Ogoya Nengo & The Dodo Women's Group + Bruno Silva DJ set
Ogoya Nengo, nascida Anastasia Oluoch em 1943 na pequena aldeia de Magoya, perto das margens do Lago Victoria do lado do Quénia, descende de uma família de mulheres oradoras e cantoras Dodo, uma prática e função tradicional de mensageiras e comentadoras na sua comunidade, que tomou para si ainda jovem. Recebeu o nome ‘Ogoya Nengo’ por volta dos 13 anos, que significa algo como ‘A Valorosa’. Ogoya tornou-se um fenómeno de popularidade há altura, digressionando na região com a sua música, cantando para chefes tribais, guerreiros e oficiais coloniais que ficavam fascinados com o seu talento. A sua abordagem ao Dodo, um género que está em perigo de desaparecer, é uma de cariz muito pessoal: a sua música de envolvência mística e porosa suspensão do tempo, é centrada na sua voz poderosa. Ela é uma artista folk em continuidade activa há mais de três décadas, mas cujo trabalho tem sido confinado à sua região, algo que mudou com a edição internacional do álbum "Rang’ala - New Recordings From Siaya County, Kenya" em 2014 pela Honest Jon’s. Fazendo uso apenas da voz e elementos de percussão, é ainda um outro documento da canção como língua universal. O sucessor “On Mande” foi publicado no ano passado pela recém-criada TAL Recordings sediada em Düsseldorf.
Com o apoio da EGEAC e das Galerias Municipais
Sar x Stasera + Blastah + NV
Edição de Julho preenchida por selectas de bagagens e viagens diferentes mas com a mesma cidade a dar-lhes espaço e clausura para as suas expressões musicais. Os Filhos Sar e Stasera irão fazer um set prólogo, fronteira final, skirt-skirt, jazzy jazz, é eles. Blastah é um profícuo produtor de músicas sociais, que tem trilhado o seu caminho rumo a clarificar a sua voz autoral na selva densa urbana e suburbana global. Com uma cassette editada na Golden Mist e trabalho de remisturas oficiais e piratas para outros pares, esta será a sua estreia no Lounge como DJ. NV, ou seja, Lucian Lupu, Romeno estabelecido em Lisboa há já uns tempos generosos, regressa como DJ para mais um set tai, de UK Garage pra frente, conversando entre Grime e Dubstep selecções dos últimos 15 anos que lhe tocaram pra vida, num estilo próximo de DJ como Plastician, mas com mais vitamina D.
Blastah - https://soundcloud.com/blastahlx
NV - https://soundcloud.com/nvnexting
Volúpia das Cinzas + Varela DJ set
Formação orquestrada por Gabriel Ferrandini, que ganhou vida numa residência artística promovida pela Galeria Zé dos Bois ao longo de 2016, fruto da intenção do baterista – já reputadíssimo nos círculos internacionais do jazz e da música improvisada não idiomática – em construir trabalho no campo da composição. Dedicou-se a escrever “temas originais numa onda descrita pelo próprio como “classic jazz meets free improv”” como o texto da ZDB revelava no primeiro anúncio, “acompanhado por dois cúmplices de longa data: o contrabaixista Hernani Faustino e o saxofonista Pedro Sousa.” Continuando citando, pela justeza das palavras “O primeiro, seu parceiro no RED Trio e uma das pontes primordiais para o diálogo geracional que desde sempre tem sido criado com a maior das naturalidades, e o segundo como uma espécie de alma gémea do baterista, num crescimento paralelo que toma aqui uma nova forma de estar igualmente sincera.”
Sessão para o Ginga Beat - https://www.redbullradio.com/shows/ginga-beat/episodes/vol-422-volupia-das-cinzas
Entrevista Ípsilon - https://www.publico.pt/2016/01/20/culturaipsilon/noticia/gabriel-ferrandini-em-busca-da-sua-verdade-1720004
Com o apoio da EGEAC e das Galerias Municipais
Hieroglyphic Being + Novo Major DJ set
Hieroglyphic Being é por ventura o mais inimitável e resiliente produtor de música electrónica e de dança dos nossos dias, com um percurso independente e, até certa altura, marginal, pela atitude ética e gesto estético com que sempre impregnou o que criava e como o mostrava. Cresceu na cultura House da sua nativa Chicago, integrando ideias e formas de outros campos como o jazz, industrial ou ambient, e polinizando sem pruridos misticismo New Age, literatura esotérica ou ficção científica para cartografar o seu mundo conceptual múltiplo e em constante movimento. No ano passado celebrou 20 anos da sua editora Mathematics e, entre a proficuidade de edições e pseudónimos por outros tantos selos discográficos, destaca-se em tempos recentes o álbum ponto de rebuçado “The Disco’s of Imhotep” na Technicoulour. Um espírito inquisitivo no terreno movediço da nebulosa “dance culture”, entre ortodoxias reaccionárias, políticas identitárias progressistas, mecenato de marcas homogeneizante e volta e meia aquele PA sofrível que é preciso superar.
Com o apoio da EGEAC e das Galerias Municipais
Vaiapraia e as Rainhas do Baile + Pega Monstro DJ set
Vaiapraia e as Rainhas do Baile é pontificada por Rodrigo Soromenho Marques, também edificador da MATERNIDADE, justamente proposta como uma "comunidade de produção e promoção artística”. Alinhado diacronica e sincronicamente com a 'pop underground internacional', e comandado pelo seu arguto olhar artístico sobre a cultura popular mainstream presente e passada, lançou no ano passado o disco “1755”, na nacional Spring Toast Records. A maioria das suas canções têm o condão de se nos revelarem em perfeito equílibrio entre simplicidade clara e subtileza cúmplice, seja na lírica e interpretação, seja nos arranjos directos desenhados para os temas. A estrutura e direcção minimal que imprime à banda, em que menos é mais, e o vulnerável é o que tem mais força, um não tão frequente exemplo inspirador e emancipante, tem progressivamente angariado uma generosa plateia de ouvintes pelo país fora, online e IRL. Prova de que muita gente estará sempre disponível para ser entusiasmada por quem lhes desafia pistas para pensar e abraçar a realidade social à sua volta, dentro e fora de si.
Bandcamp - https://vaiapraia.bandcamp.com
Com o apoio da EGEAC e Galerias Municipais
NOITE PRÍNCIPE c/ Blacksea Não Maya, Dj Lilocox, Dj Bubas
Navgantes de Julho.
