançados no início da década, relativamente pouco tempo depois da queda das Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001.
Basinski passou esse Verão a tentar salvaguardar algumas fitas antigas que tinha em casa, loops feitos duas décadas antes, que se encontravam em avançadíssimo estado de decomposição - alguns só sobreviveriam a mais uma reprodução até se desfazerem por completo. Perante a queda das torres, Basinski decidiu então deixar que estes pedaços lânguidos, lentos, elegíacos, magníficos (algures entre o 'Sinking of the Titanic de Bryars' ou um 'Music For Airports' de Eno gravado nos anos 50) de música, feita há tanto tempo, se revelassem e extinguissem por si só, aí tornando-se, verdadeira e finalmente, peças acabadas.
Antes desse momento e desde ele, contudo, Basinski tem vindo a criar várias obras notáveis seguindo este típica de óptica e prática, que lidam com essa melancolia da finitude e do esquecimento e simultânea imersão na viagem & poética da mortalidade. Abrindo caminho para portas líricas e estruturais no minimalismo contemporâneo como pouquíssimos, formalmente, o fazem em que género seja, Basinski, que acaba de editar '92982' na sua própria editora, a 2064 Music. Mantém-se como uma das figuras fundamentais da música abstracta contemporânea, aqui em estreia nacional.
site oficial http://www.mmlxii.com/
SEI MIGUEL METAL MUSIC 4
Figura ímpar no jazz mundial e, definitivamente, em toda a história da música nacional, Sei Miguel prossegue trabalhando, há já mais de vinte anos, numa linguagem composicional, arrangista e instrumentista por cartografar, analisar e divulgar seriamente.
Decide basear a sua música numa aculturadíssima e vasta noção de jazz, inscrevendo-se em som utilizando visões altamente apuradas e individualizadas de fraseado, timbre, espaço e orquestração.
Ao longo centenas de actuações ao vivo e de trabalhos editados em casas como a Ama Romanta, Creative Sources ou Headlights, tem integrado nas suas formações músicos que, em alguns casos, dele retiveram fundamentais ensinamentos. Já nesta década, colaborou regularmente com músicos nacionais como Rafael Toral, Manuel Mota ou Margarida Garcia, tendo desenhado trabalhos específicos que executou com gente como Joe Morris ou Aki Onda.
Para o particular deste concerto, Sei Miguel vai apresentar um programa de peças em que está actualmente a trabalhar, denominado 'The Jewel System', aqui numa formação que o inclui o seu trio clássico com o próprio Sei (em pocket trumpet), Fala Mariam (trombone), César Burago (percussão), e ainda Guilherme Rodrigues (violoncelo eléctrico).
site oficial http://rt2.planetaclix.pt/seimiguel/enter.html
video ao vivo no Sonic Scope http://www.youtube.com/watch?v=JOaSPj9DiL4
CIAN NUGENT
Ilustre herdeiro do legado fundamental de John Fahey ao lado de grandes nomes como Jack Rose ou Steffen Basho-Junghans, imiscuí-se nos vastos cenários da América Profunda para resgatar aos blues e à country matéria prima para delicados rendilhados em guitarra acústica. Os seus dois registos são reveladores do talento de Cian Nugent na arte de tecer lindíssimas melodias, em que o fingerpicking nunca cede ao virtuosismo estéril, para permancer numa aura de apaziguamento e envolvência, plena de lirismo.
myspace http://www.myspace.com/ciannugent
SPECTRUM BAND
Pete Kember/Sonic Boom/Spectrum pertence a uma estranha raça de artistas que, de tão lendários e mitificados que se tornaram, parecem fazer parte do imaginário colectivo de quem se interessa como alguém longínquo, algures num passado glorioso do panteão do underground do rock, longe de onde as coisas acontecem à frente dos nossos olhos. Muito menos mediático que o seu parceiro nos essenciais Spacemen 3, Jason Pierce, tem vindo a produzir uma quantidade muito substancial de música fundamental nas praticamente duas décadas que se seguiram ao fim da banda em que ambos se iniciaram na música e que marcou, indelevelmente, a produção sonora independente dos anos 80 em diante.
