RYAN SAMBOL
Ryan Sambol é o líder e voz dos Strange Boys, banda de Austin, Texas que lançou em 2009 o soberbo “The Strange Boys and Girls Club” na In the Red e, a partir de Fevereiro, com o novo álbum “Be Brave”, também inclusa no catálogo da Rough Trade na Europa.
Vislumbra-se a conquista planetária ao virar da esquina, sendo o globo do tamanho que cada entusiasta desta música simultaneamente familiar e universalizada, como crua e desafiadora (algo próximo disto como o Larry da In the Red escreveu sobre eles), sentir e passar palavra. Os gandins são especiais e desde a adolescência vivem na e pela banda.
A sua identidade, a sua personalidade, moldaram-se pelo percurso e progressão da banda, em sucessivas digressões a tocar ao vivo em bares, aprendendo a acreditar e desconfiar em bares, ao invés dos colegas na escola e festinhas em casas. Ryan diz que não é por aí, apesar da precocidade ou exposição e convivência com ambientes e contextos mais adultos providenciaram, que antecipou ou evitou argoladas e asneirada ao longo do caminho. Só tornou estranho falar com putos da mesma idade. O momento charneira, que mais lhe bateu pessoalmente, foi ter ouvido e depois apanhado ao vivo os Black Lips. Viu-os a curtir estar em palco e em tour, viu-os a divertirem-se e a divertir, entreter quem os tinha ido ver. Isso processado pela cabeça e carisma de Ryan, pela sua exímia escrita de canções e entrega com a sua voz única, misto de Cobain em ‘endless nameless’ amestrado pelo panache de Ray Davies, tornou-se num fenónemo em palco que importa hoje abraçar, de tão fresco e revigorante que nos delicia. E se calhar ainda levamos com a versão de Patsy Cline que diz andar a tocar com a sua outra banda The MLKS (The Martin Luther Kings), nome pelo qual a dada altura ainda considerou renomear a sua pandilha principal. Imperdível a rimar com à pala, no primeiro sábado à noite do novo ano.
video https://www.youtube.com/watch?v=XnZt5zJBW9k ao vivo no ‘fuck yeah fest’ em Set.
PETERBASTIAANZIN&NUNOPESSOA LIFE ACT
Duo de música improvisada incendiária e contagiante na senda dos grandes embates saxofone – bateria sucedâneas do arquétipo free. Peter Bastien é um senhor de idade e de juventude, golfadas de gasolina em chamas extáticas de sopro livre, enquanto Nuno Pessoa é sobejamente (re)lembrado como o baterista dos lendários Pinhead Society, sendo que leva já uma década no lombo de currículo extenso em outras bandas e colaborações (Chullage, Coldfinger, Artistas Unidos, ..).
site oficial http://www.peterbastian.dk/
video http://www.youtube.com/watch?v=EfFn7q5MQDg ao vivo no out.fest, 2008
DAVE BURRELL
Dono de um vocabulário que percorre tanta da história do jazz, as suas raízes, desenvolvimentos estéticos e transcendentais, até à eterna instabilidade que cada segundo do presente nos oferece, Dave Burrell une de forma sincrética a grandiosa amplitude desta e doutras músicas norte-americanas. É habitual vê-lo articular com a maior fluidez a aparente simplicidade de um boogie ou do ragtime com um trabalho rítmico, abstracto e metafísico nas teclas do piano, informado tanto por Jelly Roll Morton, como por Coltrane, como por Leonard Bernstein. Em Dave Burrell, toda a música que está na sua matriz artística é indivisível, toda ela é bela.
Dos seus tempos de estudante na escola de música de Berklee, onde contactou com colegas como Tony Williams ou Sam Rivers, atravessando a revolução do free e do jazz de vanguarda em Nova Iorque, até o seu cruzamento com os músicos de Chicago do AACM em Paris imediatamente no pós-Maio de '68, Dave Burrell tem-se mantido, com altos e baixos de notoriedade, mas com uma crescente e inatacável alma, paralela ao seu discurso, como um dos grandes pianistas da história do jazz.
Trabalhou em datas importantíssimas da história do género, de ‘Attica Blues’ ou 'The Way Ahead' de Archie Shepp (de quem foi aliado durante largos anos), a 'Sings' de Patty Waters ou 'Black Woman' de Sonny Sharrock, bem como em vários registos com Marion Brown, Pharoah Sanders ou Sunny Murray. Em nome próprio dirigiu o que será eventualmente o grande testamento do free jazz colectivo para grandes ensembles, 'Echo', editado pela etiqueta francesa BYG/Actuel - um disco com cerca de três dezenas de músicos, que, como diz o próprio, nesse álbum tocaram "como se fosse o seu último dia na Terra". Transferiu e revolucionou a ópera de Puccini 'La Vie de Bohème' para um universo jazzístico, óptica que renovou para o seu trabalho ‘Windward Passages’ (1979), entretanto assinando uma das pérolas da música libertária da viragem para a década de 1970 com 'After Love', editado na America Records.
Foi preciso um hiato de praticamente dez anos, em que foi resgatado pelo saxofonista David Murray no final da década de 1980, para que se voltasse a prestar a atenção devida a este músico. Demasiado concentrado na progressão do seu trabalho, no seu conhecimento do passado e em clarificar as possibilidades do futuro, manteve-se desinteressado em chamar os focos para si, quando os holofotes do jazz estavam apontados a outro tipo de ascensões. Desde então, felizmente, tem sido presença mais regular em estúdio e palco.
Esta década que agora termina foi a do regresso de Burrell aos discos enquanto líder, depois de praticamente três décadas sem esse cargo sob sua inteira tutela. Em 2004 dirigiu o trio Full-Blown, com William Parker (baixo) e Andrew Cyrille (bateria), no magnifico álbum 'Ascension', que foi extremamente aplaudido por público e crítica. Em 2006 edita outro trio de piano, 'Momentum', e no final de 2009 inaugura em disco a sua colaboração com a cantora Leena Conquest, dedicada à canção norte-americana e ao songbook do jazz.
Neste concerto na Culturgest irá apresentar, além de algumas das suas composições mais importantes, um repertório de vários standards que vem revisitando e desconstruindo há décadas, de Gershwin, a Monk, a Ellington. Um solo de piano que funciona como preciosa oportunidade para ver a história da música de um país a reinventar-se, pelas mãos de quem tem ajudado a defini-lo, perante nós.
site oficial http://www.daveburrell.com/
video http://www.youtube.com/watch?v=oCbEZa23Jz4 ao vivo na Stazione Leopolda, Florença
SEI MIGUEL EDGE QUARTET FEATURING DAVE BURRELL
Figura ímpar do Jazz e, definitivamente, da história da música nacional, Sei Miguel prossegue trabalhando, vai para três décadas, numa linguagem composicional, arranjador e instrumentista por cartografar, analisar e divulgar seriamente.