Poster por Márcio Matos
Príncipe https://principediscos.bandcamp.com
Blacksea Não Maya - https://soundcloud.com/black-ea-n-o-maya
Dj Lilocox - https://soundcloud.com/deejay-lilocox
Dj Bubas - https://soundcloud.com/bubas-produtor
Mais informação em http://www.musicboxlisboa.com
Ricardo Rocha
Nasceu em 1974, sendo neto do guitarrista Fontes Rocha, um nome incontornável do repertório da guitarra portuguesa tão enraizado na música popular no nosso país. Começou a tocar guitarra aos 8, e nos seus verdes anos a curiosidade levou-o ao piano, instrumento e repertório associado que considera ter-lo permitido compor para a guitarra portuguesa. Agraciado já por duas vezes com o Prémio Carlos Paredes, assim como recipiente do Prémio Revelação Ribeiro da Fonte para Jovens Compositores e Troféu Amália Rodrigues para Melhor Guitarra Portuguesa, diz sempre ter distinguido e vivido “com muita disciplina os dois mundos: a guitarra e o mundo do fado, e depois poderia criar-se outro mundo paralelo ao do fado”. Ou como a editora Mbari propunha em 2010 pelo lançamendo do seu segundo álbum “Luminismo”, apelando a entendê-lo para além da técnica fenomenal evidenciada, Ricardo Rocha “assemelha-se mais a um cirugião, extraíndo o tumor ‘Fado’ de um instrumento que raramente conheceu vida própria, para além da inscrita nessa tradição de Lisboa”. Afiançou um provável ‘adeus aos palcos’ em nome próprio a 29 de Março de 2011, num monumental concerto no Teatro Maria Matos em que apresentou a integral – até essa data – das suas composições para guitarra portuguesa. Em 2014 lançou um novo disco, ''Resplandecente'', com um quarteto de guitarras interpretado pelo próprio em lúcida heteronímia, revelando que “subverter um cânone socorrendo-me de outro – o do quarteto – provou-se simplesmente irresistível.” Neste regresso aos concertos apresentará um conjunto de Prelúdios para guitarra portuguesa, inéditos em disco, intuindo-se novo abalo sísmico na literatura do instrumento por este raro, desafiante e precioso compositor-intérprete.
“Irradiante” (do álbum “Resplandescente”, Mbari, 2014) - https://soundcloud.com/mbari-m-sica/ricardo-rocha-irradiante
“Luminismo” (Mbari, 2010) - https://ricardorocha.bandcamp.com/releases
Com o apoio da EGEAC e MNAC
Gigi Masin
Nascido em Veneza em 1955, Gigi Masin tem estado em actividade como músico desde o início da década de 70. Marcou uma geração italiana de DJs nas estações de rádio FM, essencialmente pelo seu trabalho pioneiro de ‘turntablism’ ao actuar com pratos de vinis, mesa de mistura, electrónica ao vivo e loops de fita em espectáculos de artes do palco e para a rádio nacional. O seu primeiro álbum a solo “Wind” chegou só em 1986, tornando-se ao longo dos anos um clássico de culto, pois a singular música baleárica ambiental nele fixada, algures entre Harold Budd e Arthur Russel, não chegou a um público alargado devido a distribuição comercial deficitária e uma cheia que destruiu a maioria da tiragem em armazém. Três anos depois edita na Sub Rosa “Les Nouvelles Musiques Du Chambre” em duo com Charles Hayward dos This Heat e no virar da década edita “Wind Collector”, novamente a solo, e segue-se uma pausa nos discos por um período de 20 anos. Ao longo do tempo vários artistas de diferentes quadrantes foram-no samplando, dos To Rococo Rot (‘Die Dinge Des Lebens’) a Bjork (‘It’s In Our Hands’) aos Main Attrakionz (‘Church’). A holandesa Music From Memory resgatou-o em 2014 para uma compilação em vinil duplo, ‘Talk To The Sea”, ilustrando a sua obra por cerca de 30 anos. Há dois anos, na mesma editora, surgiu “Clouds” dos Gaussian Curve, um trio de Gigi Masin com Jonny Nash (Land of Light) e Marco Sterk (mais conhecido como DJ Young Marco).
“Talk To The Sea” (Compilação, Music From Memory, 2014) - https://music-from-memory.bandcamp.com/album/talk-to-the-sea
Com o apoio da EGEAC e MNAC
Calhau!
Von Calhau! nasceu no Porto em 2006 e “designa todo o trabalho produzido em bicomunhão prática por João Artur e Marta Ângela”. Desde a sua incepção tem desenvolvido um admirável contínuo transdisciplinar em artes visuais, filme e música. A sua produção de desenhos e obra (seri)gráfica, explorações em poesia visual, engenho de instrumentos musicais, idealização de figurinos e caracterização cenográfica, e apresentação pública de projecções de filmes, concertos, performances e lectures, evocando referências que vão desde Lygia Clark a Raymond Roussel bem como evidenciando um fascínio pelo “elitismo, às vezes esotérico, de certas manifestações da cultura popular (rural)” como qualificava João César Monteiro, em entrevista por alturas de ‘Veredas’, interpelam-nos a considerar as fabulosas dimensões fasciculadas que compõem a sua cosmologia calhauística. Realizações recentes em Lisboa incluem o espectáculo Tau Tau que esteve em cena por duas noites no Teatro da Politécnica, no âmbito da BoCA, e a exposição ‘Valun Chão’ na Galeria Pedro Alfacinha, consecutiva a ‘Rotornariz’ no mesmo espaço.
Site - http://www.einsteinvoncalhau.com
Com o apoio da EGEAC e MNAC
NOITE PRÍNCIPE c/ DJ Nunex, Ary Boy, Puto Márcio, DJ Firmeza
Malvasia de Agosto.
Príncipe - https://principediscos.bandcamp.com
DJ Nunex - https://soundcloud.com/nunexaltonivel
Ary Boy - https://soundcloud.com/djaryboy
Puto Márcio - https://soundcloud.com/putomarcio
DJ Firmeza - https://soundcloud.com/dj-firmeza
Poster por Márcio Matos.