Ao longo de discos notáveis enquanto Spectrum e Experimental Audio Research, Kember mantém-se permanentemente na procura de novas formas de comunicação da transcendência, explosão metafísica e comunicação cósmica através de som, rito e hipnose. A sua música é a de um alinhamento numa viagem até um espaço em que nos deparamos com a grandeza de tudo o que reluz e brilha; um híbrido de death trip narcótica, salvação espiritual e um amor como poucos têm pelo rock, pelos blues e por tudo o que é gloriosamente pentatónico. A máxima que sempre aplicou na música é a mesma ainda hoje: "One chord best, two chords cool, three chords OK, four chords average", como o seu mais recente 'Indian Giver', conjunto de canções de sintetizadores, voz e sangue, o continua a sintetizar.
Depois de um magistral concerto a sala no Museu do Chiado em 2008, estreia agora em Portugal o seu trabalho com banda completa. Apresentado numa recente digressão com os My Bloody Valentine e desde aí viajado por toda a Europa, é um verdadeiro recital de space-rock da mais alta ordem, capitaneadas por um dos grandes da música moderna.
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DUCKTAILS
Projecto solitário de Matthew Mondanile, que vem desde 2005 construindo um culto fervoroso em seu redor. Com diversas edições dispersas por inúmeras editoras portadoras do legado da cassete roufenha, as suas aproximações ao imaginário tropical, reestruturadas de acordo com os ditames da pop enviesada mais entusiasmante, têm vindo a ser alvo de carregados elogios por parte de nomes tão importantes como David Keenan ou James Ferraro. Partilhando com este último um apreço pelos detritos da cultura popular mais trashy dos anos 90, as suas criações tanto se aproximam do psicadelismo fofo característico de Ariel Pink como dos drones florestais a cheirar o Pacífico, numa obra que estando longe de algum tipo de conclusão reserva ainda muitas surpresas aprazíveis.
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WHITEHOUSE
Nome incontornável nos meandros da música experimental dos últimos 30 anos, deve-se ao projecto liderado desde 1980 por William Bennett o extremar da música industrial para os territórios confrontacionais hoje denominados vulgarmente (e de forma algo redutora) por noise. Arautos do harsh noise e da power electronics (termo cunhado pelo próprio Bennett), têm mantido uma formação mutável, por onde passaram colaboradores tão ilustres como Steve Stapleton ou Philip Best. Com uma influência transversal a todas as movimentações mais violentas da música exploratória, os seus ecos encontram-se na pigfuck do Midwest, na power violence dos anos 90 ou no horror lo-fi do noise de Portland deste século. Com uma discografia extremamente respeitável onde se encontram álbuns tão marcantes como “Psychopathia Sexualis”, “Erector” ou “Great White Death”, mantém ainda hoje uma saudável actividade discográfica, com destaque para o muito celebrado “Bird Seed” de 2003. Abandonando no início deste século a parafernália análogica pelo tratamento digital, Bennett tem vindo também a cimentar o seu lugar de esteta assente em memoráveis aparições ao vivo, que transportam o seu espírito transgressor para novas paragens libertas de espartilhos sufocantes. No bastião das lendas apenas se poderá traçar um paralelo com o (incontestado) rei Merzbow.
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LOOSERS
Figuras das expressões mais livres que a música portuguesa tem vivido ao longo deste século, é inegável o papel de destaque dos Loosers no panorama mundial da exploração musical enquanto expressão. Contabilizando inúmeras edições por editoras tão liustres como a Not Not Fun, Qbico ou Woodsist e depois de várias gravitações ao longo de toda a Europa, continuam a fazer da imprevisibilidade uma das suas imagens de marca que os sustém na dianteira dos avanços da música de teor incorpóreo. Com passagens pelo xamanismo kraut, pelo rock mais oblíquo ou pelo drone tribal/tropical, conta quem os viu recentemente que os Hawkind e o stoner mais expansivo marcaram presença. Apontar este passado mais recente não poderá servir como referência para um projecto que faz da constante mutação uma via para a libertação em si mesma, mas volta a reordenar as coordenadas para mais uma prestação digna da memorabilia mais acarinhada, neste regresso ao Out.Fest, depois de uma belíssima passagem em 2006.