Ao longo de centenas de actuações ao vivo e de trabalhos editados em casas como a Ama Romanta, Creative Sources ou Headlights, tem dirigido personalidades de diferentes quadrantes da cena musical, que, em alguns casos, dele retiveram fundamentais ensinamentos. Colaborou regularmente com músicos nacionais como Rafael Toral ou Manuel Mota, tendo desenhado trabalhos específicos que executou com gente como Joe Morris ou Aki Onda.
Nessa senda apresentar-se-á no Cabaret Maxime em final de tarde de domingo o quarteto dirigido por si, com a participação especial de Dave Burrell. Sei Miguel escreveu uma peça de cerca de 50 minutos para esta ocasião única intitulada “As Mãos em Concha”, construída com o intuito de acolher o piano do mestre americano de forma completamente livre. Ao invés de assistir Burrell de forma competente, ainda que canónica como um qualquer quarteto pós-bop ou pós-free que graçam pela Europa, a proposta ‘edge’ é uma de um campo aberto para o piano do músico estar, como ninguém mais o poderia proporcionar. Um encontro entre a blues internacional mediterrâneo de Miguel e a amplitude magna da música americana de Burrell.
A formação para matinée tão requintada é então a seguinte:
Dave Burrell – piano
Sei Miguel – trompete de bolso
Fala Mariam – trombone
Pedro Gomes – guitarra eléctrica
César Burago – percussão
site oficial http://rt2.planetaclix.pt/seimiguel/enter.html
JANDEK
Há um pouco mais de três décadas, em Houston, no estado norte-americano do Texas, uma editora, a Corwood Industries, produzia o seu primeiro álbum, 'Ready For The House', atribuído ao grupo The Units. Na capa, uma sala daltónica e a janela selada por uma cortina amarela; no disco, uma guitarra acústica afinada para lá de qualquer normalidade, uma voz como uma aparição, desolada e inatingível. Poucas palavras, esparsas, brutalmente exactas e simples.
Foram necessários três anos para que a Corwood voltasse a lançar outro registo, mas em 1981, com 'Six on Six', surge pela primeira vez o nome Jandek (em substituição, por razões legais, de The Units). No quarto de século que se seguiu, mais de meia centena de álbuns viriam a ser editados por esta entidade, que escolheu nunca conceder uma entrevista sobre o seu trabalho, nunca ser fotografada para o público a não ser através do artwork dos seus discos, e nunca se apresentar num concerto, até 17 de Outubro de 2004. Essa tarde em Glasgow, no âmbito do Instal Festival, um “representante da Corwood Industries” subiu ao palco para cerca de duas horas de música. Para muitos, foi como se célebres reclusos como Pynchon ou Salinger estivessem pela primeira vez aos olhos do mundo. Desde então, Jandek tem-se vindo a apresentar ao vivo, com formações variáveis constituídas maioritariamente por músicos locais às cidades em que toca, com uma regularidade assinalável (mesmo que nunca excedendo a dezena de espectáculos por ano).
A sua música, como talvez nenhuma outra, não é comparável com exactidão a nada. Herda, de uma forma muito primordial em algumas canções, uma métrica dos blues primitivos; lida com um atonalismo que lhe é exclusivo, com completa soltura harmónica, estrutural, emocional. Canta-nos a partir de um sítio onde olha todas as coisas com clareza e poesia, aterrorizante como só um ser humano a mostrar-se ao universo no seu estado mais despido, pujante e trémulo o pode ser. Será, porventura, essa a única maneira desta expressão total sobreviver - num sítio onde o mundano não a consiga tocar. Explosões, momentos de quietude absoluta, meditações e ruminações, momentos de difusão e revelação, impolutos de justificações.
Este conjunto de factores fez de Jandek um dos criadores mais debatidos do séc. XX por parte de todos os que tomaram conhecimento da sua obra; todas as incógnitas à sua volta, e o facto de os seus discos só poderem ser adquiridos através da fonte, continuam a contribuir para que o mito e a ignorância acerca do mesmo persistam, e que essa discussão não se alastre para um maior número de pessoas.
Contudo, não existe nada de escondido na sua música, nada para explicar - tudo o que há para perceber reside lá, e é nessa totalidade, da oferenda e do silêncio, que vive um dos grandes corpos de trabalho em música deste e do último século. Canções, spoken-word, peças e improvisações de pura e angular energia, pianos massacrados, rockers sorridentes, lamentos espíritas.
Jandek personifica a música num estado de que esta se tem vindo a afastar, o de uma existência verdadeiramente individual, incólume, desconectada de qualquer convenção espiritual, intelectual, social. A brutal transparência dos honestos, de um artista que unicamente nos apresenta a sua arte, onde todas as respostas oferecidas dispensam qualquer pergunta.
Após o monumental concerto na Fundação de Serralves em Janeiro do ano passado, nesta sua estreia lisboeta no Teatro Maria Matos designou três músicos locais para o acompanharem. O fundamental trompetista e compositor de jazz Sei Miguel, André Ferreira (importantíssimo guitarrista nos Tropa Macaca, principal compositor e escritor de letras dos revolucionários da canção nacional Aquaparque), que escolheu para tocar piano pela primeira vez, e o espírito livre saxofonista de Peter Bastien, músico holandês há muito a residir em Portugal.
site não-ofical 'Guide to Jandek' http://tisue.net/jandek/
site oficial do documentário ‘Jandek on Corwood’ http://www.jandekoncorwood.com/
MANUEL MOTA
Tremendo músico português que voltou a lançar no ano trasacto mais uma pérola, de seu nome ‘Sings’, com todo um universo de pistas e concretizações sobre as possibilidades da guitarra eléctrica num contexto contemporâneo. Partindo do blues enquanto idioma modal, Mota coloca questões que ultrapassam géneros de jazz, do rock e da improvisação, propondo de forma humilde e extraordinariamente honesta, várias perguntas e chegando a várias conclusões sobre o que ainda há a exprimir numa linguagem guitarrística solista hoje em dia.
A actuação a solo do Manel será antecedida e seguida pelo tradicional set da Filho Único nos pratos do #1 da Rua da Moeda.
myspace http://www.myspace.com/manuelmota
PANDA BEAR + DÂM-FUNK DJ Set
Regresso aos palcos nacionais após praticamente dois anos de um dos grandes da canção e da pop deste arranque de milénio. Autor do clássico absoluto ‘Person Pitch’ e co-autor de todas as maravilhosas obras-primas que os Animal Collective teimam em nos oferecer ano sim, ano sim, Noah Lennox, integradíssimo cidadão lisboeta e benfiquista dá o seu primeiro concerto depois da mítica actuação no B.Leza, para mostrar à capital como vai todo o som que tem na cabeça, em véspera de disco novo.
myspace http://www.myspace.com/pandabear
video http://www.youtube.com/watch?v=LfK33kqT8l8&feature=related ao vivo na Bélgica, 2 novas músicas
editora http://www.paw-tracks.com/
Damon Riddick foi uma das revelações de 2009 agora findo, tendo o seu perfil e trabalho público começado a crescer a partir da sua base em LA, onde com as suas festas Funkmosphere iniciou o seu processo de sedução planetária das pessoas para o seu som que cunhou de “modern funk”. A sua ressuscitação do som do funk dos 80’s – mais depurado e mais doce, masculino e glamoroso – informado pelo eixo anterior parliament/funkadelic, bem como pela house de Chicago e o g-funk de início dos 90’s da sua nativa Costa Oeste, concretizou-se em pleno na edição no final do ano passado do seu primeiro álbum “Toeachizown” (edição da Stones Throw), que marcou presença nas listas dos melhores discos do ano em praticamente todas as publicações que importam na avaliação da contemporaneidade da música.
