Contrafogos
Contrafogos é um programa de comissões de criação e apresentação para visita pública, em contexto instalativo, de música desenvolvida com recurso à tecnologia de formato de som surround de esfera completa, ou seja, cobrindo fontes sonoras acima e abaixo do ouvinte, conhecida como Ambisonics.
Foram encomendadas peças a artistas nacionais e residentes das áreas da música electrónica como a ambiental e de dança, e dos campos do jazz e do psicadelismo; Joana da Conceição, Nídia, Sei Miguel e Sonic Boom.
Associado está também o trabalho da matéria leve, um projeto de formação em iluminação cénica coordenado por Leticia Skrycky, direcionado a mulheres cisgénero, pessoas não binárias e transgénero.
O tema proposto é o da Transfiguração. “Between Earth and outer space there’s a passage whose transgression brings transfiguration.” Etel Adnam, em “Sea and Fog”.
O propósito é o de encantar, promover sensitivação, neuronal, física, sensualista, mobilizar o público para a proposta estética e intervenção artística na Sala Mário Viegas do Teatro São Luiz.
Poster por Mariana Rosa.
Contrafogos
Instalação sonora imersiva 3D
peças de Joana da Conceição, Nídia, Sei Miguel, Sonic Boom
* desenho de Iluminação pela matéria leve
criação: Gabriela Clavería e Ana Luisa Novais
acompanhamento e mentoria: Leticia Skrycky *
21 a 24 de Abril
Visita livre das 17h às 21h
Sala Mário Viegas, São Luiz Teatro Municipal
Esta iniciativa é uma co-produção da Filho Único com o Teatro São Luiz e o Lisboa Incomum com o apoio da República Portuguesa - Ministério da Cultura / DGArtes
Mais informações em https://www.teatrosaoluiz.pt/espetaculo/contrafogos
Joana da Conceição
Nídia
Sei Miguel
Sonic Boom
matéria leve
Visita Livre das 17h às 21h
SACODE POEIRA : concertos de Djonsaba Kanuté + Mindelo + Pedrinho Xalé
Agora radicada em Portugal, Djonsaba Kanutê vem de Bafatá, cidade a leste da Guiné-Bissau, capital da região com o mesmo nome e também berço de Amílcar Cabral. Nasceu no seio de uma família de músicos griot – ambos os pais e a avó eram músicos – e recorda-se de existir música na sua vida praticamente desde a primeira infância, quando os pequenos trabalhos domésticos que ia fazendo eram sempre acompanhados pela voz, que rapidamente se tornou e continua a ser o seu principal instrumento. Canta sobretudo em dialeto mandinga, o mais comum em outros países circundantes da África Ocidental, como Mali, Senegal e Gâmbia, mas também em sarakolé, bambara ou fula. Faz-se acompanhar de músicos estabelecidos como Mbye Ebrima (natural da Gâmbia), colaborador de Moullinex e Selma Uamusse, entre outros; o seu sobrinho Aladje; e o baterista Tony, que acompanhou os Tabanka Djaz, Irmãos Verdade e Yuri da Cunha. Tony conhece Djonsaba desde jovem, quando ambos fizeram parte da família Kanutê Kunda, que acompanhava o então presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, nas suas incursões diplomáticas pelo país e pelo mundo, e que acolheu e formou muitos dos mais ilustres músicos da Guiné-Bissau.
Foto por Rafael de Oliveira
Desde os saudosos tempos dos MV4 no Bar do Rock na Cova da Moura até aos Leguelá na Barriga do Avião em Camarate, que existe um grupo de bandas de São Tomé e Príncipe que tocam para a sua comunidade todos os fins de semana. É difícil encontrar tamanha manifestação de musicalidade colectiva nos circuitos ditos mais underground da grande Lisboa, que no centro da cidade pura e simplesmente se foram extinguindo. Várias bandas são tomenses como essas acima referidas ou o Conjunto Equador, criadas por expats da ilha do cacau, têm vindo a perpetuar o contínuo do puxa e rumba são tomenses tornados famosos pelos África Negra ou Sangazuza, quer com versões desses artistas, quer com um vasto repertório original. Os Mindelo surgem em 2025, das cinzas dessas bandas, encabeçados pelo jovem Bill Lima, uma espécie de figura omnipresente deste circuito, que conseguiu reunir vários tocadores como o recém chegado a Portugal, Pacheku, prodígio com perícia ao nível do Jimi Hendrix mas na guitarra baixo, que abrilhantou os África Negra até à banda se desmembrar em meados de 80 numa tour que fizeram em Cabo-Verde, onde viveu até se mudar para cá.