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TOMUTTONTU
Membro dessa trupe finlandesa de misticismo pagão de nome Kemialliset Ystävat, Jan Anderzèn regressa a Potrugal depois de uma passagem de boa memó
Uma Avenida
Concertos: António Poppe, Aquaparque, Coclea + Phoebus, Contador + Calhau!, Frango, Kimi Djabate, Lobster, Loosers, Norberto Lobo, Peter Bastien, Ritchaz & Kéke, Sei Miguel e Slight Delay
ANTÓNIO POPPE // Poeta e artista visual, procurador de nova expressão pictórica-escrita.
AQUAPARQUE // Canção portuguesa contemporânea, em forma e palavras.
COCLEA & PHOEBUS // Colaboração de dois dos principais criadores de música abstracta e espacial na geração a surgir na produção musical portuguesa desta década, aqui trabalhando texturas de céu e cosmos, com rara lucidez na viagem e na textura das coisas.
CONTADOR + CALHAU! // Explorações, gestos e considerações sobre liberdade, não-narrativa, som puro e electrónica caseira.
FRANGO // Duo muito importante das linguagens e léxicos sem nome da música nacional desta década, em trabalho de timbre, espaço e forma.
KIMI DJABATÉ // Embaixador cultural da música mandinga e da Guiné Bissau em Portugal, Kimi Djabaté, para além de um virtuoso do balafon, produz canções do ancestral contemporâneo, numa existência de griot lisboeta cujo molde já não se faz mais.
LOBSTER // Furioso duo de guitarra e baterista, têm no últimos anos efectuado algumas das cavalgadas mais históricas de tempos recentes no campo do rock histriónico enquanto gloriosa celebração de juventude, vigor e caos edificante.
LOOSERS // Pioneiros desta década da música nacional em múltiplas mutações e deformações do rock e do pensamento de vanguarda em som.
NORBERTO LOBO // Jovem e já incontornável guitarrista nacional, ligando tradições do lirismo música portuguesa (Paredes), a técnicas do bluegrass americano, à liberdade harmónica da canção brasileira pós-MPB.
PETER BASTIEN // Soprador e livre espírito holandês, tem quatro décadas de percurso numa quantidade aparentemente infinita de idiomas (entre o free jazz, as melhores bandas de baile de Dakar, e que mais iluminar o espírito), que aglutina em total abertura e uivo.
RITCHAZ & KÉKE // Kizomba rap cabo-verdiano de forte inclinação política, social, positiva.
SEI MIGUEL // Trompetista, compositor e arrangista sem paralelo no campo do jazz e da música transcendente, apresenta trabalho em quarteto também com trombone, violoncelo eléctrico e percussão
SLIGHT DELAY // Duo em galopante ascensão no circuito das menos óbvias e mais frescas circuitagens da música de dança actual, desenham novas paisagens de exotismo e mistério, numa selva cultural e sonora ainda por cartografar.
DEERHUNTER + ARIEL PINK
Dois astros para os livros de amanhã sonham o tempo de agora
Duas figuras que marcam indelevelmente a produção da música independente desta década, dois caminhos ímpares de como se ser único em som e visão. Deerhunter e Ariel Pink no Lux Frágil, a 1 de Junho, Dia da Criança.