Primeira Dama
Manel Lourenço é desde o início de 2015 Primeira Dama e, a partir do aparecimento do colectivo e editora Xita, este rapaz lisboeta tem vindo a trabalhar com os seus amigos formas de transformar a natural afiliação em matéria relevante para o cancioneiro nacional. A história começou muito antes quando este se vê rodeado de músicos em toda a sua família, tanto paternal como maternal. Estudou música durante quase 10 anos da sua vida e encontrou instrumentos de criação e expressão musical, como o saxofone, obviamente o piano e os teclados, sem esquecer a sua desenvolta tessitura vocal que faz com que tenha aprendido a lidar com a melodia e a harmonia sem grande esforço. Lançou o debute “Histórias por Contar” no ano passado, gravado com a orientação de Filipe Sambado, uma coleção de cantigas pop atlânticas, uma foz de cafeína num mar de codeína, onde episódios do quotidiano, rasurados, abstractos, buscavam pelo universal a partir da sua experiência individual e geracional. Este Verão chega-nos o ambicioso novo disco, homónimo, gravado em Aveiro, com a ajuda preciosa de João Sarnadas (Coelho Radioactivo).
“Primeira Dama” (2017, Xita Records) - https://xitarecords.bandcamp.com/album/primeira-dama
Com o apoio da EGEAC e MNAC
Noite Príncipe c/ Cirofox, Puto Anderson, DJ Maboku
Poster por Márcio Matos.
Anti S + Migas + Local Artist
Anti S é o nome que Santi Zubizarreta escolheu para o seu lume solista Rock cru, minimal e ruminante. Explorações em guitarra eléctrica com a honestidade da vocação pelo vazio, ruído pelo não aprendido, directamente de Vigo, na Galiza.
Migas é o duo de Primeira Dama e Kerox, tropas da Xita Records. Já com alguns concertos no cabedal, lançaram em Fevereiro o single “Arroios Beauty” no bandcamp da editora de Lisboa, fixando-nos a música de baile caseira que fazem como sai para já, com todo o tempo do mundo para encontrar a sua voz descarnada de reverberações, no sentido figurado e literal da expressão.
Dj set será por Local Artist, um produtor e Dj de visita da consistente comunidade de Vancouver de house, parte baixa fidelidade, parte sofisticada aplicada, com máxis publicados na Proibito, Rhythm Section Internacional e Mood Hut (nesta enquanto Slow Riffs).
Anti S bandcamp - https://anti-s.bandcamp.com/releases
Migas "Arroio Beauty" - https://xitarecords.bandcamp.com/album/arroios-beauty
Local Artist bandcamp - https://localartist.bandcamp.com/releases
Local Artist "Local Artist" EP - https://proibitorecs.bandcamp.com/album/local-artist-local-artist-ep
Festival Zona Não Vigiada c/ Equiknoxx, God Colony + Flohio, B Fachada, Tomasa del Real, DJ Nigga Fox
Há dois anos, todos juntos, que estivemos lá, conseguimos edificar um dia inspirador e feliz de celebração do espírito humano. A espontaneidade e a liberdade reinaram sobre a tensão e atitudes pré-concebidas. As pessoas e a música, na sua energia e vibração positiva, foram o assunto e substracto do evento.
Na tarde de Sábado 16 de Setembro, tomará lugar a próxima edição do Festival Zona Não Vigiada, produzido pela Filho Único e pela Casa Conveniente/Zona Não Vigiada, integrado no programa Lisboa Na Rua e com o apoio da CML/EGEAC. Eis o programa, faltando ainda acrescentar uma actuação resultante de uma Residência Artística desenvolvida na Zona J na semana antecedente:
Equiknoxx é um colectivo da Jamaica surgido nos últimos anos apostado em revitalizar a tradição da música Dancehall a partir da terra que a viu nascer e expandir-se pelo mundo fora. A partir do seu disco “Bird Sound Power” editado o ano passado, foi apresentada uma colecção de temas que mostram trabalho convicto em novas e empolgantes mutações para o género, soando o resultado a algo eminentemente avançado e simultaneamente clássico, que tanto tem apelado aos puristas de folia bashment como a iniciados seduzidos pela experimentação tímbrica e de equalização na arquitectura das faixas. Fundamentalmente alicerçado nas figuras e talentos de Gavin “Gavsborg” Blair - um já reputado autor de sons para gente como Busy Signal, Sizzla, Vybz Kartel ou Beenie Man - e Time Cow (Jordan Chung), ao vivo apresentam-se na típica operação de sistema de som ao ar livre, com Dj a lançar a base instrumental e um a dois vocalistas, como Kemikal e Shanique Marie, a cantarem para e com o público, uma equação de festa de rua arejada e inclusiva. Estreia em Portugal, data única.
Soundcloud - https://soundcloud.com/equiknoxxmusic
Perfil e entrevista - http://pitchfork.com/features/rising/10084-equiknoxx-are-saving-dancehall-by-making-it-weird-again
God Colony é uma dupla de produtores sediados em Londres, parceiros desde a adolescência e que têm estado a trabalhar na realização de uma música urbana inquisitiva da sua própria natureza e direcção, enraizada na sua deslocação, descentrada na sua vida online contaminada. Lançaram no Verão passado o EP “Where We Were”, em que contaram, entre outros com a colaboração da rapper Flohio, membro do colectivo TRULUVCRU do Sul de Londres. Som directo mas sofisticado, bebendo do melhor do fluxo Bristol via Caribe, Londres via África Ocidental, na tradição UK de produtores a trabalhar com vocalistas que melhor servem e elevam a matéria sónica que procura a magia da comunicação, a identidade da imaginação. Estreia em Portugal, data única.
B Fachada é para nós, o compositor e intérprete mais importante, mais generoso e mais exigente que se afirmou na última década no nosso país. Na atitude e ética de trabalho independente e excelência no ofício da escrita de canções vivas na sua tradição que sabe que pela frente tem apenas o presente, foi, primeiro, um estranho numa terra hostil. Sem conivência, tem abordado certezas comuns através da denúncia, da parábola, do paradoxo, do sonho, do excesso. A verdade não está num sonho, mas em muitos sonhos. Com fineza e grosseria, arrancou com “Até Toboso” em 2007 para a netlabel Merzbau e só descansou depois da escanção d'“O Fim” em Dezembro de 2012, tendo colaborado com uma transversalidade impressionante de criativos ao longo do caminho. Cumpriu em 2013 um ano sabático, e assistiu a parte do êxodo do público que o ouvia para o estrangeiro em busca de emprego e dignidade, a par da emergência por cá de uma nova geração de compositores e intérpretes inspirados no seu exemplo e na sua música, que agora, tal como a nossa economia e ânimo nacional, diversifica-se e colhe elogios à esquerda e à direita. Verão de 2017, entre o comércio directo da sua discografia completa no seu Bandcamp ou a parceria ‘Violência Electrodoméstica’ com Xavier Almeida e o despontar de Pato Bravo, a espera continua por um novo disco de originais. E a intensidade comunal a cada novo concerto pelo nosso país que continua a percorrer, mostra que a ininterrupta celebração e transformação do seu repertório ao vivo é das experiências mais poderosas em que se pode imergir e bailar. Única data em Lisboa, este Verão.