De um dj set seu pode-se esperar o verdadeiro espírito de entusiasmo e partilha de música. O homem não se coíbe de se pronunciar ao micro durante a viagem que propõe, desde agradecendo o clube e os seus anfitriões, a avisar o povo na pista quando vai mudar o ‘tempo’ na malha seguinte. Ele grita os nomes dos artistas que passa, títulos de canções e ano de edição das suas obscuras pérolas que selecciona, e até instruções para apreciar o seu trabalho: “Ladies, if any guys ask you to dance, do not refuse. I repeat, do not refuse-use-use”. Também no Festival All Tomorrow Parties de NY, em Setembro último, DâM-FunK mandou a dica que provavelmente poucos, senão nenhum dj alguma vez berraria: “Animal Collective in the house!” Prenúncio de f-e-s-t-a- !
myspace http://www.myspace.com/damfunk
editora http://www.stonesthrow.com/
entrevista na Fader http://www.thefader.com/2009/12/11/feature-dam-funk-redefines-borders/
entrevista no LA Times http://articles.latimes.com/2009/nov/01/entertainment/ca-dam-funk1
MATT VALENTINE & ERIKA ELDER + TRIGRALA + HEAD OF WANTASTIQUET
Um dos principais responsáveis pela recuperação e reelaboração do ideário psicadélico levado a cabo em massa nesta década que agora passou, Matt Valentine é um novaiorquino a trabalhar publicamente desde o início da década de 90, primeiramente como co-fundador dos Tower Recordings, e ao longo dos últimos anos enquanto Matt Valentine ou MV em variadíssimas formações (nas quais Erika Elder/EE é uma constante). Valentine é uma personificação das mais nobres contra-culturas norte-americanas e intercontinentais criadas no Ocidente contemporâneo - da folk dos anos 60 aos delta blues do Mississipi dos anos 30, dos medicine shows de viragem para o século XX à liberdade estrutural do free jazz dos anos 60, a muita da estranheza e marginália discográfica da história da música gravada.
O seu profile subiu relativamente em anos recentes, visto que, paralelamente às suas edições feitas em casa à mão com Elder no estado americano do Vermont, o par de discos que editou pela editora de Thurston Moore, a Ecstatic Peace, beneficiarem da distribuição de uma editora planetária. Superficialmente mais acessíveis mas igualmente libertos e sem concessões como o resto do seu corpo de trabalho, 'Green Blues' (2006) é um atestado de vitalidade do formato canção como muito pouca coisa nos últimos tempos, e 'Gettin' Gone' uma oficialização com jeitos de homenagem do seu fascínio pelo trabalho de Neil Young, nomeadamente da era de álbuns como 'Zuma' ou 'On The Beach'.
'Barn Nova', o primeiro lançamento neste registo multinacional em duo de MV & EE (os dois anteriores tinham sido com uma formação bem mais alargada), saído em Outubro do ano transacto, é o regresso em disco e à estrada das canções de Valentine no seu estado mais simples e despido, menos ligado aos arranjos e orquestrações psicadélicas de grupo que utiliza na sua banda, a Bummer Road, com quem se apresentou em Portugal aquando da sua última passagem, no primeiro trimestre de 2007 no Museu do Chiado, depois de uma visita em 2005 à Fundação de Serralves e à Galeria ZDB. Ladeado por Elder, a abstraccionista mais doce que anda por aí no blues cósmico, MV é um free spirit e um pensador sem limites, uma autêntica versão contemporânea de todos os cidadãos livres e transcendentalmente americanos, sejam eles Walt Whitman, Jack Kerouac, Charley Patton ou Albert Ayler. Não há gravação sua disponível que não largue rastos de poeira lunar, a tal de que Buda, Platão e Wordsworth falavam e deixavam entrever. Enquanto guitarrista, poeta ou cantor, é único em misticismos e espacializações da vida terrena. O seu universo é de densidade eterna e brilho infinito, tudo aquilo em que toca ganha vida e vibração. Uma instituição norte-americana ambulante, obrigatória para quem quer sentir a obliteração divina de um sol na terra. Um verdadeiro original em épocas de marketização da imagem da liberdade mas não do seu conteúdo, criador de ética intacta, apenas interessado na progressiva destilação de uma expressão própria.
myspace http://www.myspace.com/mveebummerroad
editora http://www.ecstaticpeace.com/
video http://www.youtube.com/watch?v=t3c3iWq5ca0 ao vivo
Trio que tem deixado cada terra ao rubro por onde passa neste nosso país inacreditável, lindo e completamente esburacado, apresenta-se no Museu do Chiado nas vésperas da edição do seu primeiro álbum, com o selo nacional mais imponente a surgir em anos, o da Mbari.
A guitarra revolucionária de Norberto Lobo (aqui principalmente concentrado em tambura), o novo estado acústico do Guilherme Canhão (depois dos cometas feéricos dos Lobster), e o delírio vibrafonista de Ian Carlo Mendoza (que anda também a explorar percussões latinas várias, e todos os outros objectos - todos são possibilidades - onde a música existe), numa unificação muito rara.
Estão por aqui traços dos Tortoise de 'TNT' e de um Steve Reich de arraial metafísico, um teluricismo lusitano que compreende e transcende as coordenadas que Giacometti e associados nos deixaram. Um continuar das tradições tribais como aglutinadas por Don Cherry (e aqui redireccionadas para linguagem própria pelos Tigrala), mas acima de tudo, como em qualquer outra circunstância que envolva qualquer um destes músicos, o cerne vital desta coisa que aqui temos perante nós está noutro sítio, mais acima destas histórias de escrever. Está no maior dos amores pela música, no milhão de feixes de luz do encaixe milagroso que só existe nas circunstâncias mais empáticas de som e partilha - a alegria pura destes três homens que há pouco deixaram de ser miúdos, em desbravar estradas de melodia, ritmo e todos os transes, milagres e asceses que daí advém.