A sua chegada foi demorada ao ponto de se ter inventado um tipo macabro de ídolos, mas o culto da personalidade na música na primeira década deste século passou verdadeiramente a ter razões para existir na sua segunda metade. Numa época em que muito dificilmente volta a haver um Cobain ou uma Joplin (vozes de real discordância e carisma que dispõem de amplo tempo de antena), a deificação de figuras públicas ligadas à música na cultura pop branca passou para uma celebração de um tipo decadente de estrelas, com carisma mas sem grandes causas ou visão (pense-se em Amy Winehouse ou Pete Doherty).
Nesta década, à semelhança de outras anteriores (mas agora em quase exclusivo), as figuras mais emblemáticas da canção de formas contemporâneas provêm de um universo ligado principalmente à música independente. Quase todas elas, de Dave Portner e Noah Lennox (Animal Collective) a John Fell Ryan (Excepter), trabalham num raio de difusão relativamente limitado e nenhuma dá realmente a cara por uma causa, a um caminho. Nenhuma verbaliza de uma forma óbvia e imperativa um grito, seja para que direcção tribalizante for. Contudo, dois homens (rapazes; são rapazes), Bradford Cox (Deerhunter, Atlas Sound) e Ariel Pink, fogem do molde desta época, para um outro em que os líderes extrovertem a introversão, e vão influenciando a forma como uma geração que cresce nesta década sente, vive, pensa, se apresenta perante a sociedade.
Os Deerhunter de Bradford Cox (porque é, definitivamente, a banda para as canções dele) rebentaram para um público mais alargado no ano passado, com o lançamento do excelente álbum duplo “Microcastle/Weird Era Cont.”, numa edição dividida entre a 4AD e a Kranky. Porventura, serão as duas casas mais apropriadas para acolher a música de Cox, uma espécie de enciclopédia moderna que compila e aglutina no seu som várias maneiras de sonhar e celebrar no quarto de dormir – do indie-rock celebratório dos anos 80 e 90 (Guided By Voices, The Clean, The Breeders), electrónica melancólica (o catálogo da Kompakt), até aos orquestradores de sinfonias etéreas adolescentes (dos mais óbvios My Bloody Valentine aos esquecidos e incontornáveis Windy & Carl).
Contudo, é na personagem, na figura e na imagem de Cox que reside parte substancial da razão do fascínio exercido pela banda. Com membros longos e extremamente magros, causados pela doença de Marfan que carrega consigo desde a adolescência, é uma espécie de exemplo gráfico acabado de um miúdo vítima de potentes e constantes ataques no pátio do liceu, mas que cuja criatividade e carisma superaram. Ignorando por completo a sua condição física, está neste preciso momento a explodir de ideias e carpe diem. Não tem qualquer problema – aliás, parece adorar – em expor-se completa e constantemente a quem o quiser ouvir, dando entrevistas de uma generosidade e honestidade desarmantes. Não tem qualquer pejo em dizer que gosta de fazer música que soa a uma amálgama – extraordinariamente conseguida, já agora – de toda a música que ama, numa época obcecada com uma ideia vaga de originalidade. Vai deixando para trás um trabalho que é um entretecimento contemporâneo e singular que condensa e personaliza todas as suas inspirações.
Possui uma frontalidade que é infrutífero contrariar, enquanto continua a fazer estas celebrações de juventude, eternamente a adiar o surgimento de uma existência “adulta”. Puto eterno, Bradford Cox vive agora os seus momentos de glória. A festa é dele e de todos os que dela quiserem fazer parte.
Ariel Pink vive num sítio completamente diferente (Los Angeles, pura e dura) em mais do que uma geografia, em relação a Cox. Lembro-me que a primeira vez que o ouvi, algures em 2004, não consegui fazer literalmente mais nada durante três dias senão ouvir a música dele. Nem fazia ideia se aquilo era bom, se era mau, se gostava, se fazia algum sentido, até perceber que, realmente, estava perante um génio. É que Ariel Pink inventou muita coisa, muita coisa ao mesmo tempo (e continua a fazê-lo).