Tomasa del Real é a carismática Chilena a co-dirigir uma revolução generacional e identitária na cultura juvenil alternativa da América Latina e diaspora associada. Ela diz que é apenas uma mulher ‘com bons amigos, um Mac e Wi-Fi. Estou aqui e sou do agora, e o agora é o futuro.’ Mas outra leitura poderá passar pelo resgate e transformação que ela e outros millennials com ela alinhados espetaram à infraestrutura Reggaetón, lembrando as suas raízes comunitárias anteriores à massificação operada, mas também mantidas ao mesmo tempo, resistindo, troçando, reapropriando. Fez-se uma estrela popular subterrânea nas suas viagens pelas Américas, aventura iniciática sustentada pelo seu ofício de tatuadora que lhe financiou a estrada, e turbinada pela fama dos seus sons e visuais partilhados no Youtube que a precedia, a convidavam para tocar em festas de amigos improvisadas. Estreia em Portugal, data única.
Os seus EPs "O Meu Estilo" e "Noite e Dia" vieram partilhar uma perspectiva revitalizada da música electrónica de dança por uma progressista assinatura autoral, aquilo que faz com que uma produção de DJ Nigga Fox, a uma escala global, seja única e reconhecível. Este ano lançou “15 Barras” na Príncipe, vinil 12'' de um lado só com uma peça musical de longa duração, sem dúvida a proposta mais desafiante até agora na sua discografia, aguçando o apetite para o que se segue.
"15 Barras" (2017, Príncipe) - https://principediscos.bandcamp.com/album/15-barras
"Lumi" no Cargaa 1 (2015, Warp Records) - https://soundcloud.com/warp-records/dj-nigga-fox-lumi
OUT.FEST 2017 - JONATHAN ULIEL SALDANHA & CORAL TAB + CORO BE VOICE
Compositor, activista, programador e produtor, Jonathan Uliel Saldanha tem tido um papel fundamental, presente e consequente na realidade e quotidiano da música progressista no Porto ao longo de praticamente todo este século. No seu trabalho podemos encontrar alguns interesses coerentes desde o início do seu percurso até hoje. A acusmática, a electroacústica, uma ideia actualizada e esclarecida do industrial, a intercontinental cultura de bass e de soundsystems, a composição moderna e pós-moderna, e a realidade construída num mundo de software pós-Max MSP.
Nos últimos anos começou a compôr, nomeadamente para algumas encomendas institucionais, trabalho coral, pelo que achámos que seria uma óptima ocasião para o ter o TAB, grupo coral dos Trabalhadores da Autarquia do Barreiro, à disposição do Jonathan. Fundado em 1993, conta hoje com mais de 50 membros, e é dirigido desde a sua formação pelo Maestro Manuel Gonçalves.
Mais informações em http://www.outfest.pt
OUT.FEST 2017 - CHARLEMAGNE PALESTINE, QUARTETO DE SEI MIGUEL, CATERINA BARBIERI
Figura basilar no cruzamento ao longo das últimas 4-5 décadas entre os campos de actividade que juntam a música e as artes plásticas e visuais de vanguarda, Charlemagne Palestine, continua a destacar-se como um dos últimos filhos do violento cruzamento entre a composição moderna/pós-modernista e o conhecimento auto-didacta de rua. Apanhou com John Cage e a sua nova ciência para o conhecimento sobre música e som. Assombrou com novas ideias o minimalismo novaiorquino dos 60s e 70s. Foi criando trabalho crucial de vídeo, escultura e multidisciplinaridade com bonecos de peluche, viagens loucas de mota, órgãos de igreja e o diabo a sete para provar que todos temos uma chance de entendimento através da anulação da parte desnecessária e supérflua do ego, e o investimento na boa fé e nas boas intenções. Virtuoso nas suas próprias técnicas em piano, órgão de igreja, cálice de cristal cheio de conhaque ou vocalizações, vai fazer aqui o que lhe apetecer.
Compositor e trompetista residente em Lisboa desde os finais da década de 70, tem feito um trabalho raríssimo que intertextualiza variadíssimos campos de conhecimento e técnica. Cruza jazz (linguagem central), a composição de todas as eras que estudou e habitou, a curiosidade e leitura própria sobre as utilizações da métrica, electricidade e electrónica, e gerou o seu personalizadíssimo método de escrita – para si e para os seus músicos -, que oferece a todos os seus trabalhos um tipo de visão e conhecimento aparte de qualquer outro músico e ideólogo que conhecemos.
Compositora, académica e pragmatista nascida em Bolonha, Caterina Barbieri é uma adepta indefectível destas maneiras de funcionamento através do sintetizador modular, nas suas várias acepções tecnológicas (muitos botões e cabos, a lembrar a imagem do “cientista maluco” dos anos 60, etc). Nas suas apresentações em forma escrita, é descrita e bem, como uma adepta das várias cargas mais e menos quânticas, mais e menos dramáticas, das oscilações que decorrem nas variações dentro do processo repetitivo de criar música a partir de processos e regras automáticas decorrentes do uso deste tipo de maquinaria a que se dedicou. As qualidades de sonoplastia, melodia, harmonia, ritmia, harmonia e o seu assumido trabalho sobre a tridimensionalidade do som e do tempo, ficam aparentes assim que ouvimos um par de minutos do seu trabalho. Translúcido, claro, definido, muitíssimo bem projectado e executado, o seu percurso é dos mais interessantes na composição electrónica europeia contemporânea.