O nosso 'Art Ensemble de Mirandela' como nos disse um amigo há tempos, uma - aqui é mesmo - celebração para nos deixar com danças novas para todos os dias que daqui em diante nos surgirem pela frente.
myspace http://www.myspace.com/tigrala
video https://vimeo.com/5411295 ao vivo no Festival de Curtas de Vila do Conde
mbari http://mbarimusica.blogspot.pt/
Projecto a solo de Paul Labrecque, figura de destaque nos Sunburned Hand of the Man e, em perspectiva, constante e consistente luminário no underground norte-americano da última década, a acompanhar MV&EE em algumas das datas da presente tour europeia. Wantastiquet é uma montanha em New Hampshire, que Labrecque decidiu usar como constelação mental para configurar o seu pathos para errância e incerteza, na sua vida e na sua música. Vivendo actualmente na Bélgica, editou em 2008 o LP “Mortagne”, pela Ecstatic Yod, a sua visão pessoal de contemplação e deriva na natureza selvagem, um disco comprimido em termos de dinâmicas mas que se impõem pela premência do ruminar antigo da imersão no caminho, quando em caminho para nenhures em concreto. Um torpor mnésico ao comprido, plácido mas não anónimo, autoral mas não boçal. Apresenta-se no SARAU de Fevereiro munido do seu banjo, guitarra acústica e gravações de campo. Algures entre o sacro Doc Boggs e um Terry Riley a substituir The Edge num concerto de U2 na tour de promoção a “War”, esperamos sentir porque um projecto a solo é encetado quando sozinho se depura o que de mais recôndito um tem para oferecer.
myspace http://www.myspace.com/headofwantastiquet
video http://www.youtube.com/watch?v=fnFhW6YHkt4 ao vivo
entrevista http://www.digitalisindustries.com/foxyd/features.php?which=375
com o apoio da
LULA PENA e SIR RICHARD BISHOP
Lula Pena apresenta-se no Museu do Chiado depois de um maravilhoso recital para uma casa para lá de muito cheia neste mesmo local no último Verão, a pouco tempo da edição do seu extraordinariamente aguardado segundo álbum, que estará para breve. Num ano em que finalmente poderá ser celebrada como o seu tremendo talento e singularidade artística o merecem, nesse seu meneio único das tradições mediterrânicas e de vários trânsitos intercontinentais do espírito e da mente, uma cerimónia em contexto mais intimista.
Na mesma noite o regresso de um dos nossos favoritos, Sir Richard Bishop, co-fundador dos cruciais Sun City Girls, já mais que lançado na sua travessia em nome próprio, na qual tem explorado um cruzamento místico (tão a sério que consegue gozar com ele) entre o psicadelismo turco, magia branca, Django Reinhardt, Robbie Basho e o som de uma América tão abondanada quanto em festa. O último ‘Freak of Araby’, lançado pela Drag City, é mais um monumento de sabedoria deste, um dos grandes piratas benignos da música ocidental contemporânea.
myspace http://www.myspace.com/lulapena
editora http://mbarimusica.blogspot.pt/
site oficial http://www.sirrichardbishop.net/
com o apoio da
MAGINA
Acabado de sair, ‘Nazca Lines’ de Magina, o suprimido nome artístico de Pedro Magina (Aquaparque, ex-Dance Damage) é um tratado de new-new age e de efabulações revisionistas de Vangelis ou de Jean Michel Jarre profundamente diferente da grande maioria da manada que tem surgido nos últimos tempos, a falar da recuperação da memória colectiva de infância, ou do lixo cultural passado revisto para a contemporaneidade. É, como tudo o que conhecemos do trabalho do Pedro, 100% honesto, e não tem ponta de seguidismos e preocupações de estação. O encadeamento melódico das três faixas deste EP é tão aparte como os leads de teclados fantasmagóricos dos Aquaparque (que aqui estão por todo o lado), numa narrativa que segue uma direcção hipnótica rara, em música com a carga sentimental da real subúrbia portuense, aqui transcendentalizada. Estreia ao vivo a solo para o primeiro dos Menassos.
myspace http://www.myspace.com/memagina
JOE MCPHEE + CHRIS CORSANO
Nascido em Miami em 1939, aos 8 anos tocava trompete. A partir de finais dos anos 1960 iniciou-se numa grande variedade de instrumentos (todo o tipo de saxofones, clarinete, trombone, piano). Influenciado por John Coltrane, Albert Ayler e Ornette Coleman (figura essencial no arranque do seu percurso), Joe McPhee é um dos mais relevantes espíritos livres e transgressores da forma e do vocabulário do jazz e de áreas que ele mesmo ajudou a tornar adjacentes.
Colaborando desde cedo com músicos com preocupações estéticas e espirituais semelhantes, em direcção ao desconhecido e ao vibrante, trabalhou com a nata do jazz mais esclarecido norte-americano e europeu, assim como com a vanguarda da música electrónica dos anos '70, caso da Deep Listening Band de Pauline Oliveros, pioneira da música contínua.
O currículo de McPhee conta com mais de meia centena de álbuns, entre os quais muita obra em seu nome próprio na editorai de jazz HatHut, fundada precisamente para lançar a sua música. Trabalhou com uma lista interminável de artistas seminais da música das últimas quatro décadas, sendo hoje, tanto ou mais do que no passado, um barómetro dos novos terrenos por onde o jazz caminha.
site oficial http://www.joemcphee.com/
Uma das grandes marcas das músicas criativas do início do século XXI é, ao contrario das fusões jazz-rock dos anos 70, um encaixe amadurecido, profundamente miscigenado entre o free-jazz dos anos 60 e os vocabulários libertinos com alinhamento espiritual irmão. Vimos o rock, a psicadélia ou o minimalismo fundirem-se com os verbos de John Coltrane e Albert Ayler, criando novas avenidas lexicais de expressão não cartografada.
Chris Corsano, baterista, será talvez o primeiro exemplo verdadeiramente acabado desta música total. Colaborador de gente tão distinta quanto Paul Flaherty, Thurston Moore ou Björk, conseguiu desenvolver uma linguagem percussiva de extraordinária amplitude e recursos. Tanto pode gerar uma narrativa de êxtase permanente, levando o grito eterno dos saxofonistas e sopradores dos 60s à sua consequência lógica - um uivo supremo contínuo, como pode ter invenção para nos maravilhar com ressonâncias e com as possibilidades plásticas e acústicas das peles do seu instrumento. Capaz de interagir em variadíssimos 'settings' criativo e vocabulares (o seu interesse por várias formas de músicas é bem alargado), nunca deixa de ser profundamente afirmativo e de impôr a sua linguagem, mas sendo um absoluto e carismático virtuoso, é também dos mais nobres e generosos improvisadores de hoje.
Joe McPhee e Chris Corsano encontram-se então para a sua primeira série conjunta de datas na Europa, depois de um concerto único na Escócia, no festival Subcurrent, em 2006.
myspace http://www.myspace.com/chriscorsano
BEACH HOUSE
Das bandas que irão ficar, pelo power melódico e universalidade composicional, na história da pop desta década, os Beach House regressam a Lisboa com um ‘Teen Dream’ prestes a sair e por quem muitos estão à espera, lançado pela Sub Pop. Parte de uma linhagem que parece unir Kendra Smith e os Opal ou Hope Sandoval e os Mazzy Star, a voz estatuesca de Victoria Legrand encontra encaixe cada vez mais refinado nas linhas de guitarra etérea e estupendamente objectiva de Alex Scally. Depois de uma memorável actuação num Maxime pelas costuras em 2008, voltam a ter bola de espelhos num Lux que se quer pronto para uma serão de lamentos e redenções.
myspace http://www.myspace.com/beachhousemusic
LITTLE CLAW e GABRIEL ABRANTES
Data inaugural da primeira digressão europeia dos Little Claw, das bandas mais interessantes, também porque das primeiras e subsequentemente daquelas com os intuitos mais puros e transparentes, da real catrefada de rock lo-fi que tem vindo de uma América apaixonada pela sua própria imaturidade, fetichismo, espontaneidade e incompetência artística. Os Little Claw praticam um rock entre o histérico e o baladeiro, calibrado pela sujidade e desfigurado por um atonalismo controlado com poesia e tontura, entre uns Royal Trux do primeiro álbum e umas Bikini Kill consequentes, caso tivessem ouvido a delicadeza pelo meio dos uivos de ‘Horses’ de Patti Smith. Dá toda a ideia de terem tropeçado e dado por si perante o abismo existencial, e resta-nos a nós abanar a cabeça em consonância com esta batalha interna da banda de Portland, que vem com o selo de aprovação Thurston Moore, que os editou na sua Ecstatic Peace.