As suas músicas, completamente para lá de tudo o que já ouviram (a sério), conseguem concentrar toda a canção do FM e do AM do último meio século. Está lá toda a pop, está lá muito conhecimento de causa no campo da experimentação e da vanguarda no songbook americano, um apreço forte por alguns dos heróis esquecidíssimos da pop que nunca o chegou a ser por ter nascido e crescido demasiado estranha (R. Stevie Moore, John Bender, Yximalloo). Cada música é simultaneamente um delírio e um verdadeiro épico de construção, harmonias, melodias, trabalho exaustivo no tratamento do som (que parece sair de dentro de um rádio portátil muito batido nos anos 80). Ao microfone ele soa a um crooner esquizofrénico, incapaz de se decidir se quer ser um romântico galante ou um dandy com uma confiança desproporcional no seu falsete.
O seu impacto está nas ruas de todas as grandes cidades do Ocidente, onde pequenos exércitos de gente com menos de 30 anos aprenderam a usar calças justas com camisolas demasiado largas, e a saber escolher com precisão o par de óculos escuros mais estranhos que há na loja de cenas em 2ª mão. Ajudou a colocar brilho no desmazelo que os anos 90 levaram, eventualmente, demasiado a sério. É, de muitas formas, o ícone de quem é anti-ícones; o miúdo estranho que inventou uma ciência própria, infinita, esquizofrenicamente individualizada (onde reside o cerne do seu enorme trabalho), de se ser completamente diferente (e é aí que tantos, músicos e admiradores, tentam ser como ele). Mas Ariel Pink é só ele.
Dois rapazes, rapazes especiais, para marcar toda uma geração que descobriu que gosta de maquilhar a sua estranheza e torná-la bonita, num concílio à noite para a história, no dia de todos os putos.
myspace http://www.myspace.com/deerhunter
blog http://deerhuntertheband.blogspot.pt/
video http://www.youtube.com/watch?v=oup-m8Hxx4Y "Agoraphobia"
video http://www.youtube.com/watch?v=co_q-9woAxw ao vivo no Noise Pop 2009
myspace http://www.myspace.com/arielpink
editora http://www.hemberlin.de/
video http://www.youtube.com/watch?v=ZJfgzPV4oM8 ao vivo na Modified Arts, Phoenix
JOE MCPHEE
Nascido em Miami em 1939, aos 8 anos tocava trompete. A partir de finais dos anos 1960 iniciou-se numa grande variedade de instrumentos (todo o tipo de saxofones, clarinete, trombone, piano), explorando tanto a música acústica como a electrónica.
Neste concerto apresenta-se a solo, registo em que tem trabalhado e editado desde meados dos anos 1970, tendo iniciado carreira em nome próprio no ano de 1969, com o clássico do free jazz Underground Railroad.
Influenciado por John Coltrane, Albert Ayler e Ornette Coleman (figura essencial no arranque do seu percurso), Joe McPhee é um dos mais relevantes espíritos livres e transgressores da forma e do vocabulário do jazz e de áreas que ele mesmo ajudou a tornar adjacentes. Colaborando desde cedo com músicos com preocupações estéticas e espirituais semelhantes, em direcção ao desconhecido e ao vibrante, trabalhou com a vanguarda da música electrónica dos anos de 1970, caso da Deep Listening Band de Pauline Oliveros, pioneira da música contínua.
O currículo de McPhee conta com mais de meia centena de álbuns, entre os quais muita obra em seu nome próprio na editorai de jazz HatHut, fundada precisamente para lançar a sua música. Trabalhou com uma lista interminável de artistas seminais da música das últimas quatro décadas, sendo hoje, tanto ou mais do que no passado, um barómetro dos novos terrenos por onde o jazz caminha.
site oficial http://www.joemcphee.com/
video http://www.youtube.com/watch?v=a0JenKAnFIQ ao vivo c. Roy Campbell, William Parker e Warren Smith
video http://www.youtube.com/watch?v=1MW2bQTcSI0 ao vivo c. Paal Nilssen-Love
NORBERTO LOBO
Um grande amigo um dia disse-me, os dois com muito whiskey no bucho, que nós tocamos guitarra acústica para nos provarmos perante os nossos pais. Um teste de honra, dignidade e independência para com aquele de quem herdamos o apelido e a pila, para nos provarmos perante o mundo, nus, em palco, só nós com aquela besta de madeira e cordas de aço. O Norberto, amigo, uma dia disse-me, que ele gostava mesmo era de melodia, que precisava dela. Tem-me ficado essa frase na cabeça nos últimos anos.