Mais informações em http://www.outfest.pt
OUT.FEST 2017 - LOLINA, CASA FUTURO, PERE UBU (THE MOON UNIT)
Heterónimo da cidadã publicamente reconhecida como Inga Copeland, em tempos metade dos Hype Williams, este alias transporta-a para um contexto bem específico de canção atómica. Natural da Rússia, a artista vive já há vários anos em Londres, e é da história dessa cidade que conseguimos tentar vislumbrar algumas das referências aqui. O punk mais melancólico da viragem local dos 70s para os 80s, entre os primeiros Television Personalities e o “Ghost Town” dos Specials, que na verdade se serviam, tal como ela de uma maneira contemporânea, de fazer um retrato fantasmático de uma cidade desprovida de uma direcção clara. São canções perdidas numa assimilação só moderadamente sarcástica das funcionalidades da vida pós-AirBnB e demais coisas do capitalismo grotesco em piloto automático, que tenta resgatar nessa distância algum tipo de sanidade no meio de mais uma capital europeia sem qualquer noção de cidadania. Um projecto lateral para manter a cabeça funcionar, de uma das criadoras mais curiosas e bravas deste século na criação independente europeia.
Trio de Pedro Sousa, Johan Berthling e Gabriel Ferrandini, nomeado após a titular casa de S. João do Estoril. O duo Sousa/Ferrandini é já de há anos para cá dos mais robustos e imprevisíveis casamentos da berraria existencial da Grande Lisboa, e que tantas vezes se reconfigura nas outras combinações do Pedro e do Gabriel, com tanta música improvisada para a qual contribuem noutras formações. O encontro com a sumidade contrabaixística viking em questão produziu não só uma amizade como pariu o trabalho homónimo do grupo pela Clean Feed, que poucas e fantásticas críticas granjeou quando foi lançado, o necessário para que o trabalho ao vivo retomasse, com datas na Escandinávia e em Itália em 2016. Regressam agora a palco, nesta configuração que mostra o sax tenor do Pedro Sousa mais lírico, melodista e abstracto do que é costume; o contrabaixo de Berthling no seu melhor, num registo contemporâneo vindo dos clássicos trios de jazz; e a bateria do Gabriel, sempre um espanto, à procura de inventar mundos novos dentro de si, e na colaboração com os seus colegas. A ver onde nos leva esta rara banda intracontinental recorrente, num meio que tão pouco nelas realmente investe.
Nomenclatura actual para a apresentação do bebé de David Thomas, fundador e visão essencial por detrás das lendas do rock visionário dos Pere Ubu, o Moon Unit parece acabar por ser uma coloração titular da direcção natural da música do Sr. Thomas. Thomas sempre foi um absoluto iconoclasta, um ultra-crítico luminoso e com esperança; um libertário anti-conservador que mais americano não tem; um atonalista e harmolodista afinado por uma ideia de hino indepentista nas canções; a real personificação dos infinitos paradoxos da sociedade estadunidense. Nos Pere Ubu está, talvez mais do que em qualquer outro grupo, a génese da ideia do que viria a ser o que os jornalistas decidiram chamar de pós-punk. Mas está também ainda o fogo violentíssimo da comunidade rockeira de Cleveland da qual Thomas fez parte, e que deu origem aos também seus Rocket from the Tombs, que ao se atomizarem criaram tanto as visões sombrias dos Pere Ubu, como os próprios Dead Boys, que incendiariam o punk nova-iorquino, no seguimento dos sonhos dos manos Ramones. Já no último terço da sua vida, o Sr. Thomas virou realmente lunar, sem nunca perder nervo e violência construtiva. As suas palavras, ideias abrasivas e visão singular, tão cristalinas, animais e vitais como desde o primeiro dia.
Mais informações em http://www.outfest.pt
OUT.FEST 2017 - HUNGTAI / MARANHA / FERRANDINI, DJ NIGGA FOX, BLACK DICE, THIS IS NOT THIS HEAT, PUTAS BÊBADAS, DJ PROBLEMAS, GYUR, COLETIVO VANDALISMO, BOOKWORMS, SIMON CRAB, NOCTURNAL EMISSIONS, JEJUNO
Trio de três tipos bem diferentes de piratas. O cámone em causa é Alex Zhang Hungtai, canadiano de origem chinesa, pop-star pós-Suicide/Alan Vega que no meio da sua busca existencial veio dar a Lisboa. Na capital portuguesa deparou-se com várias personagens e com o seu próprio momento na busca por todas as coisas. Ao longo do processo, surgiram David Maranha, figura recorrente das músicas experimentais portuguesas ao longo dos últimos 30 anos, e Gabriel Ferrandini, torrente técnica, matérica e inquisitiva nos últimos anos do panorama local e nacional, e cada vez mais do jazz europeu. Como raras vezes ocorre, fizeram deste encontro intercontinental uma coisa regular. Gravaram dois discos, um deles publicados até à data. Fizeram várias datas em Portugal e uma longa digressão pela Europa. O Alex regressa agora por outra temporada a uma cidade que sempre o tem acolhido com entusiasmo para mais um capítulo deste trio de exorcismos, novas descobertas entre os vocabulários do rock, do free jazz, da improvisação, do minimalismo, e absolutamente sempre em busca de alto risco de algo novo.
Músico visionário luso-angolano que é capaz de sonhar tudo através de vida e imaginação, em melodia, harmonia, ritmo e hipnose. O pai era do Congo, a mãe era angolana, mas ele é mesmo é da Ameixoeira. Sonhou um mundo novo no seu quarto e desde aí que tem “partido esta merda toda”, ao sabor do que lhe ocorre, e do seu encaixe ultra-positivista e construtivo com os contextos que lhe surgem. Nigga Fox, produtor e DJ, é um dos pontas de lança (tipo Éder a jogar à bola; disse-o dois anos antes da final de Paris, sem se rir) da Príncipe, revolucionária editora e cooperativa de música da Grande Lisboa, que se tem vindo a dedicar à construtiva emancipação dos vocabulários portugueses vindo de África no campo da música de dança, naquilo que de mais moderno e contemporâneo Portugal tem para oferecer. Sucesso tem sido conquistado e absolutamente garantido, porque se trata de alguma da melhor música de pista do universo (pelo menos). Nigga Fox, talvez o maior alien da pandilha, virou naturalmente génio transcontinental, e é com o maior prazer que o recebemos no dancefloor futurista da ADAO, nas últimas horas deste OUT.FEST 2017.