Na primeira parte há uma actuação de Gabriel Abrantes, justamente galardoado e celebrado jovem homem renascentista, que concerteza nos brindará com algo ridiculamente inteligente, acutilante, pertinente, provavelmente hilariante e talvez musical, mas sempre sonoro e livre.
myspace http://www.myspace.com/littleclaw
entrevista http://www.ruadebaixo.com/gabriel-abrantes.html na Rua de Baixo
HOLGER CZUKAY + GALA DROP
Holger Czukay nasceu a 24 de Março de 1938 em Gdansk (antigamente reconhecida pelo seu nome alemão ‘Danzig’), no Norte da Polónia, sendo que o artista afirma ser um ‘legítimo sobrinho de William Tell’. Em 1946 ateou um fogo num campo militar russo na sua área, e logo fugiu para a ‘zona americana’ na nova Alemanha do Pós-Guerra, instalando-se em Berlim Ocidental. De 1963 a 1966 estudou com Karlheinz Stockhausen, e depois trabalhou como professor de música temporário até que em ‘67, quando ouve “I Am the Walrus” dos Beatles, desperta-lhe o interesse para a música popular da época mais desafiadora ou misteriosa, como os Velvet Underground, que até então tinha conscientemente ignorado. Funda os Can com Irmin Schmidt no ano seguinte e compõe e edita ‘Canaxis’, com a ajuda do produtor Rolf Dammers, um álbum solo constituído por 2 peças construídas por intermédio de assemblage visionário de sampling e posterior looping – de cordas de orquestra, etno-musicologia diversa e elementos ambient insuspeitos – pós-Reich e Stockhausen, com certeza, mas com uma escultura própria e pioneira, que a décadas de distância sincretiza-se em comentários funcionais como ‘fez a ponte entre o avant-garde e a música pop’. O que fica como marco para uma cartografia da música popular é, sem dúvida, a proposta de técnicas de sampling, ainda que rudimentares, via corte e costura de fita, e a apropriação de música do mundo, de diferenciados e distantes pontos do globo, resultado de gravações obtidas de emissões de rádio de onda curta, algo a que voltaria após o fim dos Can, em 1976, quando a banda minguava ao viver um período intencional de ‘vai-não-vai’ dar ‘o salto’ no mercado ocidental, dominado pelo eixo EUA - Grã Bretanha.
Em 1979 edita ‘Movies’, concretização magna da sua metodologia de collage sónica, alcançando um patamar de sofisticação ímpar. Para além de críticas entusiastas, o disco é recebido com largo interesse e curiosidade entre os seus pares da época, sendo até ponto de partida para o sucedâneo confesso pelos seus autores ‘My Life in the Bush of Ghosts’ de Brian Eno e David Byrne, o que proporciona que Czukay embarque em diversas e distintas colaborações logo então e na década seguinte. Destaca-se o álbum em parceria com Jah Wobble e Jaki Liebezeit, ‘Full Circle’, após perceber em Londres o impacto e reverência que alguns figurões pivotais do movimento punk como Johny Rotten nutriam pelos Can, onde sobressaiu o tema “How Much Are They?”, um êxito instantâneo de danceterias selectas na altura e revisitado desde então, quando as tendências o exigem, assim como o assomo disco rastafari íngreme de urbe brit ‘Where’s the Money’. Através de Wobble conheceu a vocalista japonesa Phew, com a qual gravou um álbum com o mesmo nome, também em parceria com Liebezeit e o produtor Conny Plank, e há também o contributo no disco de estreia dos Eurythmics de 1981, ‘In the Garden’, bem como os efémeros Les Vampyrettes, ‘apenas’ com Conny Plank, ‘apenas’ com um insuperável 12’’ homónimo editado.
A edição seguinte em exclusivo nome próprio foi, em 1981, o LP ‘On the Way to the Peak of Normal’ [ed. o Nelson diz que é brilhante], desenhado a partir de sessões com a banda de Dusseldorf SYPH. No seu alinhamento figura a obra-prima “Ode to Perfume”, suspensão de tempo e espaço em perfeita vigília sinestésica, um torpor simétrico de imersão para quem aceder ao convite.
Seguiu-se o projecto irrepreensível Snakecharmer, com Jah Wobble e The Edge (U2), com créditos de mistura e produção atribuídos a François Kevorkian, incluindo o clássico absoluto, fosse no Loft em NY ou no Frágil em Lisboa, ‘Hold on to Your Dreams’, com letra da autoria de Arthur Russell.
A década tomou-lhe tempo essencialmente em trabalhos de produção em estúdio para outros, mas regressa em 1987 com ‘Rome Remains Rome’, que incluía a controversa ‘Blessed Easter’ que continha um sample do Papa João Paulo II. Em 1988 trabalha com David Sylvian para o soberbo ‘Plight and Premonition’, ao que se seguiria no ano seguinte ‘Flux + Mutability’, incursão ainda mais delapidada de uma concepção, ambição, de ambient.
Após reunir os Can para o álbum de regresso ‘Rite Time’, ironiza sobre a percepção exterior sobre o seu percurso e persona com o tomo ‘Radio Wave Surfer’ de 1991. Passa o resto da década afastado de apresentações ao vivo, apenas voltando às edições em 1999 com ‘Good Morning Story’ (o seu primeiro registo a solo em 6 anos, após ‘Moving Pictures’ de 93).
Actualmente ocupa-se da gestão do seu próprio selo discográfico Diagnose, para além de manter os seus hábitos diários de trabalho nocturno em estúdio, começando depois do jantar e prolongando-se até ao nascer do sol, porque “a musician who can't play an instrument at all”, como afirmou numa entrevista ao The Japan Times em 2002, por ocasião de uma tour nipónica com os The Orb, “can play a whole orchestra because of editing”.
Encetou também uma relação com a editora Claremont 56, do britânico Mudd, agente criativo de linguagens disco laidback contemporâneas, que reeditou o seu album de 99 ‘Good Morning Story’ e o 12’’ ‘Ode to perfume/Fragrance’, revigorada visita à pérola originalmente presente no album ‘On the Way to the Peak of Normal’, ambas em prensagem de vinil limitada de qualidade. Saiu também em Fevereiro deste ano um 12’’ dos Bison, seu último projecto partilhado com a esposa Ursa Major, Paul Murphy, Benjamin Smith e Sal P (de Principato, dos Liquid Liquid), entretanto já esgotado.