Foto por Rafael de Oliveira
Depois do período áureo do conjunto Voz de Cabo Verde, é costume louvar-se aos anos 70 a chegada incontornável d’Os Tubarões, seguida da invenção decisiva do funaná atribuída aos Bulimundo. Pedrinho Xalé emigrou da ilha de Santiago para Lisboa aos 18 anos, um ano antes da revolução. Co-fundou os Afrika Star, cujo primeiro álbum “Câ Nhôs Dam Gravata” saiu em ‘76, mesmo ano do marcante “Pépé Lopi” d’Os Tubarões. Tomando para si os teclados - órgãos e sintetizadores - e voz, grava o seu álbum a solo "Aleluia" nos Estúdios Valentim de Carvalho, que sai em ‘79 na Dó Lá Si Discos. Na década seguinte produziu mais dois álbuns: "Nhõs Dêxa De Conta Mentira" e "Nhõs No Dêxa de Estupidês", com a editora Iefe, da Rua de São Bento. Pedrinho revelou-se um compositor, orquestrador e instrumentista fulgurante, mesclando livremente música popular cabo-verdiana com tendências frescas da cultura reggae e pop anglo-saxónica. Aliando a persistência organizacional ao talento na escrita e interpretação auto-suficientes, foram anos frutíferos de concertos e engajamento comunitário. Pedrinho viveu depois cerca de 15 anos longe da atividade musical, para regressar ao estúdio em 1998. Desde então, toca em bares de Lisboa e arredores aos fins de semana. Pedrinho é um dos artistas que aparecem em duas compilações que resgatam a produção musical cabo-verdiana futurista aos ouvidos internacionais: “Synthesize The Soul (Astro-Atlantic Hypnotica From The Cape Verde Islands 1973-1988)”, de 2017 pela editora norte-americana Ostinato Records, e “Space Echo – The Mystery Behind The Cosmic Sound Of Cabo Verde Finally Revealed”, pela Analog Africa, do Reino Unido.
Foto por Rafael de Oliveira
SEXTA-FEIRA, 9 de Maio
19h30 Djonsaba Kanouté
21h30 Mindelo
23h Pedrinho Xalé
SACODE POEIRA : conversa com Alcides Nascimento, Ana José Charrua e Chalo Correia, moderação por Nael D'Almeida | concertos de Ninho Anguené e Amigos + Jorge Rosa & Kambanda + Silvino Branca
Angolares é um povo (e reino que teve uma curta duração nos 1500’s) formado por descendentes dos primeiros contingentes de escravos negros originários de Angola que, depois de desembarcarem em São Tomé e de se fixarem nas plantações e nos engenhos de açúcar, se refugiaram nas matas iindo em busca da liberdade; tendo trazido consigo a sua própria lingua. Nascido em Setembro de 69, em São João de Angolares, zona Sul da ilha, filho desse mesmo povo, Ninho começou a cantar com 11 anos. Deu nas vistas quando uma banda do quartel o encontrou numa captação na sua terra à procura dum jovem cantor. Juntando-se aos seus colegas Zé Luís, recentemente vindo de Cuba , Nezó e Odé, criaram o Conjunto Anguené, que em dialeto quer dizer exatamente o mesmo que Angolar. Já com 35 anos de carreira, embora inicialmente tenham sido vistos com desconfiança pelo uso de um dialeto que não era o dominante, tornaram-se um nome seguro da música São Tomense. O seu estilo é muito diferente dos restantes idiomas da ilha, baseados em guitarras acústicas e voz, uma espécie de folk tropical que contempla o oceano atlântico na baía do Equador com uma cerveja na mão. O triunfante duo Calema, também eles descendentes de angolares, que cresceram assistindo aos ensaios de Anguené, fizeram em 2024 no disco “Viagem” uma parceria de composição com Ninho.