Grupo realmente visionário ao ponto do trauma auto-inflingido, que desbravou montes e montes e montes e montes de território do ponto de vista do que poderia ser o som, de como ele pode ser organizado, do que pode ser a narrativa e a não-narrativa… enfim, do que é a descoberta de um bando de putos que meteram ácidos a mais, correu bem, e querem por cima disso andar para a frente até perderem o juízo. Inspiraram e vão continuar a inspirar gerações de gente que quer rebentar com as convenções da música electrónica e do rock e fazer algo inteiramente novo a partir desse entroncamento. Não publicam um trabalho de fôlego há 5 anos (lançaram, no ano passado, um EP de dois temas que soube a muito pouco) apesar de serem das grandes bandas brancas de música ao vivo deste século. Eric Copeland, um dos seus três membros, é dos que acaba por estar mais activo num plano solista, criando uma espécie de techno estático mutante de colagem em ultra violence, que insiste em ir publicando em várias editoras, nomeadamente a L.I.E.S., que no fundo, retrospectivamente, se tornou uma das entidades influenciadas pelo seu próprio trabalho. Os Black Dice foram e são das nossas bandas favoritas, acima de tudo porque não têm medo, e mesmo que tivessem, não teriam medo de ter medo. E é por isso que são os maiores, mais do que todas as outras coisas. Black Dice no OUT.FEST, #%$€)=“!.
Unidade crucial na música criativa britânica da viragem da década de 70 para a de 80, os This Heat, como a própria Grã Bretanha, eram uma ilha, mesmo que uma bem mais empática com influências externas plurais do que por ali é habitual. Descendentes directos – sem dúvida os mais directos – dos Can, aprenderam com toda a movida do denominado Camberwell Now e associados (Henry Cow, Art Bears, Robert Wyatt e amigos), com técnicas livres (dadaísmo, John Cage, pensamento progressista comunitário) de libertação e inventaram dois discos (e uns pozinhos preciosos, como a obra-prima ‘Health & Efficiency’) que ficaram e estão para sempre em suspenso na história da música urbana, na viragem da modernidade para a pós-modernidade. Electricidade, acústica, colagem, electrónica, loops, composição, improvisação, melodia, atonalidade, caos, ordem. Baladas, rock and roll, música concertista, ruído organizado, processos técnicos virados poesia… a forma sempre utilizada como função artística. Influenciaram milhentos artistas curiosos e curiosas desde então. Todos continuaram, com maior ou menor visibilidade a fazer música, mas até ao ano transacto, não tinham voltado a tocar, até que o farol londrino Cafe Oto os convidou para voltarem ao palco. Esta é uma das poucas aparições que fizeram desde então, onde revisitam com toda a fome um material eterno. São os This Heat, não são os This Heat, mas a música é deles, e deles só.
Banda de punk-rock psicadélico visionário e narcótico, que esteve meio milhão de anos a preparar o seu novo e segundo álbum em longa duração. No meio de um turbilhão que não cessa em criar vertigem após vertigem de reacção construtiva (às vezes só destrutiva) sobre a violência do conhecimento do novo, desbroncam-se sobre todo o tipo de confissões mais e menos delituosas acerca da experiência humana. Super secção rítmica de Leo Bindilatti (bateria) e Miguel Abras (baixo eléctrico, voz) encontra-se e mescla-se de de novas maneiras com a guitarra neo-cubista do Sushi e as vocalizações andróginas e guitarra afiadíssima de João Dória, para novas vistas daquilo que não só pode ser como aqui é, a voz nova do rock com mais coragem de admitir a sua dúvida e brutal confiança.
Heterónimo para música dançante de Afonso Mota; realizador, bartender, escritor de canções e personalidade geralmente curiosa e desafiante da Lisboa central dos últimos anos. Neste seu alias de DJ e produtor, enquadra as várias titulares problemáticas que unem questões de cruzamento sócio-cultural e artístico entre o techno, o house, a batida lisboeta dos bairros negros, e várias síncopes intercontinentais. Nessa busca concretizante acha métricas suas, incorpora texturas de outras geografias em ritmos indígenas cuja métrica ele personaliza, e só nesse trânsito já haveria pano para mangas. Mas ele continua. A ver até onde chega até Outubro de 2017.
Gyur é, tal como BLEID (que actuou no OUT.FEST 2015), parte da CRATERA, um grupo de jovens criadores de ‘conteúdos digitais’ com epicentro na difusa Grande Lisboa. Através do bandcamp do colectivo editou em Fevereiro último o primeiro disco, “Garble”, produzido, misturado, masterizado e com artwork pelo autor. Temas cascantes, de ataques rítmicos cyber punk levedantes, com um sentido narrativo cognitivamente desafiante.
Colectivo Vandalismo são Pedro Abrantes e Valdemar Pereira, que lançaram no final do ano passado a nortada carismática “Untitled” na nacional Eye For An Eye Recordings, selo do produtor e DJ, Lake Haze. Música minimal, agressivamente fresca e subtil, num equilíbrio aprimorado entre o cru e a sofisticação nos processos e resultados claramente vencedor. Evocativa das Waves europeias mais escuras e frias dos anos 80, transcende o fetiche fácil de compilação underground em cassete da época - até na tuga a “Coma” já no início da década de 90 deu fogo à peça - justapondo códices tecnados desde então tornados música.
Artista actualmente a residir em Nova Iorque por via de São Francisco, chegou inicialmente a alguma notoriedade com o esquizofrénico “African Rhythms”, que surgiu no youtube em 2009 e viria a fazer parte em 2012 do seu primeiro trabalho editado pela influente L.I.E.S. de Ron Morelli, três anos depois. Vários lançamentos em 12” depois, incluindo colaborações com Steve Summers, foi em 2016 que lançou o impressionante ‘Xenophobe’ pela BANK, o antecessor inicial de ‘Appropriation Loops’, editado este ano pela Break World. O seu trabalho é particularmente refrescante pela ausência de filiação a nichos e ganguezinhos, e pela capacidade que demonstra em que, com fluência, cruza house, techno, ideia métricas e de síncope que vão desde músicas indígenas até quebras de jazz. No seu mais recente trabalho, fica ainda ilustrado com mais transparência o seu conhecimento nos campos da síntese granular, música ambient, minimalismo ou electroacústica. Um sujeito realmente curioso, e sempre com a cabeça a disparar com impressionante critério de congregação para todo o lado que importa.