Czukay diz que compõe usando a lógica, e que, acima de tudo, tem de se ter uma visão, um alcance, mesmo com a ideia mais crua ou bruta do que isso poderá significar. Isso é de uma eficiência clara, e continuando a citá-lo, há sempre a hipótese de ser surpreendido por algo, e aceitar e integrar esse algo que não tinha sido previsto. Afinal de contas, a atitude que o mundo tem vindo a tomar face à sua obra nos últimos 40 e tal anos.
site oficial http://www.czukay.de/
myspace http://www.myspace.com/holgerczukay
video "Ode to Perfume" http://www.youtube.com/watch?v=5EH5GFP2Otk
A originalidade, torna-se menos fácil discernir hoje em dia, é uma qualidade rara. A singularidade em relação ao que está para trás e ao que vai acontecendo a que alguns conseguem chegar, num determinado ponto do tempo, numa determinada circunstância, é algo que resulta, nos seus pontos mais altos, de trabalho sério, ritualizado, aberto, dedicado. É o produto maturado da espontaneidade, a autoridade tangível na estranheza, fruto do tempo e de um contínuo espírito progressivo.
Na música, parecem haver elos comuns em vários dos mais inovadores discos realizados. A criação de um objecto sonoro que reúne uma panóplia de influências - neste caso vastas, vastas -, a necessidade de se afirmar algo premente e previamente inaudito, a vontade de fazer música que os próprios artistas querem ouvir mas que ainda não existe (porque tanta da melhor música é feita por aqueles que mais a amam).
Os Gala Drop, de Nelson Gomes, Tiago Miranda, Afonso Simões e Guilherme Gonçalves são quatro músicos, figuras e activistas de uma Lisboa que ainda está para ser seriamente entendida e analisada por quem anota a história. O seu disco de estreia homónimo de 2008 é já um clássico desta Lisboa difícil de entender à primeira (como sempre nos momentos de avanço). Obra perfeitamente acabada, pensada, maturada, ensaiada e laborada, reúne campos estéticos, rituais e práticas previamente longínquos entre si. Orquestras de sintetizadores, do kraut e kosmische germânicos ao inferno de teclados dos franceses Heldon, do tribalismo percussivo da música psicadélica e de algum free a um conhecimento profundo de décadas de música de dança, das técnicas de processamento do dub jamaicano a uma sensibilidade extraordinária a recursos sonoros e mistura adicional (a cargo de Rafael Toral, também com créditos de masterização).
Depois de ano passado se terem apresentado no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian no âmbito do ciclo ‘Próximo Futuro’, ou terem embarcado numa pequena tour europeia ao lado dos Six Organs of Admittance, recentemente os Gala Drop estiveram em estúdio a preparar um EP a sair em breve, onde parecem estar a aprimorar o seu lado mais dançável e celebratório, introduzindo cada vez mais elementos de disco, house e melodias fortíssimas (de Cabo Verde a Chicago), sempre com o boogie como objectivo hipnótico eterno.
myspace http://www.myspace.com/galadrop
video 'Crystals' por Alexandre Estrela https://vimeo.com/2102020
THE STICKS
Regresso de um trio que anda a trabalhar em algum do mais interessante rock a ser calibrado e produzido na Europa, mais especificamente no Reino Unido. Os Sticks caminham algures entre o freakbeat e o garage dos 60s, a desolação mancuniana dos Fall e dos Joy Division, e o desgaste/superação lexical e sonora de uns Sightings ou de uns Hospitals. A coisa em última instância sai com absoluta concisão rocker, groove à maneira dos Gun Club mais acelerados, com vocalizações operáticas da linhagem This Heat. Têm a escola toda e o propósito de a levar à universidade, como o prova o seu primeiro longa duração, lançado pela hiperactiva promotora e editora londrina Upset The Rhythm. Antes e depois há dj set da Filho Único.
myspace http://www.myspace.com/thsticks
video ao vivo na Rádio Resonance http://www.youtube.com/watch?v=dHTWGCvVCA4
NIAGARA + Filho Único DJ set
Novo projecto de Alberto Arruda (One Might Add, ex-We Shall Say Only The Leaves) dedicado ao minimalão celebratório, em estreia absoluta ao vivo numa formação de trio que envolve membros próximos da sua família e família propriamente dita. Como no duo com Ruben De La Costa, aqui mantém-se o apreço de Arruda pela manipulação freestyle do ruído, mas inscrito num universo clubbing que se vai ligando a vários momentos da história da dança das últimas três décadas. Depois de ter sido residente no Op Art no início da sua adolescência, é com o maior prazer que o vemos novamente dedicado ao seu grande amor – o bounce. Filho Único mete discos antes e depois dos Niagara.
myspace http://www.myspace.com/niagaraaragain
VASHTI BUNYAN + B FACHADA
Artista preciosa e irrepetível na história da canção britânica, Vashti Bunyan tem um percurso tão particular quanto a sua música, das coisas mais delicadas do mundo. O seu primeiro single, “Some Things Just Stick To Your Mind”, editado quando tinha 20 anos, foi escrito por Mick Jagger e Keith Richards. O álbum que a tornou um mito, o supremo ‘Just Another Diamond Day’ de 1970, contou com a produção virtuosa de Joe Boyd, num disco pejado de pérolas e com vários contributos de membros dos Fairport Convention e da Incredible String Band. Nos primeiros anos do século, após décadas em que se tinha dedicado à vida no campo com o seu marido e família, descobriu que Devendra Banhart andara a falar dela a meio mundo, e que este também se apaixonara de igual maneira pelo seu trabalho e voz. Seguiram colaborações com Devendra, o magnífico EP ‘Prospect Hummer’ com os Animal Collective, e um belíssimo regresso, ‘Lookaftering’. A pureza da sua música terá sido das influências determinantes para tantos dos que marcaram a canção dessa década. Que mantenha todas as suas qualidades hoje é um pequeno grande milagre, que urge testemunhar. Já há muito tempo que a queríamos ter cá. Está quase.
site oficial http://www.anotherday.co.uk/
myspace http://www.myspace.com/vashtibunyan
editora http://fat-cat.co.uk/fatcat/artistInfo.php?id=98
Quando crescia sempre me pareceu estranha a falta de referências literárias na música que a minha geração apanhou quando éramos todos mais putos. Aparte a mordacidade e as gargalhadas que o JP Simões nos ofereceu, pouca gente cantava em português, e a grande maioria dos que escolhiam fazê-lo eram tão inacreditáveis que lembrá-los seria dar-lhes uma menção que nunca mereceram.
Temos tanta tradição de acutilância, humor, e um tipo de reflexão íntima e social muito nossa, torturada e sem receios da exposição que acarreta, que desperdiçar um legado desses nestas últimas décadas sempre foi parecendo criminoso. Dá a ideia que desde o tempo em que aquela gente toda ía à Brasileira ou ao Gelo que nos faltavam estetas da mesa de café, que ao comentarem e incensarem a nossa realidade de vida de capital lhe auferiram importância, vibrância e motivaram o confronto com os factos.