Ao ver a cara e a expressão que o coração deixa transparecer em todos os que olho durante e após cada concerto do Norberto que tenho a sorte de ver, ou de cada vez que mostro a música dele a alguém, penso perceber que ele os direcciona para vários sítios que nem sempre são acordados pelas coisas que a música desperta habitualmente nas pessoas. O Norberto Lobo tem uma coisa, uma coisa que pouca gente tem. As melodias dele, as decisões dele, as decisões melódicas do Norberto, traduzem um amor pela transparência no acto de comunicar para todos, que não é mais nem menos, que o amor em estado bruto para que todos o possam sentir. Poucos têm a sua transparência.
Tocar guitarra a solo é uma provação nossa, de destreza, criatividade e coração, pelo e para o mundo, numa tentativa de conjugar ideias e emoções que encham todo o universo, um universo que nós ajudamos a clarificar e que gostamos de dar como poucas outras coisas. O Norberto, pelo meio de todas aquelas 6 e 12 cordas que a madeira pouco consegue domar, cria a capacidade de se ser um homem que se multiplica, capaz de ser várias vozes em diálogo, contraditório e harmónico consigo mesmo, em busca de um entendimento das coisas que nos ajude a todos a compreendê-las.
Ao 'fingerpicker', termo tanto americano quanto universalizável para aquele que colhe as cordas, há quem diga que a dádiva suprema que se pode receber é a da mão direita, a mão direita de deus. Ela detém uma veracidade que torna tudo claro, homem e vero, que tantos distorceram pelo Ocidente em anos recentes, pegando nas magníficas tradições de John Fahey e Robbie Basho do blues e do bluegrass revisto enquanto expressão metafísica, da forma mais básica e formulaica. O que eles tardam em reparar, é que uma mão direita todos têm com dois anos a tocar guitarra - mas uma mão esquerda do diabo (com a vontade de deus) é algo que deus dá a gente muito rara (aos poucos que têm a coragem de pensar nela com o tempo e empenho que ela lhes merece).
O Norberto, ao contrário de outros que tentaram portugalizar uma viagem por várias culturas num processo de aglutinação de postais culturais e da música, torna sua uma panóplia de tradições que não só não lhe fogem, como se tornaram parte profunda de si próprio. Nele residem várias músicas primitivas, filtradas por escolas livres que as elaboram e a deixam uma arte popular, que é também técnica e harmonicamente sofisticada ao ponto de se transcendentalizar (também para todos, também comunal). Estão lá Paredes e o Tejo; Paulinho da Viola e noites e tardes e manhãs de Brasil; Fahey, Charley Patton e o blues como filtro primordial para dor e ardor; mas está lá algo mais, algo de outro para além disso. Um amor por todas as músicas e todos os músicos que vivem deste negócio de sentir para pôr em prática para sentir outra vez e mais - que a música são as pessoas e as pessoas são a música e estamos todos a sentir ser felizes ou a sofrer para que nos possamos salvar. E até lá o Norberto vai fazendo histórias dele, de achar sentimentos e restaurar espiritualidades que tínhamos esquecido, nunca reparado ou desenhado em nós, para que nos possamos alinhar no trilho da luz e da clarividência.
Ouvi-lo é ouvir um gajo livre, feliz, em Lisboa, nos dias que nós vivemos; é celebrar o que mais bonito esta gaita desta cidade e país de dicotomias, tragédias e milagres, possui, na bênção da música. É dizer que talvez devamos mesmo acreditar que podemos ser algo que mais ninguém é, para fazermos todo o resto do mundo sentir que eles são feitos da mesma matéria espiritual que nos construiu e tinge todos os dias, um a um. Aos de cá e aos de outros sítios.