Foto por Rafael de Oliveira
Sobrinho do marcante cantor angolano Sofia Rosa, Jorge Rosa juntou-se a Chiemba, Mick Trovoada, Gildo, Nanuto e Carlos Pereira que são os Kambanda. Já amigos e colaboradores de Luanda, tiveram grupos juntos; e voltaram-se a reunir em Portugal há cerca de 2 anos “como músicos e como amigos”. “Música angolana que parte da sua raiz e na sua extensão popular, o nosso chão, o nosso berço, o nosso princípio.”, ao lado de outros angolanos radicados em Portugal tal como Chalo Correia ou Bonga. Têm tocado no Braço de Prata e na Moita, Odivelas e um pouco por toda a Grande Lisboa . A música que tocam é um contínuo do Semba, e a tradição tal como escrita por Teta Lando, Mário Rui Silva, e pretendem levá-la pelo mundo fora. “Concretamente KamBanda é : Kamba (amigo) em Kimbundu + Banda (conjunto, banda de música) , e também Banda (angola a terra ) “CRIATIVIDADE baseada em Sentimento Natural e Espontâneo . INTUIÇÃO”
Foto por Rafael de Oliveira
Silvino Branca é da Cidade da Praia, Ilha de Santiago, Cabo-Verde e um dos maiores representantes do fértil panorama de kotxi pó, variação frenética e super dançante do funaná, que existe hoje na periferia lisboeta, longe dos holofotes e multidão de público. Autodidata desde os 7 anos de idade, foi aprendendo observando o seu pai, que tinha ido adolescente para São Tomé e Príncipe trabalhar nas roças e lá foi introduzido à concertina pelos portugueses. Já de volta a Cabo-Verde, foi levando o pequeno Silvino para o acompanhar em casamentos, batizados, fins-de-semana em festas populares, e na igreja. Mais tarde, depois de se mudar para Lisboa, criou uma banda com a parceira de vida Maria das Dores no ferro e Cacá no baixo elétrico, que já o acompanhava desde Cabo-Verde. Depois de editarem o seu primeiro CD, têm tocado por Holanda, Bélgica, Espanha, Luxemburgo, assim como regularmente por cafés e discotecas da grande Lisboa, na Boba, na Amadora até à margem sul.
Foto por Rafael de Oliveira
SÁBADO, 10 de Maio
17h30 conversa com Alcides Nascimento, Ana José Charrua e Chalo Correia, moderação por Nael D'Almeida
19h30 Ninho Anguené e Amigos
21h30 Jorge Rosa & Kambanda
23h Silvino Branca
SACODE POEIRA : projeção do filme "La Haine" (uma escolha de Kiluanje Liberdade) | concertos de Bulauê Relikia + Maria Alice
Bulauê é um grupo cultural de música e dança São-tomense baseado em voz e tambores construídos pelos próprios intervenientes que tocam um estilo de música chamado terra terra. As actuações podem acontecer em festas ocasionais, religiosas, ou então espontaneamente acompanhado de comida e bebida e que juntam por norma muita gente (os músicos podem chegar a 20 facilmente), dando lugar a um acontecimento social de grande relevo na vida quotidiana são-tomense. Em Lisboa, depois de várias experiências deste fenómeno terem tido uma existência breve, o Bulauê Relikia surgiu como um novo grupo, que reúne tocadores desses outros que entretanto desapareceram, e neste momento é o único em existência. Comparável talvez às origens do rap, as letras do Bulauê são manifestações espontâneas que falam de aspectos do dia-a-dia e de acontecimentos do bairro, em dialeto são-tomense (Forro) sobretudo mas também em português. Cada instrumento tem o seu toque; baixa (“marca o tempo”), baixo (faz a melodia de viola baixo ou “réplica”), jaz (“bumbum”), tambor segundo (que se toca como um viola ritmo), axe (que se tocam com pau), tarola (percussão), chocalhos (vários, ao mesmo tempo, de formas diferentes), castanhola (complemento) e gaita (para acompanhar a melodia das vozes).