B Fachada, para além de ter surgido como um cometa desta escrita audaz de paróquia, graças a deus, ainda tem bastantes mais qualidades. Um verdadeiro alferes da honestidade, desdobra-se num trabalho de advocacia de vários épicos (outras vezes modestos episódios), tanto do âmago como de episódios circundantes, da vida de cama e de outras coisas do amor, dos seus sucedâneos e da amizade. Pelo meio vai buscar canções à Beira, lutando à sua maneira por uma batalha que Giacometti travou a seguir a Abril, e também assim reinventando o que ainda pode restar da "canção portuguesa" dos sítios que as cidades tornaram abandonados.
Em palco lembra por vezes a estatueta de Dylan nas suas viagens com Pete Seeger no arranque dos anos 60, cruzado com alguma indumentária e pigmentação do António Variações. Em outras ocasiões parece um Anthony marialva, com um alcance de oitavas cada vez mais articulado, igualmente robusto e sensível, a cantar das coisas delicadas, das coisas do maior escárnio, com poesia na boca como, salvando os notáveis Aquaparque (num universo musical extremamente diferente), não se via há décadas na música nacional.
O álbum homónimo, pela maioria crítica e popular gabado no final do ano passado, é um magnífico pulo de maturidade relativamente ao punhado de fortíssimas canções que já estavam em 'Fim de Semana no Pónei Dourado', e é eventualmente a primeira ameaça mesmo óbvia dos sinais de grandeza que vinha evidenciando. É com muito prazer que apresentamos pela segunda vez num evento Filho Único este verdadeiro escritor de canções, que irá lançar brevemente um magnífico EP onde Bonga e Marceneiro se fundem num Super-Fachada hilariante e estival.
bandcamp bfachada.bandcamp.com
editora http://mbarimusica.blogspot.pt/
Video ao vivo no ‘5 Para a Meia-Noite’ RTP2 http://www.youtube.com/watch?v=_my6TgDvX4E
SEI MIGUEL: THE JEWEL SYSTEM/FASE 2/CASA GRANDE
Músico crucial nos avanços do jazz contemporâneo, Sei Miguel acaba de lançar o monumento precioso ‘Esfíngico - Suite For a Jazz Combo’, a sua estreia pela Clean Feed.
Para esta apresentação, Sei apresenta o seu programa de trabalhos ‘The Jewel System’, aqui na sua 2ª fase, ‘Casa Grande’, que se segue às três apresentações da 1ª fase deste processo, o ‘Metal Music 4’, que foi mostrado em locais como a Casa de Serralves e o Festival Out.Fest. O trompetista escreve: “segundo o compositor americano john cage a música possibilita objectos sonoros e sistemas. o 'jewel system', contrariando até certo ponto a corrente de "peças sei miguel", é um acontecimento muito humano, feito de materiais reflectores em ascensão”.
A formação para este concerto, integrado nas celebrações da Noite dos Museus, é a seguinte:
sm - trompete, escrita e direcção
fala mariam - trombone alto
pedro gomes - guitarra eléctrica
césar burago - percussão
Sei Miguel. Nascido em 1961, Paris, viveu no Brasil e em França até radicar-se em Portugal nos anos oitenta. Cedo escolheu o trompete pocket, instrumento que toca com consciência plena de toda a história do jazz. Director, arranjador e instrumentista utiliza no seu trabalho soluções avançadas e singulares de timbre, fraseado, espaço e silêncio, que vem aperfeiçoando há décadas. É dos raros músicos da contemporaneidade que encara e manuseia o jazz como um universo de progressão artística e humana de potencial aparentemente infinito.
Fala Mariam. Trombonista natural de Lisboa. Em 80, durante uma viagem pelo norte da Índia, intuiu o fogo sagrado da verdadeira música, que reencontra no jazz mais iniciático e na gratificante descoberta de diversos trombonistas. Sidewoman de Sei Miguel desde 83, participa em todos os trabalhos deste. Cultora de uma frase sem brilhos fáceis, capaz do expressionismo mas também da maior delicadeza, Fala Mariam é uma referência nos actuais desenvolvimentos de um dialecto livre arquitectado nas estruturas do bop.
César Burago. Percussionista nascido em Angola, dedica-se inteiramente às músicas do jazz. Presença regular nas orquestrações de Sei Miguel, tem dimensionado com o trompetista, desde 97, um plano de possibilidades e impossibilidades métricas, ambas expressas em trabalhos onde a percussão (principalmente a pequena percussão) ganha um enigmático valor melódico.
Pedro Gomes. Guitarrista (em formato eléctrico e acústico) natural de Lisboa, trabalha um vocabulário assente numa leitura transversal à história do blues, do rock e do jazz, dos seus expoentes planetários até às franjas e margens destes ecossistemas. Co-fundador dos CAVEIRA e de formações defuntas como os Manta Rota ou Braço, trabalha com Sei Miguel desde 2009.
entrevista http://bodyspace.net/entrevistas.php?ent_id=95
Vídeo ao vivo na Festa do Jazz do Teatro São Luiz em 2007 http://www.youtube.com/watch?v=LnKIq6vMe58
com o apoio da
SIC ALPS
“O que se pode dizer sobre os Sic Alps sem se soar largamente ridículo ou fumado?” - citando o paleio introdutório da editora Animal Disguise lá atrás na década, quando a banda arrancou para a fascinação do milieu rock bloguista que se seguiu. Um bafo intemporal de frescura envelhecida, com um calor e carinho vintage reintegrado para a contemporaneidade. Um garage-psych-rock para uma fúria pós-Y2K iniciado por Mike Donovan, Bianca Sparta (Erase Errata) e Adam Stonehouse (The Hospitals) por volta de 2004, mas composto actualmente por Donovan, Matthew Hartman (Cat Power, Coachwips) e Noel Harmonson (Comets on Fire). Chegaram à Drag City no ano passado, com a reedição do duplo LP ‘A Long Way To A Shortcut’, um falso greatest-hits aglomerando diversas edições passadas em formatos e tiragens menos acessíveis ou convencionais, e chegam agora ao Lounge em Lisboa para um sábado à pala de taina à la good vibes da cidade irmã San Francisco.
site oficial http://www.sicalps.com/
editora http://www.dragcity.com/
Vídeo ‘Arthur Machen’ http://www.youtube.com/watch?v=dHdYSlbB7Lw&NR=1
Vídeo Live from Pat’s In the Flats http://www.youtube.com/watch?v=kcAbfSMHNTs&feature
ATLAS SOUND + AQUAPARQUE
Regresso de uma das figuras mais icónicas do ideário da música independente dos últimos tempos, Bradford Cox, aqui num concerto a solo do seu álias Atlas Sound, que lançou o cometa ‘Logos’ no final de 2009 pela Kranky/4AD. Projecto entre a pop onírica de quarto de dormir dos anos 90, e o fascínio de Bradford pelos grandes cultores da melancolia e da transcendência que só a inocência pode conter, é figura tutelar para todos os vivem confusos pela incompreensão alheia do quão estranhos todos nós somos. A abrir a noite os Aquaparque, entre as reverberações da estreia ‘É Isso Aí’ e uma série de novas canções que têm vindo a apresentar recentemente onde mostram novas soluções para a dança no universo da canção contemporânea. Palavras em baile metafísico, no que ameaça ser um dos grandes contributos para o letrismo nacional em demasiado tempo.
myspace http://www.myspace.com/atlassound
blog http://deerhuntertheband.blogspot.pt/
editora http://4ad.com/artists/atlassound
myspace http://www.myspace.com/aquaparque
GHÉDALIA TAZARTÈS + CALHAU!