Um brinde de todos nós, cada um que o ouve em disco e em palco, a 'Pata Lenta', esta maravilha de disco, e a todas as outras do Norberto que virão para nos ajudar a perceber como poder sentir os agoras e os do porvir.
bandcamp http://norbertolobo.bandcamp.com/
video http://www.youtube.com/watch?v=VCO6LN5W1eo
video http://www.youtube.com/watch?v=k6D6h7rOr_o
TONY CONRAD
Estreia lisboeta de uma das figuras essenciais do minimalismo e da música contínua nas últimas 4 décadas. Co-criador do Theatre of Eternal Music com Lamonte Young (com quem hoje não tem qualquer relação), apresenta no Auditório da Faculdade de Belas de da Universidade de Lisboa um solo para violino, numa colaboração da Filho Único com o Centro de Investigação e de Estudos Arte e Multimédia e a Fundação de Serralves.
site oficial http://tonyconrad.net/index_fri.html
myspace http://www.myspace.com/slappingpythagoras
video http://www.youtube.com/watch?v=uuEVfRrV2Hg&feature=gv ao vivo no Swiss Institute
TIME MACHINE + Filho Único DJ Set
Segunda mensalidade da Filho Único apresenta no Lounge uma das mais promissoras bandas de rock nacionais, focada religiosamente no domínio do psicadélico, do aquático e do espacial. Primeiro concerto a solo do grupo com Bernardo Devlin, o actual vocalista do projecto. Garage rock e freakbeat português, da melhor velha escola para a melhor das actuais em todas as coisas rock and roll.
myspace http://www.myspace.com/ostimemachine
Sublime Frequencies apresenta Group Doueh, Omar Souleyman e Djsets por Hisham Mayet, Alan Bishop e Mark Gergis
A Sublime Frequencies, editora que montou a estrutura deste concerto, tem tentado encontrar soluções para a apresentação de obras de origens oriental e africana evitando, tanto quanto é possível, os mecanismos de fusão e ensaiando a possibilidade de recriar contextos de apresentação que evite a deturpação provocada pela transferência para os palcos ocidentais. É também uma experiência criativa de programação que passa pelo facto dos seus fundadores gravarem e editarem estas músicas sem pós-produção. Esta é a primeira vez que, qualquer um dos destes dois projectos, é apresentado na Europa.
O Group Doueh, proveniente do Sara Ocidental, trabalha um som granulado e cru, partilhando raízes irmãs com a música da Mauritânia. A instrumentação assenta em guitarras espiraladas, de um deserto electrificado e aparentemente infinito, percussão de origem local, para além de um trabalho de voz dividido por todos os membros deste quarteto.
Omar Souleyman é uma estrela da música popular da Síria. Editou já para cima de meio milhar de cassetes (tanto em estúdio como ao vivo). Com uma carreira de 15 anos, recolhe vocabulários musicais da sua terra natal, do Iraque, Turquia e da vasta população Curda. Trabalhando desde o Dabke (música de dança folclórica regional), acompanhado de um indescritível som de teclado em escalas arábicas infernais, emprega também orquestrações de metais, cordas e percussão. Paralelamente, tem constantemente procurado explorar formas de canto improvisado tradicional, de pendor mais meditativo.
site oficial http://www.sublimefrequencies.com/
myspace http://www.myspace.com/sublimefrequencies2
myspace http://www.myspace.com/omarsouleyman
video http://www.youtube.com/watch?v=frwK_ID8GEY Omar Souleyman ao vivo
video http://www.youtube.com/watch?v=U2Sa5Zd9WTg Group Doueh ao vivo
Nota: A sessão de Djs e a projecção de filmes Sublime Frequencies terão lugar às 17h com entrada gratuita