Figura central dos Bourbonese Qualk, mito do underground das electrónicas mais militantes, activistas e extremos da música britânica da década de 80, fundador da Recloose, casa para outros bandidos da tribo, tem trabalhado e publicado trabalho a solo em tempos mais recentes. Músico aparentemente curioso por todas as formas de música e de expressão sonora, acaba por ficar mais nas franjas da história da electrónica independente europeia nas últimas três décadas, por se ter ligado a um circuito ligado aos squats e à inviabilidade mediática do em igual medida funcional e disfuncional circuito punk. Nada que o pareça perturbar, no seu cruzamento de todas as formas de electrónica, analógica e digital, miscigenação globalista de vocabulários musicais, abolição crassa de ideias de alta e baixa cultura e carácter bravo dos seus trabalhos recentes.
Projecto com praticamente quatro décadas, inicialmente formado enquanto grupo, é desde 1984 o heterónimo utilizado pelo britânico Nigel Ayers para publicar as suas centenas (milhares?) de trabalhos até hoje. No mosaico praticamente impossível de sistematizar da sua carreira, detectamos um apreço enorme pela independência criativa, que perpassa a música concreta/concretista, a afronta dos verdadeiros punks, a electroacústica, uma ideia melodista/harmonista da percussão e dos sons contínuos, os espectros de vários músicas de danças tribais anciãs e contemporâneas, e um espírito de permanente busca pelo avanço pessoal e artístico. Vadios iluminados daqueles bons, como se quer.
Projecto da música e fotógrafa Sara Rafael, criada em Palmela e rapidamente adoptada em vida adulta pela Lisboa mais aberta à sensibilidade, nos seus vários quadrantes. A Sara trabalha essencialmente sobre uma ideia electrónica de loops excepcionalmente longos na sua duração, sobrepostos, capazes de dar voltas imprevisíveis sobre si mesmos numa caleidoscopia de processos que ela gere com pura intuição improvisacional. Soa tudo muito caro, mas na verdade o que rola é que ela pega em capacidades fantasmáticas do techno e do house, mas nunca perdendo o seu eixo, que é o do instinto, das visões e das assombrações e sonhos pessoais, muitas delas partilhadas com outras e outros seus concidadãos e concidadãs, e acaba criando novos mundos-momentos a cada viagem, concerto ou trabalho publicado. Tem editado e actuado com cada vez maior regularidade, mesmo depois da desfeita que Viena nos fez quando a raptou de nós. Primeira actuação desta recém expatriada depois da facada.
Mais informações em http://www.outfest.pt
Tiago Félix + Cachupa Mob + Xwindows95X vs DJ BreaKeven
A abrir a noite, Tiago Félix, novo valor da canção artesanal em Português. De Alcobaça, com aquela estranheza familiar dos confessionais crípticos, tem dois discos editados no seu bandcamp, sendo o mais recente produzido com Leonardo Bindilatti. Os seus temas de baixa fidelidade e alta sensibilidade poética, essencialmente em voz e teclas arranjado, fascinam forte e feio, é só a hora de o ver ao vivo.
Também no programa temos música com mais gente com micros com a Cachupa Mob, um colectivo desta e doutra margem que reune criativos à volta da Cachupa Records (“Gravamos aquilo que mais ninguém quis gravar” atiram). Tão embalados a trabalharem no legado que lhes chegou e sai natural - DIY das culturas punk, hip hop, skate - de cabeça no nosso presente turbulento e desmaterializado com ganas, insolência, tédio e frescura pra prestar atenção. Gilson x Lobo x Mean Will x Genes no Lounge, tipo XXL Freshmen cypher, Outono 2017.
Djs do resto do serão serão - kkk - a espanhola Aix/Glitch Girl ao desafio com o nosso Sar, ou seja, Xwindows95X vs DJ BreaKeven.
Poster por Pedro Lourenço.
Tiago Félix - https://tiagofelix.bandcamp.com
Cachupa Records - https://www.youtube.com/channel/UC3Gon9hLbwSMXjsO9i_mbcQ
Genes - https://genesadn.bandcamp.com/album/pessoas
Mean Will - https://www.youtube.com/channel/UCGf0nrd8V8tN4XCyhOKJY6g
Lobo - https://twitter.com/lobo23OG
Gilson - https://youtu.be/B7Z8NbtiS2U
NOITE PRÍNCIPE c/ Blacksea Não Maya, DJ Marfox, DJ Maboku
“Outubro quente traz o diabo no ventre.”
Blacksea Não Maya - https://soundcloud.com/black-ea-n-o-maya
DJ Marfox - https://soundcloud.com/dj-marfox
DJ Maboku - https://youtu.be/ggjQ2BxK9Ok
Poster por Márcio Matos.
Doum + Sanitary (t)issues + G Fema + Telma
Na Noite de Novembro abrimos com o regresso de Doum, que nos traz material novo e à frente, na senda do seu código rastafari PALOP > CUF. Relembramos, Doum é Mohamed Paquete, do Barreiro, talentoso orquestrador de software dancehall caseiro e comprimido que interpreta de uma forma tão colorida que já é reconhecido à distância após algum convívio com a sua música di locks.
Seguir-se-á Sanitary (t)issues, Norueguesa via Londres via Amsterdão, agora a viver em Lisboa, com a sua música onda minimal e benzodiazepinada, entediada pela normalização da vigilância no nosso quotidiano actual e sem respostas pra como reduzir as pegadas de informação que deixamos pra colecta pelos gigantes da tecnologia, que soa bem certa ao fumador moderno.
Os concertos terminam com G Fema, doce e feroz rapper da Zona M, Chelas, activa no rap street tuga rimando em criolo sampadjudo há mais de uma década. Prima de Beto di Ghetto que a apoiou e orientou nos primeiros passos, tem mostrado a sua música ao longo dos anos essencialmente no Youtube, da mixtape já longínqua “Reviravolta” a vários vídeos realizados. Versa sobre a realidade do bairro, da violência doméstica entre quatro paredes às rusgas policias no espaço público, com sentimento, garra e carisma, como vimos no último Zona Não Vigiada, só precisa é de produtores há sua altura.
Telma pega no assunto Dj dali em diante, até ao Lounge fechar, no bater das 4.