Estreia lisboeta de Ghédalia Tazartès, em apresentação a solo, depois do assombroso concerto na Culturgest Porto no final do ano passado. Figura absolutamente singular na história das coisas, tem mais de 30 anos de trabalho enraízados na liberdade e longe de quaisquer movimentações em registo manada. Fundamental no refazer da técnica e do animus em questões de trabalho vocal e colagem de som, sempre caminhou com a maior glória em terreno inaudito. A abrir a noite os magníficos Calhau!, casal Marta e João, magos dos impropérios e afagos de pêlo que emanam das suas canções folk ensaístas, depois do Dada, depois do Fluxus, depois de Rui Rio. Esperando-se um álbum cá fora até final do ano pela Rafflesia, gravado com a ajuda de Bernardo Devlin, regressam a Lisboa depois da comoção da sua concorrida actuação na Galeria Cristina Guerra, em Março último.
com o apoio da
KOSMICDREAM + Filho Único DJ set
Música sacra para galáxias distantes, o projecto kosmicdream do ícone kosmiche nacional por excelência, Guilherme da Luz, é o convidado que muito nos honra na edição de Junho da nossa residência mensal no Lounge. Membro dos lendários titãs do prog luso, Tantra, no período dos discos ‘Terra’ e ‘Delirium’, acumula actualmente uma carreira fértil de edições discográficas e actividade ao vivo em nome próprio, com a banda Mahamudra (que conta com Diogo Mateus na bateria, ex-X-Acto), e a multiplicidade de ramificações da sua visão holística psiconavegada do Ser e do Infinito: kosmichurch, kosmicmeditation e kosmicdream, com o qual nos irá brindar nesta noite, num alinhamento tingido pelo matiz da música da sua primeira banda Eternus, com o calor e densidade que apenas o seu material analógico específico consegue apontar. Como habitualmente 2/5 da equipa FU passa discos pela noite dentro.
site oficial http://www.da-luz.net/
myspace http://www.myspace.com/kosmicdream
video ao vivo http://www.youtube.com/watch?v=9ui61NTkiYo&NR=1
ARIEL PINK’S HAUNTED GRAFFITTI
‘Before Today’, o álbum acabado de sair pela 4AD e que a presente tour europeia que chega a Lisboa e Porto nos próximos dias vem promover, estabelece definitivamente Ariel Pink como o príncipe do reino norte-americano da música popular independente. Parece soar socialista a afirmação, com desconto à imagem monárquica, mas logo aferimos que de tal nada se reveste tendo em conta o estado actual da estrutura de edição e distribuição de música classificada como independente. Esta parece ser a única que continua a crescer e com horizonte para o continuar a fazer. Afinal de contas, uma gigante indie como a 4AD ou a Domino não parecem operar de uma maneira muito distante de gigantes indies do passado antes das suas vendas/fusões como a Chess Records, Elektra Records ou Atlantic Records.
O mesmo se poderá dizer de Ariel Pink, com uma carreira já longa de misantropo psicotropicado, aculturado musicalmente como um verdadeiro paladino da Canção, soluções para arranjos dessa instituição captadas em diferenciadas fontes, mais ou menos canónicas, credibilizadas, evocadas. Nascido a 24 de Junho de 1978 em Pico-Robertson, 20 minutos de carro a sul das Hollywood Hills de L.A., Ariel Marcus Rosenberg ia para o Liceu de Beverly Hills por car pool, esse método de partilha de boleias em automóveis entre cidadãos tão inovador e revigorante para noticiários das tv generalistas nacionais circa ano passado. Com a edição em 2004 de ‘The Doldrums’ pela Paw Tracks, editora dos Animal Collective, confundiu muita gente então a sair dos enclaves de pós-punk recessos e da mui propalada freak folk. Era a Pop abanada até às suas fundações, virada do avesso, escalpelizada e conspurcada de trivela, colada a cuspe pela obcessão de um esteta singular. Com valores de produção infra-lo-fi até para referências prévias como Sebadoh ou Beck-discos-ao-lado-da-altura-‘Mellow Gold’, Ariel tornava claro que o seu objecto de desejo e base de trabalho para uma carreira era a Pop. Com uma juventude formativa em géneros estilísticos mais extremos como o punk, industrial ou o death metal, volta à música popular de massas em meados de 90, quando começa a gravar as suas canções de forma caseira – vivendo assim um ciclo estranho de editar a partir de 2004 material que tinha gravado anos antes, com certeza, o mais parecido com uma realidade paralela que tanto o fascina como conceito abstracto. Mas como partilhou em entrevista recente à Stool Pigeon, “a música adequa(va)-se ao equipamento, por oposição a alguém afirmar ‘isso vai soar altamente quando podermos ouvir acabado ou à séria’ ”, provando que na sua mitologia de ‘géniozinho mamado’ há espaço para ‘o gajo pensou mesmo isto’. A intencionalidade do seu processo de escrita e produção advém de um misto de inexperiência e visionarismo, sendo ele próprio o primeiro a reconhecer, o que é apanágio dos grandes, escolhidos ou não. Muita gente anda excitada com o novo disco, velhos e recentes apaixonados pelo artista, antigos e novos torcedores pelo homem. É o capítulo decisivo para sustentar a sua disseminação e conquista popular por esse mundo fora, ele que se sente como ‘um adulto em corpo de criança’. Atribuem a Ariel um papel de ‘figura paternal’ desta nova vaga conceptual de bolso, sobre a dimensão da memória e como as canções pop servem o propósito de remeter o sujeito para a altura em que a ouviram pela primeira vez, vulgo empatia musical massificada. Ariel encolhe os ombros, aproveita toda a atenção desta vez, nem que seja para mais tarde recordar. Não poderia estar no lugar dos MGMT, não teria cabeça nem cu para as leis de compensação do sistema, mas como irá ser daqui para a frente dada a evidência do seu poder e influência criativa no panorama contemporâneo?
myspace http://www.myspace.com/arielpink
editora http://www.4ad.com/
video 4AD Sessions http://4ad.com/sessions
video oficial "Bright Lit Blue Skies" http://www.youtube.com/watch?v=VcS0oJwlz_Q
álbum para escuta em streaming http://latimesblogs.latimes.com/music_blog/2010/06/ariel-pink-album-premeire.html