Foto por Rafael de Oliveira
Intérprete que se tornou reconhecida pela sua voz aguda e límpida, Maria Alice é uma rainha inimitável das mornas e coladeras que fazem o ambiente das noites cabo-verdianas em que começou mas que já vinham de longe, já que, filha e neta de músicos de cordas que tocavam informalmente em casa, começara a cantar muito cedo. Ainda na ilha do Sal onde nasceu, quando adolescente participou em concursos de novos talentos. Emigrou para Portugal em 1982 e, por volta de 1990, trabalhava como empregada doméstica em Lisboa. Sua patroa, que conhecia Tito Paris, achando que ela cantava bem – “porque eu passava a vida a cantar, enquanto trabalhava”, conta em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens –, levou Tito à casa para conhecer a jovem. A partir daí, Maria Alice começou a frequentar as noites cabo-verdianas que havia às sextas-feiras no Montecara, restaurante e discoteca de Bana. Pouco tempo depois, passou a atuar no Ritz Club, espaço incontornável da música africana (e em particular cabo-verdiana) em Lisboa no início dos anos 1990. “Mas começo a cantar mesmo a sério em 1992, numa das despedidas do Bana, que Paulino Vieira estava a organizar. Morgadinho não podia vir a Lisboa para os ensaios, era preciso uma voz feminina para um dueto que ele tinha preparado.” Em disco, Maria Alice estreia-se a cantar em dois temas no disco “Tudo ta Volta”, de Pedro Cardoso (Pedrinho d’Nova). O infinitamente formoso “Ilha d’Sal” é o seu primeiro álbum, de 1993, produzido por Júlio Silva, selo Ovação, seguindo-se “D’zencontre”, produzido por Toy Vieira, gravado em 1996 e lançado pela Lusafrica. O disco mais recente é “Tocatina” de 2011. Para além de Portugal e Cabo Verde, apresentou-se em concertos e festivais em muitos países europeus, nos Estados Unidos, em Moscovo com Cesária Évora, nas Expo 94 (Sevilha), Expo 98 (Lisboa) e Expo 2010 (Shanghai) e participou em Inglaterra na tournée "Women of Cape Verde", com Lura e Nancy Vieira.
Foto por Rafael de Oliveira
DOMINGO, 11 de Maio
15h projeção do filme "La Haine" (uma escolha de Kiluanje Liberdade)
17h Bulauê Relikia
18h30 Maria Alice
DJ Danifox + Maribell + Pekodjinn
Danifox é um produtor e vocalista de música electrónica afro-portuguesa recentemente retornado à Linha de Sintra depois de uma temporada emigrado em Leeds, membro da crew Tia Maria Produções. O seu celebrado álbum de estreia “Ansiedade” na Príncipe data de 2023, ano em que co-fundou também o grupo O Ghettão.
De Lobito, Benguela para o mundo, Maribell é criadora de atmosferas sonoras que atravessam fronteiras e celebram a diversidade. Mistura ritmos de várias diásporas africanas, como afro-house, batida e gqom em conexão com baile funk e o seus sub-géneros, criando sets dinâmicos que conectam culturas e fazem os pés mexer.
Jovem produtor e DJ sediado em Genebra, Pekodjinn produz uma música singular, entre géneros e fronteiras, a que chama "afromaghreb". As suas produções e DJ sets são um carrossel de percussaõ, vigorosas, em que Pekodjinn associa influências das suas raízes tunisinas e da cultura dos clubes underground europeus.
Mais informações em https://www.goethe.de/ins/pt/pt/kul/sup/kft/rty.html
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