Doum bandcamp - https://doum1.bandcamp.com
Sanitary (t)issues soundcloud - https://soundcloud.com/sanitary-t
Telma Surf n’ Turf #6 na Rádio Quântica - https://www.mixcloud.com/quanticaonline/surf-n-turf-6-by-telma-21-09-2017
NOITE PRÍNCIPE c/ DJ Nervoso, Niagara, Nídia, Puto Márcio
“Se em Novembro houver trovão, o ano seguinte serão bão.”
DJ Nervoso - https://soundcloud.com/dj-nervoso
Niagara - https://soundcloud.com/niagara-1
Nídia - https://soundcloud.com/nidiasukulbembe
Puto Márcio - https://soundcloud.com/putomarcio
Poster por Márcio Matos.
Putas Bêbadas apresentam “Orgulho de Ex-Buds” 1ª parte combate de muay thai Francisco Ferraz vs José Carneiro
Quatro anos após o opus Jovem Excelso Happy (anunciado como clássico instantâneo por sommeliers certificados como Julian Cope, Doug Mosurock ou Brian Turner), concertos escassos mas intensos e azares de estúdio, os portadores da tocha que alumia e desvenda o caminho do novo rock estão de volta. Gravado em Lisboa ao longo de três anos, "Orgulho de Ex-Buds" explode em tons de vontade, glória e proficiência, e apresenta aos ouvintes uma imagem clara das forças necessárias para corrigir os erros dos anos 00 e empurrando-as para a frente, ofuscando, como um temível clarão que estoura na bruma nocturna.
Embora haja uma sensação de familiaridade ao longo do disco, esse perpassa-a através dum instinto pynchonesco. Passando de Chrome para Crom e acelerando pelos Sightings e Brainbombs ao mesmo tempo que canta melodias que poderiam igualmente ser tiradas do cancioneiro punk / hardcore português ou mixtapes de Trap de Atlanta (sem esquecer o lirismo arquetípico Cafetra Records), com uma entrega assente na frescura excêntrica que da banda se conhece. Coros de auto-tune desbravando um mato feroz de insanidade tarola-pratos, guitarras construindo paredes para as derrubar e linhas de baixo que sabem exatamente o caminho a seguir. Tudo isso, mantendo a tradição do álbum anterior em narrar o diário doce, ébrio e azedo, às vezes esperançoso, às vezes sem esperança, do ser mais subversivo a habitar numa qualquer mente.
A voz ocupa agora um papel mais central; a cada tema a letra mede o ritmo orgânico e retorcido da mistura. Enquanto à superfície os temas e maneirismos podem lembrar as tradições de Råberg, Lifeless ou até Putnam, “Orgulho de Ex-Buds” está mais próximo dos pilares literários da língua em que cantam, erguidos por Luiz Pacheco ou Alberto Pimenta; expressam uma generosa dose de controlo confiante, sagazmente derramada na lascívia menos oportuna, com um fundo humanista.
Todo o álbum é cheio de ação, rápido e libertador, com destaque para todas as músicas: O LP abre escaldante com a "Geme" definindo o tom; o conto anabolizante e cerebral não-pc, mas dançante da "Proteina"; a gratificante estrutura temporal da "Gorduchinha"; O hino "Fada deste lar" com uma das introduções mais catchy deste lado da interseção de ruído x rock ("cona e cu aberto / é corrente de ar / tira a cuequinha / deixa a peida a refrescar"); o ladrão de jóias perdido em cantos de amor na "Jóia"; ode aos oásis perdidos e encontrados de Lisboa em "Cruzeiro de Velhos"; o existencialismo ginecológico hipnotizante de "Cona da Mãe"; e o final, onde a unicidade etílica e os enigmas e sortes do universo se encontram, "Camões". Fundamental. Cafetra Records, 2017
Poster por Maria Reis.
"Orgulho de Ex-Buds" (2017, Cafetra Records/8mm, LP/Digital) - https://cafetrarecords.bandcamp.com/album/orgulho-de-ex-buds
Banda Equador + DJ Wivian Vithers
Acenamos com ternura o adeus às noites Filho Único no Lounge em 2017 com a Banda Equador, maravilhosa formação de São Tomé e Príncipe no activo por cá por esta altura. Aquela rumba são tomense, como os África Negra escreveram o livro, revigorada com as novas formas que tomam as bênçãos e maleitas de hoje em dia. A gente em palco chega a ser uma dezena, mas para a sala de estar comunal do Lounge aprumar-se-ão pra metade pra nos oferecer uma viagem iridescente por aquele som leve leve eterno.
O Dj set da noite fica a cargo de Wivian Vithers.
10 Anos da Filho Único
Uma celebração com
BAR TARDE (18h – 20h30):
Primeira Dama
Vitor da Discolecção - DJ Set pela noite dentro
CHURRASCO À PALA
SALÃO NOITE (21h – 01h):
Panda Bear
Tropa Macaca + Vaiapraia
Ibrahima Galissa + Gabriel Ferrandini
Éme + Maria + Lourenço Crespo + Sallim + Moxila + B Fachada
Gala Drop + Lula Pena + Maio Coopé + Niagara + Norberto Lobo + Tó Trips
Poster por Márcio Matos
Bilhetes a 6€ em pré-venda na loja Flur e no Polo Cultural Gaivotas Boavista e disponíveis na noite no local
SFUCO (SOCIEDADE FILARMÓNICA UNIÃO E CAPRICHO OLIVALENSE)
R. Alferes Santos Sasso 26, 1800-009 Lisboa
AUTOCARROS : 731, 744, 783, 759, 708
METRO : Encarnação (10mn a pé) ou Olivais (15mn a pé)
NOITE PRÍNCIPE c/ DJ Lilocox, DJ Firmeza, DJ Nigga Fox, Firma do Txiga
“Dezembro ou seca as fontes ou levanta as pontes.”
DJ Lilocox - https://soundcloud.com/deejay-lilocox
DJ Firmeza - https://soundcloud.com/dj-firmeza
DJ Nigga Fox - https://soundcloud.com/dj-nigga-fox-lx-monke
Firma do Txiga - https://soundcloud.com/firma-do-txiga
Poster por Márcio Matos.
ESPÍRITO SANTO c/ De Los Miedos, Nídia, Solution
Antecipamos a passagem de ano para o início do último final de semana do ano com
De Los Miedos
Nídia
SOLUTION
Pré-venda 5€ c/direito a uma bebida - https://ticketline.sapo.pt/evento/espirito-santo-lontra-ano-bom-22875
Na noite n'A Lontra 10€ c/direito a uma bebida